Em pé de igualdade com a China e a Índia

Edição 176

Marcus Regueira – presidente da ABVCAP

O capital empreendedor, expressão que a ABVCAP cunhou para aquilo que
é conhecido internacionalmente como Private Equity e Venture Capital,
investe no longo prazo, através da aquisição de participação acionária e
de dívidas conversíveis das empresas.
Durante o ano de 2006, a ABVCAP – Associação Brasileira de Private Equity
e Venture Capital estruturou e implementou um programa de divulgação
das oportunidades atuais e potenciais para o capital empreendedor no
Brasil, através de uma parceria histórica governo-federal-iniciativa-privada.
Recursos financeiros e não-financeiros foram alocados através de um
convênio entre a ABDI e a ABVCAP, e o custeio do programa envolveu
também o apoio da FINEP. Ambos foram essenciais para colocar o Brasil
em pé de igualdade com países como a China e a Índia, os nossos
maiores concorrentes, que anualmente realizam dezenas de conferências
similares às nossas para promover oportunidades de investimento. Neste
semestre, o nosso programa já realizou eventos em Nova Iorque, Londres
e San Francisco. Ao longo de 2007, serão feitas apresentações adicionais
em Miami, Washington DC, Nova Iorque novamente e Chicago, além de
um novo ciclo na Europa. O objetivo é, a partir de 2007, consolidarem-se
esses roadshows no calendário e nos principais endereços do capital
institucional mundial.
Nessas andanças, conseguimos captar as crescentes reações positivas dos
investidores internacionais às nossas apresentações. São notícias
alvissareiras, porque o interesse é genuíno e da parte de investidores
institucionais que são formadores de opinião. Em contraponto, haviamos
constatado poucos meses atrás, que o Brasil ainda não estava no radar de
investimentos dessas instituições e dos seus gestores.
O porquê dessa nova realidade deve-se às seguintes razões: 1) enorme e
crescente liquidez internacional de capitais para os investimentos
alternativos, $600 bilhões de dólares dos quais $100 bilhões captados
para mercados emergentes, e conseqüente necessidade de diversificação
da alocação desses recursos; 2) os gestores internacionais estão
preocupados sobre como “o capital caminhou sob efeito manada” [sic]
para China e India, ou seja, dinheiro em excesso, que
conseqüentemente inflacionou os investimentos e já está criando
inúmeras outras dificuldades negociais; 3) no Brasil, o ambiente é
favorável e as oportunidades de investimento atraentes.
As nossas conversas com os investidores institucionais são francas e
diretas, abordando o estado da indústria de capital empreendedor no
Brasil, o mapeamento das principais variáveis que influenciam o
desenvolvimento do setor, as oportunidades e os desafios do “doing
business in Brazil”. São inúmeras as nossas vantagens, que
freqüentemente nós brasileiros não apreciamos com o devido valor, como
estabilidade institucional, imprensa livre, mentalidade de negócios
ocidental, instituições sólidas, independentes, autônomas, uma bolsa de
valores de 116 anos, uma lei de remessas de mais de 60 anos que nunca
foi violentada, avanços na Legislação como a nova Lei de falências e a
isenção de imposto de renda para investidor estrangeiro de capital
empreendedor, governança corporativa dirigida pelo mercado para o
mercado, uso de arbitragem, a lista ainda é mais extensa…
O nosso calcanhar de Aquiles é a taxa de crescimento do PIB abaixo do
seu potencial, longe da performance dos nossos concorrentes diretos
asiáticos e do leste europeu. E os investidores internacionais ainda
demonstram desconforto com o fato de a máquina governamental
absorver 40% do PIB e, ao mesmo tempo, investir muito pouco para
complementar a produtividade do setor privado. Esses são assuntos
recorrentes, da parte dos investidores nas discussões que se seguem às
nossas apresentações.
Crescer, portanto, é preciso, e investimento eficiente do setor público é
fundamental. Por outro lado, mesmo nesse ambiente de crescimento
