Privatização e gestão externa andam juntas

Edição 17

As privatizações tem um sabor muito especial para os bancos que atuam
na área de administração de ativos

As privatizações tem um sabor muito especial para os bancos que atuam
na área de administração de ativos. Por um lado, as empresas
privatizáveis oferecem ótimas oportunidades de valorização de seus
portfólios de ações, por outro suas fundações possuem grandes carteiras
de investimento, as quais mais cedo ou mais tarde acabam sendo
terceirizadas à esses bancos.
A regra tem sido essa: às vésperas da privatização, os fundos de pensão
das estatais decidem terceirizar a gestão dos seus ativos, especialmente
os de renda variável. Os que não dão esse passo antes da privatização,
dão depois. “É uma questão de eficiência”, explica o presidente da
Brasiletros, a fundação da Companhia de Eletricidade do Rio de Janeiro
(Cerj), José Bento Curioni.
A Cerj foi privatizada em novembro do ano passado, comprada por três
empresas do setor elétrico, a chilena Chilectra, a portuguesa EDP e a
espanhola Endesa. A terceirização dos seus ativos começou oito meses
antes, em março, com a entrega da carteira de renda variável à
administração externa. Agora, seis meses após assumir a direção da
fundação (assumiu em janeiro deste ano), Curioni está substituindo a
carteira de renda variável por fundos exclusivos de ações. Motivo: busca
de maior eficiência.
Ele enumera três motivos para a mudança: os fundos exclusivos não
pagam CPMF a cada movimentação, cobram taxas de administração
menor e têm taxas melhores de performance. Dos R$ 230 milhões que
compõem o patrimônio da Brasiletros, os R$ 80 milhões da carteira de
renda variável vão passar para fundos exclusivos. Serão divididos entre os
bancos Pactual, Graphus, Fonte Cindan e Sudaméris, que não são os que
faziam a gestão anterior das carteiras. O contrato com os novos
administradores deve ser assinado nos próximos dias, adianta Curioni.
Na boca do forno também está o contrato que a Sistel, a fundação do
sistema Telebrás, deve assinar até o final deste mês com três ou quatro
bancos, os quais irão dividir a administração de R$ 200 milhões da sua
carteira de renda variável. Esse valor representa pouco mais de 15% da
carteira de renda variável da fundação, e seus resultados deverão servir
de parâmetro à fundação para avaliar a performance da carteira
administrada internamente.
O processo de terceirização na Sistel começou no final do ano passado e o
objetivo da fundação era tê-lo concluído até março deste ano. Mas,
resistências no Conselho de Gestão da fundação, atrasaram o processo.
No início deste mês, já com o processo concluído e os nomes dos bancos
vencedores definidos, a direção da fundação optou por adiar o seu
anúncio. “É hora de fingir de morto e não de aparecer nos jornais”,
confidenciou uma fonte na fundação.

Indisposição – O motivo da preocupação foi uma briga indireta que a
fundação acabou comprando com o ministro das Comunicações, o sempre
inflamável Sérgio Motta. Ele não gostou quando soube que a Telet
(consórcio que reúne vários fundos de pensão, entre os quais a Sistel)
conseguiu mandado de segurança para participar da concorrência das
áreas 2 (interior de São Paulo) e 3 (Rio de Janeiro) da telefonia celular,
contra sua vontade. Gostou menos ainda dos termos usados pelo
advogado da Telet em sua petição, que dizia que Motta havia inabilitado o
consórcio devido a “uma indisposição momentânea, provocada pelo strees
ou por uma refeição maldigerida”.
Representantes de bancos que estavam em Brasília na segunda semana
de julho, à espera do anúncio da Sistel, acabaram frustrados. Eles faziam
parte de um time de 12 bancos pré-selecionados, dos quais sairão os
vencedores. “Mas espero que o nosso nome esteja entre os quatro
escolhidos”, torcia Marilisa Cunha Cardoso, do BBA-Capital, um dos bancos
pré-selecionados.
Com esse anúncio, a Sistel entrará na arena da privatização com parte
dos seus ativos administrado por terceiros. A expectativa dos bancos,
hoje, é com relação aos recursos da Valia, a fundação dos funcionários da
Vale do Rio Doce (privatizada há pouco mais de dois meses). Em março
último, o patrimônio total da Valia somava R$ 1,7 bilhão. Acredita-se que
a fundação irá terceirizar a gestão da sua renda variável. Mas ela ainda
não se pronunciou a respeito.
Nas fundações de privatizações mais antigas, como é o caso da Funssest,
os resultados tem sido animadores. Patrocinada pela Companhia
Siderúrgica de Tubarão (CST), que foi privatizada em 1992, a Funssest
também se preparou para a privatização e, alguns meses antes, já
colocava para administração externa parte de seus recursos. “Antes
mesmo do leilão, nós já terceirizávamos a gestão de parte dos nossos
recursos”, explica Laércio Pereira, diretor superintendente do fundo.
Começou colocando um quarto de suas aplicações em renda variável, que
representavam 16% dos ativos totais, nas mãos do Montrealbank. Após a
privatização, trocou de gestor e repartiu o bolo entre Unibanco e Bozano
Simonsen, ficando com o restante. “A performance dos administradores
externos foi tão boa que, não só os mantivemos por todos esses anos
como, neste ano, aumentamos o número para cinco”, diz Pereira.
A fundação possui hoje ativos totais de R$ 230 milhões, dos quais 41%
estão em renda variável, distribuídos da seguinte forma: 16%
administrados pelo Unibanco, 8% pelo Chase Manhattan, 4% pelo
Opportunity, 4% pelo Icatu e 3% pelo Bozano Simonsen. A própria
Funssest administra os 6% restantes, que são ações da patrocinadora.
Segundo Pereira, “aumentar o número de gestores externos foi uma
maneira de criar um sistema de acompanhamento de performance. Nele,
o banco que apresentar a melhor rentabilidade, aumenta sua parte nos
recursos”.
Na CBS, dos empregados da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), todos
os ativos são administrados por gestores externos, com exceção da
carteira de imóveis. Luiz Fernando Perdigão de Oliveira, diretor financeiro
da CBS, explica que a intenção da fundação é aprofundar o
relacionamento com os gestores externos, que somam oito, tanto em
renda fixa, como em renda variável. “Um dos sub-produtos dessa atitude
está em conseguir menores despesas administrativas, reduzindo o quadro
de funcionários”, avalia.
Mas o mais importante, segundo ele, é acompanhar a volatilidade do
mercado financeiro, “coisa que só os fundos de investimento têm
possibilidade de fazer”.

