Edição 176
Wilson Risolia – vice-presidente de investimentos da Caixa
O ano de 2006 foi um período de desafios para a indústria de fundos, que
mais do que nunca deve buscar alternativas para continuar competitiva e
manter seu papel como fonte de financiamento para os diversos setores
da economia, além de ser importante instrumento de indução ao
desenvolvimento e formadora de poupança.
A indústria de fundos conta com um patrimônio líquido de R$ 900 bilhões
e mais de 10 milhões de cotistas, até novembro de 2006 – dados da
Associação Nacional dos Bancos de Investimento (ANBID). Para mantê-la
em constante desenvolvimento, os gestores devem estar atentos aos
movimentos do mercado financeiro, buscando antecipar-se aos
acontecimentos.
Basicamente, os fundos financiam tanto a dívida pública, quanto a dívida
privada, em um ambiente onde o governo e outros tomadores competem
por crédito, já que necessitam financiar seus compromissos financeiros.
Atualmente, a maior parte do patrimônio líquido da indústria de fundos
está alocada em títulos públicos pós-fixados (LFT – Letras Financeiras do
Tesouro Nacional). Entretanto, já é claramente perceptível que o governo
tem priorizado o alongamento da dívida em um segmento pré-fixado,
demonstrando que a direção seguida até o momento deve ser mantida.
Acreditamos que esta proporção deve mudar gradativamente em um ritmo
compatível com a percepção de risco por parte dos agentes financiadores
da dívida pública. Já é possível verificar mudanças neste sentido, o que
requer capacidade de adaptação. Premissas importantes, tanto no
ambiente interno quanto no cenário externo, permitem afirmar que o ano
de 2007 deve marcar a continuidade do crescimento da indústria de
fundos. No âmbito interno, esperamos a continuidade da performance da
economia verificada em 2006, com o Banco Central dando seqüência ao
processo de redução da taxa básica de juros; crescimento do Produto
Interno Bruto um pouco maior do que verificado em 2006, mas ainda não
superior a 3,5%; inflação dentro da meta do Conselho Monetário Nacional,
de 4,50%.
Outro fator positivo deve ser a condição de investment grade que o Brasil
deve obter dentro dos próximos anos, uma vez que a melhor avaliação
por parte dos agentes internacionais aos nossos papéis de dívida,
tornando-os mais acessíveis e baratos, atraindo um maior número de
investidores estrangeiros para o país. No âmbito externo, prevemos um
ambiente favorável ao financiamento, com pouca volatilidade na taxa de
câmbio. Para isto, partimos da avaliação de que a economia mundial
apresentará taxas de crescimento elevadas para os próximos anos, onde
países em desenvolvimento apresentam bom desempenho, com destaque
para China e Índia e, nos Estados Unidos, a convergência da inflação para
níveis aceitáveis pelo Federal Reserve (Banco Central Norte-Americano) e
conseqüente queda nas taxas dos Fed Funds (juros americanos).
Diante desse cenário e da relativa solidez apresentada pelos fundamentos
da economia nacional, para o mercado de juros, acreditamos que a taxa
de juros real encerre 2007 em torno de 8%, o menor valor histórico já
registrado.
Em relação ao câmbio, esperamos que a moeda norte-americana siga em
2007 com baixa volatilidade, se estabilizando próximo ao seu patamar
atual. Ancorada, pelos saldos positivos da balança comercial e pelo
ingresso de investimentos estrangeiros, não devemos esperar grande
desvalorização da moeda nacional.
Já para o mercado acionário, nossa expectativa é de continuidade do
fortalecimento desse segmento de grande importância para o
desenvolvimento do país. Com a perspectiva de queda dos juros, a
tendência é de que haja uma atração por ativos de risco maior como
ações, commodities e derivativos.
Diante deste cenário, abrem-se janelas para a indústria de fundos, onde
já é possível vislumbrar mudanças importantes para os próximos anos
que, na verdade, já se iniciaram em 2006. Acompanhando a queda da
taxa dos juros, que era de 18,25% em janeiro de 2005 e chegou a
13,25% ao final de 2006, ocorreu uma migração de recursos dos fundos
de renda fixa para os fundos multimercados. Segundo a ANBID, os fundos
multimercados, que apresentaram forte saída de recursos em 2005 (- R$
68,3 bilhões), foram os fundos que mais captaram em 2006, até
novembro (R$ 47,8 bilhões).
Os fundos de ações devem merecer especial atenção, já que ficaram entre
aqueles que apresentaram maior evolução em termos de captação: se
somarmos o valor captado por estes fundos em 2004 e 2005, a captação
líquida foi negativa em R$ 2,22 bilhões, enquanto que em 2006, até
novembro, o saldo positivo foi de R$ 5,40 bilhões. Associado ao
crescimento em termos de captação, esta categoria tem apresentado um
expressivo crescimento na quantidade de produtos disponíveis, voltados
para os mais variados perfis de cotistas.
Os fundos de previdência devem apresentar crescente participação na
indústria de fundos. Como já presenciado em outros países que passaram
por um processo de convergência semelhante ao caso brasileiro, é
importante considerar que o efeito renda gerado em favor dos agentes
atua como um fator que aumenta a capacidade de poupança nos
próximos anos, que aliada ao crescimento do número de pessoas
preocupadas em manter o padrão de vida após a aposentadoria, deve ser
fundamental para o desempenho pelos fundos de previdência.
Em relação às categorias apresentadas, deve ser considerada a tendência
de mudança no perfil dos seus ativos. Quando observamos o cenário para
2007, com os indicadores internos e externos induzindo a uma maior
estabilidade, fica clara a necessidade de mudança do perfil das carteiras
para se manter a atratividade dos fundos, e isto passa pela criação de
produtos mais agressivos.
A partir destas considerações, vislumbramos que, para os próximos anos,
os juros mais baixos devem aquecer o mercado de crédito e o mercado
imobiliário e, conseqüentemente, os mercados de recebíveis de crédito e
recebíveis imobiliários; novos projetos de investimento em setores como
os de infra-estrutura e saneamento, já viáveis, tornam-se ainda mais
atraentes propiciando a criação de fundos relacionados a estes setores; os
fundos de Renda Fixa, DI e Curto Prazo devem perder gradativamente
participação ao longo do tempo; os investidores e gestores livram-se da
cultura do CDI e passam a acompanhar indicadores de performance
adequados aos seus objetivos de investimento; deve ocorrer a ampliação
dos limites para alocação em ativos privados dentro das categorias de
renda fixa e DI; busca por maiores retornos, com isto, parte dos
investidores abre mão da liquidez e passa a aplicar em fundos com
carência; em função da sofisticação da indústria de fundos e da
diversidade dos portfólios dos produtos, as áreas de risco de mercado e
crédito tornam-se ainda mais importantes; as taxas de administração dos
fundos de investimento serão reduzidas para garantir a atratividade em
função da intensa concorrência entre fundos e os demais produtos de
investimento; e, a diminuição da receita com taxa de administração
aumentará a importância da taxa de performance, estimulando o
crescimento de fundos com gestão ativa.
Por fim, tendo como contexto o cenário apresentado, acreditamos que os
investimentos nas categorias de Renda Fixa continuarão representando a
maior parcela das aplicações em fundos, apesar da queda gradativa ao
longo do tempo, enquanto fundos de ações e fundos multimercados, com
perfis mais dinâmicos, ficarão cada vez mais atrativos, ganhando espaço
na indústria de fundos em 2007.