reduzido, a terra brasilis apresenta inúmeras boas oportunidades de
investimento, pré-requisito número 1 do capital empreendedor, setorial e
geograficamente bem distribuídas.
Onde estão essas oportunidades? No varejo, que apesar da sua crise
reposiciona-se no nordeste, onde a redistribuição de renda já provocou
vigoroso crescimento das vendas. Ainda a respeito do nordeste, os
investimentos em turismo e nos complexos imobiliários, principalmente
com participação do capital europeu, atestam atratividade nessa indústria.
Além disso, o Brasil como um todo vai canalizar o capital empreendedor
para as empresas que suprem o seu deficit imobiliário de quase 8 milhões
de moradias, e para investimentos nas diversas áreas da infraestrutura. A
agricultura, o agronegócio e as tecnologias relacionadas também são
endereços naturais do capital empreendedor internacional, principalmente
em alimentos beneficiados, biomassa e energia renovável. O Brasil tem
liderança incontestável nesses setores e suas vantagens competitivas
facilitam a manutenção desse diferencial. A China é apenas 17% arável, e
a Índia tem deficiências sérias agriculturais e limitações para a extensão
da propriedade agrícola.
Na tecnologia da informação e na biotecnologia o Brasil desfruta da
excelência da sua ciência, e de seus pesquisadores, pares com qualquer
outro centro no mundo. A economia brasileira é diversificada, com
inúmeras oportunidades de investimento de crescimento acelerado,
aliadas ao capital humano que imprime gestão e competitividade globais.
O outro pré-requisito para atrair o capital empreendedor é a viabilidade da
liquidez para a saída de seus investimentos. Até outubro de 2006, foram
33 ofertas públicas iniciais, entre as realizadas e as em andamento na
Bovespa, comparadas com 9 no ano passado e 7 em 2004. Mais da
metade desse volume veio das emissões de empresas apoiadas por
Private Equity e Venture Capital em alguma fase do seu desenvolvimento.
Existe ainda o benefício adicional do Novo Mercado, que requer maior
transparência, ações votantes ordinárias, arbitragem de conflitos, tag
along, entre outras exigências que aprimoram a governança e geram
conforto para o investidor. Empresas que adotaram o Novo Mercado hoje
representam 60% da capitalização e do volume diário da Bovespa.
Vários fatores apontam para a sustentabilidade do mercado de ações no
Brasil. O cenário macro-econômico é estável, praticamente desacoplado do
cenário político, com taxas cadentes de juros e de risco-país. Portanto, a
alavancagem financeira das operações de capital empreendedor tenderá a
ser mais factível, e conseqüentemente serão também maiores os recursos
alocados para a classe de investimentos alternativos e para o mercado
acionário. Some-se ao ambiente de aceitação de normas mais rigorosas
de governança corporativa, a melhor rentabilidade das ações de empresas
do Novo Mercado e o sucesso recorrente das suas emissões iniciais. O
círculo virtuoso envolve o incremento das fusões e aquisições e das
consolidações setoriais, porque o acesso ao capital se torna mais facilitado.
Na origem, o capital empreendedor é abastecido pelas alternativas de
investimento que são fruto da produção empreendedora da sociedade. No
extremo oposto, o sistema abastece o mercado de capitais através de
investimentos que amadurecem para alcançar suas saídas. Empresas
apoiadas pelo capital empreendedor geram mais empregos, pagam
massa salarial maior. O capital empreendedor cria as bases para o
crescimento sustentável, atuando junto à gestão das empresas investidas
para o aumento da eficiência, da competitividade e da governança
corporativa e, em períodos de médio prazo, seus investimentos são
consistentemente mais rentáveis do que instrumentos tradicionais de
renda variável ou renda fixa.
E o ano de 2007 mostra-se alvissareiro para a expansão dos mais de $5
bilhões de dólares já comprometidos pelo capital empreendedor no Brasil.