Passivos – A CBS tem um patrimônio de R$ 450 milhões com 65% na
renda variável e 25% na renda fixa. O próximo passo da fundação,
segundo o executivo, é terceirizar os passivos, o que será feito pela
Mercer. Um contrato com a empresa foi assinado em fevereiro passado.
O oposto da CBS acontece na Caixa dos Empregados da Usiminas. “A
privatização da companhia não alterou em nada o nosso trabalho”,
garante José Rossi, diretor de finanças da fundação. “Fazemos
administração interna dos recursos, apenas uma parte ínfima é
terceirizada, para termos um referencial de mercado na avaliação do
nosso desempenho”.
O Citibank e do Itaú são os gestores dessa carteira “ínfima” terceirizada,
usada como referencial de mercado. Com um patrimônio de R$ 750
milhões, a fundação da Usiminas possui um corpo de técnicos que age
centralizadamente, “para que as decisões sejam tomadas em tempo
real”, diz Rossi.
Segundo o operador do Banco pactual, Rodolfo Riechert, “as fundações
que têm patrimônio abaixo dos R$ 100 milhões devem terceirizar seus
investimentos, o que diminui os seus gastos, mas entendo que grandes
fundações, como a Previ, por exemplo, mantenham uma equipe de
analistas própria e todo o suporte tecnológico necessário”. Para ele, a
terceirização deve aumentar no caso das fundações menores e, entre as
grandes, devem ocorrer parcerias com bancos especializados.
É o que aconteceu na Petros, que no final de março divulgou um acordo
feito com o Banco Opportunity (em vigor desde dezembro de 1996), pelo
qual ele passou a administrar de forma compartilhada R$ 500 milhões de
sua carteira de renda variável. O banco, nos termos do acordo, abriu à
fundação sua base de dados de cenários e análises macro-econômicas,
repassou sua tecnologia de avaliação de empresas e passou a administrar
os recursos através de um comitê conjunto com a fundação, de seis
membros (três de cada lado), mas no qual a Petros tem poder de veto. A
liquidação e a custódia dos papéis negociados, entretanto, são feitos na
própria Petros.

Outros – O acordo da Petros com o Opportunity foi um estímulo ao
mercado, muito embora a Petrobrás não esteja na lista da privatizáveis.
Mas, as que estão, entenderam que, se até a Petros estava caminhando
nessa direção, a coisa não podia estar tão errada. A Petros não descarta
ampliar o número de bancos gestores, aumentando a fatia compartilhada.
Na Aços, fundação dos empregados da Açominas, os recursos já eram
administrados externamente na época da privatização da patrocinadora,
em 1993. “A Aços sempre foi bem administrada”, diz Alberto Vanderlei
Kamisassa, diretor financeiro da fundação. “Hoje temos 30% do nosso
patrimônio aplicado em renda variável, e esse percentual é administrado
por gestores externos, que são mais agressivos do que eu nessa parte e
apresentam rentabilidade satisfatória”, completa. Ele não divulga o nome
dos bancos que fazem a gestão dos ativos.
O caso da Acesita é atípico. A empresa, privatizada em 1992, participava
do fundo multipatrocinado do CCF. Um ano depois da privatização, saiu do
multipatrocinado e criou sua próprio fundação, a Açominas Previdência
Privada, que começou a operar em abril de 1995, já com seus recursos
administrados por terceiros. “Foi a melhor opção no início, pois
entendemos que manter uma carteira própria seria muito arriscado”,
analisa Antonio Heronville da Silva, diretor financeiro da fundação.
Hoje, com um patrimônio de R$ 93 milhões (gerenciados por cinco
bancos), a fundação não descarta a possibilidade de passar a administrar
internamente uma parte desses ativos “Não digo imediatamente, mas
talvez no futuro isso possa acontecer”, afirma Heronville.