Edição 167
De olho na sofisticação do mercado, Bradesco une áreas de mercado de capitais, private, asset, seguros e corretora
O Bradesco deu o primeiro passo na direção de construir seu banco de atacado, separado do banco de varejo, unindo as áreas de mercado de capitais, corretora de valores, private, asset management e Bradesco Securities. A nova instituição, que adotou o nome de Banco Bradesco de Investimentos (BBI), será comandada pelo vice-presidente José Luiz Acar Pedro e operacionalizada pelo diretor Sérgio de Oliveira.
Formalmente, o BBI nasceu em 16 de fevereiro último, poucos dias antes do carnaval. Na prática, as várias áreas que o formam já operam há tempos e algumas estão entre os líderes de mercado, como é o caso da Bradesco Asset Management (Bram). Nos segmentos onde ainda não lidera, o Bradesco almeja estar entre os principais players em pouco tempo, garante Acar. É o caso da área de mercado de capitais e da corretora, que segundo ele devem ter um up-grade compatível com a nova situação, de banco de atacado e investimentos.
O sinal para a criação do BBI foi dado quando alguns clientes tradicionais do banco começaram a solicitar operações mais sofisticadas, como emissão de debêntures e underwrites com colocação no exterior, por exemplo. O banco até que tentou segurar essas operações dentro de casa, mas elas acabaram indo parar nas mãos dos concorrentes, cujas bandeiras deixavam claro que aquelas eram as suas especialidades. “Recebemos consultas de clientes da casa para algumas dessas operações e vimos que não estávamos preparados para fazer, principalmente em abertura de capital com colocação lá fora”, explica Acar. “Hoje, quase todas as grandes operações exigem a colocação no exterior”.
Para o presidente da Austin Rating, Erivelto Rodrigues, o desenho do novo banco do Bradesco atende a uma necessidade, a de dar mais agilidade e musculatura às áreas de atacado e investimentos. “Gerencialmente a decisão é acertada, pois separando essas áreas do banco de varejo elas ganham em agilidade e dinamismo”, diz. “O Bradesco acerta em criar esse modelo nesse momento, quando o mercado de capitais está em franco crescimento e tem perspectivas de continuar em alta”.
A nova configuração deve mexer muito pouco em áreas como asset management e private, que já estão consolidadas, mas deve provocar mudanças bem mais profundas nos segmentos de mercado de capitais e corretora. A área de mercado de capitais do Bradesco não tem conseguido um pedaço significativo das emissões de ações de empresas, que somaram quase R$ 11 bilhões no ano passado, apesar de ter uma clientela corporate respeitável. A verdade é que os grandes clientes trabalham com o banco na área de varejo, mas escolhem outros parceiros na hora de fazerem operações como emissões de títulos, abertura de capital e project finance, por exemplo. “Vamos fazer um reforço em nossa equipe e cogitamos até a possibilidade de alguns acordos com instituições internacionais”, diz Acar.
O Bradesco já tem agências em Luxemburgo, Nova York, Bahamas e Cayman, além de parcerias operacionais com o Tokio-Mitsubishi, na Ásia, e com o BBVA e BES, na Europa. Essas parcerias podem crescer, admite Acar. “Ainda estamos planejando como fazer nossa expansão, se será através de investimentos próprios ou de parcerias de negócios com bancos da área”. O planejamento está sendo feito olhando um horizonte de cinco anos, no qual o banco está desenhando a perspectiva de que o mercado de capitais continuará se desenvolvendo e as empresas vão demandá-lo cada vez mais em busca de financiamentos.
Na área da corretora, a mudança também deve ser profunda. A corretora do Bradesco, embora tenha algum research, não é conhecida como tal. A percepção do mercado é que ela é mais uma corretora de descontos, que trabalha basicamente com a pessoa física, sem se envolver nas grandes operações. Ela não abandonará o segmento de pessoas físicas, onde é forte principalmente no home broker, mas quer ampliar sua atuação. “Queremos mudar a percepção do mercado, de que somos só home broker, queremos montar um time de research e passar a operar junto aos investidores institucionais tanto na Bovespa quanto na BM&F”, afirma Acar. Hoje, a corretora conta com cinco analistas, mas os planos são de ter analistas para todas as áreas do mercado de capitais e passar a produzir análises em português, inglês e espanhol.
O BBI, segundo Acar, aproveitará em primeiro lugar a carteira de clientes do banco, tanto corporate como de médias empresas. “Vamos ser, basicamente, ofertantes de produtos para essa clientela”, diz. “A demanda já existe e está dentro da casa. Sem o banco de investimentos, corríamos o risco de que ela fugisse de nós”.