Edição 176
Raymundo Magliano Filho – presidente da Bovespa – Bolsa de
Valores de São Paulo
Em mais de um século de existência, a Bolsa de Valores de São Paulo
(Bovespa) passou por várias transformações, sempre buscando adaptar-
se e, muitas vezes, antecipar-se da melhor maneira possível às novas
realidades. Tanto a Bovespa quanto a economia brasileira têm avançado
muito nos últimos anos. Essa evolução acontece no campo
macroeconômico, no fortalecimento das instituições, no aprimoramento da
legislação e nos ganhos de competitividade das empresas, que se
refletem no nosso mercado de capitais. Tais avanços já apontam para a
passagem do Brasil a grau de investimento nos próximos anos, o que
deverá trazer uma nova onda de recursos para as empresas e fundos que
confiam no desempenho do nosso país.
Esse cenário positivo se reflete claramente no desempenho das empresas
listadas na Bovespa. Segundo estudo da consultoria Economática, as
receitas das companhias abertas cresceram nos últimos anos em ritmo
muito superior ao desempenho do Produto Interno Bruto (PIB). O ano de
2006 foi excelente para o mercado de capitais brasileiro. Até o início de
dezembro, a Bolsa registrou 24 ofertas públicas iniciais de ações, que
somaram mais de R$ 13 bilhões.
As perspectivas para os próximos anos são positivas. Nós, da Bovespa,
acreditamos que boas oportunidades continuarão surgindo para todos os
participantes do mercado de capitais brasileiros. Mercado esse que tem
evoluído sob bases sólidas, ancoradas em pilares como governança
corporativa, popularização e educação.
Implantado oficialmente no final de 2001, os níveis diferenciados de
governança corporativa da Bovespa são considerados um modelo a ser
seguido por muitos países, sobretudo os emergentes. Juntos, os três
segmentos – Novo Mercado, Nível 1 e Nível 2 de Governança Corporativa –
somam atualmente 92 empresas listadas. Elogiado por organismos como
o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Novo Mercado
já reúne 42 companhias, todas elas comprometidas com os mais altos
padrões de transparência, respeito aos investidores e garantias aos
minoritários, como o direito ao prêmio em caso de venda do controle (o
chamado tag along).
Para 2007, esperamos que o mercado de capitais deva aprofundar seu
atual ciclo de amadurecimento, com novas empresas listadas e um maior
crescimento do volume negociado, dadas as boas condições
macroeconômicas experimentadas pelo país. São perspectivas que nos
animam a prosseguir com o nosso projeto de popularização do mercado,
o “Bovespa Vai Até Você”. Desde a sua criação, em agosto de 2002, nosso
programa tem levado informações sobre a Bolsa para os quatro cantos do
país. Visitamos ao longo desse período fábricas, universidades, escolas,
empresas, shopping centers, praias, capitais e cidades do interior. No
total, atendemos a um público de mais de 350 mil pessoas, dos quais
muitos se tornaram acionistas – seja individualmente, como pessoa física,
ou por meio dos clubes de investimento em ações.
A transformação da Bovespa em uma bolsa aberta, acessível, democrática
e popular permanece como um dos nossos objetivos para o novo ano.
Para isso, continuaremos investindo em educação. Um exemplo dessa
estratégia é o Projeto Educar, desenvolvido para transmitir noções de
planejamento econômico e de finanças pessoais por meio de cursos,
palestras e seminários gratuitos. Criado no início de 2006, o Projeto
Educar recebeu mais de 72 mil inscrições no seu primeiro ano de
funcionamento e firmou importantes parcerias com instituições como a
Fundação Bradesco, capazes de ajudar na sua expansão para todas as
regiões do país.
