Edição 14
Os investidores institucionais vêm aumentando suas aplicações em
derivativos
Os investidores institucionais vêm aumentando suas aplicações em
derivativos, de acordo com os responsáveis pelas áreas de administração
de ativos de vários bancos. “Está havendo uma mudança profunda no
mercado, que vem sendo acompanhada pelas fundações”, afirma o diretor
de renda variável do Unibanco Asset Management, Jorge Simino.
Segundo ele, antes do Plano Real os investidores estavam mais
preocupados em proteger seu patrimônio do que em alavancar resultados.
Atualmente, com a estabilização econômica e a queda das taxas de juros,
as fundações começam a ampliar sua participação no mercado de
derivativos, em busca de melhor rentabilidade. Elas passaram a investir
em mercados futuros de índices, taxas de câmbio, opções de compra de
ações e de dólar, há pouco tempo considerados excessivamente
arriscados.
Em abril último, a participação dos investidores institucionais na
movimentação da Bolsa de Mercadorias e de Futuros (BM&F) representava
15,55% do total, sendo 0,14% em aplicações diretas dos fundos de
pensão. Esse último percentual, entretanto, não retrata fielmente a
utilização de derivativos pelas fundações fechadas de previdência privada,
pois, além dos investimentos diretos, elas também participam desse
mercado através dos fundos de investimento.
Esses fundos, que captam aproximadamente 50% dos seus recursos entre
as fundações, representavam ao final de abril 12,02% dos negócios da
BM&F. E a tendência é de crescimento nesse percentual (ver tabela), avalia
o presidente dessa bolsa, Manoel Felix Cintra Neto. “Os derivativos estão
sendo cada vez mais usados pelos fundos de investimento para melhorar
a performance dos seus portfólios”, explica ele.
Crescendo – O presidente da BM&F acredita que a utilização dos
derivativos continuará crescendo, à medida que mais fundos de pensão
tomarem contato com eles.
Uma das empresas que atua fortemente nessa área é o Itaú Bankers
Trust (IBT), associação formada ao final do ano passado entre o nacional
Itaú com o Bankers Trust norte-americano. Um dos seus fundos, o IBT
Super Hedge Fund, lançado no final de abril, captou nos seus primeiros 15
dias cerca de R$ 5 milhões. Outro, o IBT Hedge Fund, lançado há 5
meses, acumulava em meados de maio um patrimônio de R$ 45 milhões.
“A maioria dos investimentos nos nossos fundos de derivativos vêm das
fundações de previdência”, conta o diretor executivo do IBT, Roberto M.
Nishikawa. De acordo com ele, o IBT Super Hedge Fund pode alocar entre
5% e 30% do seu volume de investimentos nos vários mercados de futuro
e de opções. Com isso, sua alavancagem de resultados chega a até cinco
vezes, garante.
O BBA-Capital Asset Management, associação entre o nacional BBA com o
grupo norte-americano Capital, é outro que atua fortemente na área.
Segundo o diretor da empresa, Fernando Iunes, a participação dos
investidores institucionais no BBA Performance, um fundo de renda fixa
que aplica até 20% da rentabilidade do CDI em derivativos, cresceu 97%
entre 1º de janeiro e 12 de maio. No caso do BBA Premium, um fundo
mais agressivo que aplica até 100% da rentabilidade do CDI em
derivativos, a participação dos institucionais cresceu 308% no mesmo
período. “As fundações vêm acompanhando diariamente esses mercados
e avaliando as vantagens e os riscos dos mesmos”, diz Iunes.
Entre os vários motivos que estão levando os investidores a apostarem
nestas alternativas está a queda nas taxas de juros do CDI. Em 1995, a
taxa de juros do CDI foi de 53%. Em 1996, o valor caiu quase pela
metade, indo para 27%, e para este ano os analistas projetam uma taxa
de 21%. “O investidor está procurando produtos que substituam a
rentabilidade baixa deste índice”, confirma André Ferreira da Rosa, diretor
comercial do Chase Asset Management.
Rentabilidade – Além da baixa rentabilidade do CDI, a insolvência de
importantes bancos fez com que os investidores passassem a repensar
a segurança”” dos investimentos em títulos, analisa Iunes, do
BBA. “Atualmente, a concepção de arriscar é vista como inevitável pelas
fundações”, completa Simino, do Unibanco.
Este é o caminho natural não só no Brasil, mas no resto do
mundo. “Somente nos Estados Unidos, o nosso banco já registrou US$
200 bilhões em volume aplicado em derivativos ou fundos que utilizam
derivativos”, detalha Nishikawa.
Apesar da mudança de mentalidade, a cautela ainda é grande entre os
administradores de ativos. As empresas tentam minar as resistências
através de conferências e seminários.
Proibido – A legislação também acaba por protegê-los, limitando sua
atuação nestes mercados. “A venda de opções a descoberto é um dos
mecanismos proibidos para as fundações”, lembra Simino.
Na Enersul, a fundação da Empresa Energética do Mato Grosso do Sul, o
mecanismo de derivativos só é utilizado na compra e venda de opções de
ações da Telebrás, segundo informou o diretor de investimento do fundo,
João Batista Lopes Filho. “Falta tradição da empresa neste tipo de
investimento”, justifica.
Já na Refer, da Rede Ferroviária Federal, o mercado de opção de ações
tem sido utilizado para defesa de carteira. Segundo o gerente de
investimentos da empresa, Carlos Alberto Ferreira, este tipo de filosofia é
relativamente novo na empresa, que há dois anos havia parado de
trabalhar com derivativos e hoje está voltando a usá-los de maneira
gradativa. “”