Hora de colocar as credenciais à mostra

Edição 176

Sérgio Rosa – presidente da Fundação Previ

Alguns importantes itens de atenção para os investidores institucionais em
2007 são fruto das modificações ocorridas na economia e das tendências
desenhadas nos últimos quatro anos. Esta é a primeira boa notícia.
Embora projeções sejam sempre arriscadas, é inegável que aumentou o
grau de previsibilidade e conseqüentemente de consenso do mercado a
respeito de vários aspectos da economia. Fatos extraordinários e
mudanças sensíveis sempre podem ocorrer, mas quando a maior parte
dos agentes está visualizando a mesma coisa para o futuro, é mais fácil
que as ações se reforcem e o caminho siga o roteiro projetado.
A primeira grande tendência é a queda da taxa básica de juros. Embora
existam discussões relevantes acerca do ritmo e do ponto final da taxa, a
expectativa geral é de queda tanto no curto prazo quanto para um
horizonte mais longo. Para o investidor institucional que entenda a
importância de atuar de forma preventiva, esta projeção indica dois
caminhos: buscar ativos desvinculados da taxa de juros e aproveitar as
oportunidades para alongar as carteiras de renda fixa.
É sabido que a maior parte das aplicações dos fundos está alocada em
títulos públicos e operações de renda fixa de curto prazo. Este
posicionamento, considerado de baixo risco e de baixo custo, pode
continuar a ser adotado, mas deverá ser explicado e justificado
conscientemente, e certamente deixará de ser uma posição de “conforto”
para os administradores. Afinal de contas, a opção por esta estratégia
poderá representar um desempenho menor em determinado espaço de
tempo, e é razoável que a discussão seja feita. Como já disse alguém
antes, o excesso de conservadorismo também é um risco.
Ao buscar investimentos em ativos de maior risco, desvinculados da taxa
de juros, perseguindo retornos maiores, os gestores vão enfrentar vários
desafios: avaliar corretamente as classes e subclasses de ativos e os
percentuais de alocação; definir se vão operar diretamente ou através de
parceiros e gestores especializados; criar critérios para selecionar e avaliar
estes gestores e os investimentos realizados; documentar e justificar as
opções realizadas e dialogar intensamente com as partes interessadas
para explicar a estratégia adotada. Mas tudo isso é absolutamente
normal, e já é praticado em muitos fundos: só precisa aumentar de
intensidade.
Uma das áreas que alimenta boas expectativas é a infra estrutura, e por
várias razões. O país sabe que para crescer precisa de grandes
investimentos em rodovias, portos, ferrovias, energia elétrica, redes de
comunicação, saneamento, etc. São gargalos identificados, que se
transformam ao mesmo tempo em oportunidades. Dado o volume de
investimentos necessários nestas áreas, sobretudo em projetos novos, há
um bom espaço para o investimento privado, através de concessões,
ppps, empresas do setor, etc.
Se este ciclo de investimento de fato se realizar, o melhor de tudo é que
vai tornar mais sustentável o ciclo de crescimento geral da economia,
facilitando a conquista do chamado “grau de investimento”, a nota de
baixo risco conferida pelas agências internacionais, o que promoverá um
novo impulso no valor dos ativos reais.
Em um cenário assim, aqueles que demorarem para rever suas posições
de investimento poderão amargar diferenças muito grandes de
rentabilidade. Portanto, 2007 deve ser um ano de razoável agitação
positiva, com bom espaço para os bons agentes de mercado
apresentarem suas credenciais, suas histórias e suas propostas. Caberá
aos gestores dos fundos apurar os ouvidos para ouvir muito e afinar os
instrumentos para selecionar bem. O que não parece ser boa idéia é
apenas ver a banda passar.