Nossa missão educacional agora será reforçada com duas novas e
poderosas ferramentas: o Espaço Bovespa e o Projeto Desafio. Criado no
local onde funcionava o antigo pregão, no andar térreo do nosso edifício
sede, no centro de São Paulo, o Espaço Bovespa é o novo centro de
visitação pública da Bolsa de Valores. Aberto diariamente, das 9h às 17h,
inclusive durante os finais de semana, o Espaço Bovespa recebe a visita
de cidadãos interessados em conhecer mais sobre o funcionamento do
mercado de ações. Sob a orientação de ex-operadores de pregão, os
visitantes podem aprimorar seus conhecimentos, conhecer nosso centro de
memória e também assistir a uma simulação de uma operação de compra
e venda de ações.
Já o Desafio Bovespa é um simulado de ações voltado para estudantes do
ensino médio. Tal iniciativa consiste numa forma dinâmica de disseminar
os conceitos do mercado de capitais entre o público jovem, unindo a
teoria, por meio de cursos e palestras, com a prática, que ocorre com as
simulações. Em sua primeira edição, realizada neste ano, o Desafio
Bovespa reuniu um total de cerca de 1.000 pessoas, entre estudantes,
professores e familiares de 90 escolas da cidade de São Paulo. Para o ano
que vem, o programa deverá ser ampliado para outras cidades do interior.
Juntamente com o Espaço Bovespa e o Projeto Educar, o Desafio também
deverá ter um papel muito relevante no próximo ano.
Como a casa do mercado de capitais brasileiro, a Bovespa acredita em um
modelo de desenvolvimento sustentado. Para isso, temos atuado em prol
da inclusão social e em defesa da responsabilidade ambiental no País.
Fomos a segunda bolsa de valores do mundo a ter um índice de
sustentabilidade. Nosso Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE)
reúne ações de 34 empresas e segue o conceito internacional do Triple
Botton Line que avalia, de forma integrada, elementos ambientais, sociais
e econômico-financeiros, acrescidos de indicadores de governança
corporativa, características gerais e natureza dos produtos.
Também nos preocupamos em divulgar as ações de responsabilidade
social promovidas no âmbito das companhias abertas. Para isso,
lançamos o site Em Boa Companhia, que dá ainda mais transparência e
visibilidade a esses projetos que contribuem para a melhoria do nosso
país. Desde a sua inauguração, o Em Boa Companhia já recebeu a adesão
de 26 empresas e é um sucesso de público – teve 46 000 acessos no mês
de novembro.
Entretanto, a gritante exclusão social e econômica que tanto aflige uma
parte considerável de nossa população exige cada vez mais ações de
nossas empresas e da nossa sociedade. Basta lançar um olhar em nosso
entorno para entender as razões desse apelo. Aí estão os efeitos
dramáticos de uma persistente e irresponsável agressão ao meio
ambiente, em escala mundial, que coloca em risco o patrimônio natural –
bem maior que deveríamos legar às futuras gerações.
Como empresários, cidadãos e agentes de mercado, precisamos repensar
todo o nosso desenvolvimento sob a ótica da sustentabilidade. Empresas
devem começar a exigir que toda a sua rede de fornecedores também
assuma a responsabilidade de preservar e defender esses mesmos
princípios. Não podemos mais aceitar processos produtivos predatórios,
que prejudicam o meio ambiente e a sobrevivência de toda a humanidade.
Estamos vivendo em plena Era do Conhecimento. Precisamos usar a
ciência, o saber e a tecnologia para garantir que o nosso futuro seja
melhor que o nosso presente, sem cometermos os mesmos erros do
passado. O mercado de capitais tem todas as condições de ser um
mecanismo eficiente da promoção e da valorização da tão sonhada
sustentabilidade.
A Bovespa tem consciência do papel preponderante que desempenha nos
mercados brasileiro e latino-americano. Por isso, uma de nossas metas
para 2007 será liderar essas discussões sobre nossas responsabilidades
sócio-ambientais. Com a participação e a colaboração de todos,
conseguiremos dar um passo significativo rumo à preservação do nosso
planeta e do nosso bem maior: a vida.