Comitês da Abamec estão planejando os padrões

Edição 13

A analista de investimentos do Banco da Bahia, costuma examinar com
atenção as performances que os outros bancos apresentam como sendo a
rentabilidade de seus fundos mútuos

A analista de investimentos do Banco da Bahia, Elaine Restier Gonçalves,
costuma examinar com atenção as performances que os outros bancos
apresentam como sendo a rentabilidade de seus fundos mútuos. Afinal,
esses números e percentuais fazem parte da sua rotina diária e podem
representar a diferença entre um fundo vencedor e outro perdedor, na
visão dos aplicadores. Recentemente, lendo uma publicação da área
econômica, ela observou que dois fundos, de instituições diferentes, eram
apresentadas como os melhores da sua linhagem apenas umas poucas
páginas distantes um do outro.
A publicação havia engolido as alegações dos administradores dos dois
fundos e apresentado cada um, em uma reportagem específica, como o
que tinha obtido a melhor rentabilidade em um mesmo período
determinado. “O leitor comum deve ficar numa tremenda confusão”,
afirma Elaine. Segundo ela, esse tipo de contradição não é rara hoje, pois
cada instituição analisa a rentabilidade de seu fundo de acordo com
critérios próprios.
Para evitar a continuidade dessa situação, a Associação Brasileira dos
Analistas do Mercado de Capitais (Abamec) está iniciando um trabalho
cuja meta é criar padrões comuns para analisar os fundos mútuos do país,
permitindo a comparação entre eles. O primeiro passo foi dado em
meados de abril, com a tradução e apresentação ao mercado do
livro “Padrões de Apresentação de Performance”, editado em 1993 pela
Association for Investment Management and Research (AIMR), nos
Estados Unidos, país onde até aquele momento o setor de fundos vivia
uma confusão igual à que vive hoje o Brasil. O livro, que eliminou em
grande parte a confusão, é hoje a Bíblia dos administradores norte-
americanos de fundos mútuos (ver no quadro abaixo, tópicos do livro).

Padrões próprios – “Não vamos usar os padrões norte-americanos para o
Brasil, mas partir de algo que já existe para criar nossos próprios
padrões”, esclarece Eliane, que é a coordenadora do comitê de
padronização criado pela Abamec do Rio de Janeiro. Além da regional
carioca, as regionais de São Paulo, Brasília, Minas Gerais, Rio Grande do
Sul e Ceará da Abamec também estão criando comitês de trabalho de
padronização. Os trabalhos, a serem desenvolvidos em cada regional,
dividem-se em quatro comitês:
• Comitê de verificação, para definir critérios de verificação das alegações
de conformidade dos fundos e também para estudar a criação de um selo
a ser utilizado exclusivamente por aqueles que seguem os padrões.
• Comitê imobiliário: para definir padrões de divulgação de informações e
de performance dos investimentos do mercado imobiliário.
• Comitê de carteiras de futuros e derivativos: para definir padrões de
divulgação de informações e de performance para as carteiras que operem
alavancadas em futuros ou derivativos.
• Comitê de criação de índices: para definir padrões de índices de
benchmark, que permitam mensurar as performances dos fundos.
Segundo Eliane, no prazo de um ano os comitês devem chegar a
definições sobre os temas propostos, as quais serão encampadas pela
Abamec nacional e encaminhadas para os órgãos do governo que regulam
a matéria. A Abamec está buscando o apoio da Comissão de Valores
Mobiliários (CVM), que é a responsável pelo registro dos fundos de
investimentos, para que os critérios a serem definidos pelas comissões de
padronização possam ser adotados como regra. “Isso dará maior
transparência ao mercado, maior tranqüilidade para os institucionais
investirem, pois com regras claras eles ficam respaldados para tomar
decisões”, explica.
De acordo com ela, a definição de critérios comuns de análise de
resultados de fundos trará mais confiabilidade ao setor, alavancando o
seu crescimento. “Hoje todos dizem que são o primeiro do ranking,
ninguém quer ser o segundo”, critica. Com quase 2.000 fundos de
investimento registrados e atuando, o setor já conta com um patrimônio
de R$ 120 bilhões.

Pequenos seguirão – “Se os grandes gestores de recursos adotarem as
regras, os pequenos serão levados a fazer o mesmo”, diz a analista do
Banco da Bahia. Para o responsável pela área de clientes institucionais do
banco Chase Manhathan, André Rosa, “a padronização dos critérios é
fundamental, principalmente para os grandes bancos, que gerenciam
grandes fundos”.
Rosa chegou a procurar, algum tempo atrás, uma empresa de auditoria
para propor que ela desenvolvesse critérios para auditar a divulgação de
resultados de fundos, o que poderia resultar na criação de um padrão no
setor. A auditoria topou, mas apresentou um orçamento que tornava o
serviço absolutamente proibitivo. Uma segunda auditoria foi consultada,
apresentando um orçamento 50% inferior, mas que ainda assim tornava
inviável a operação. “Acabei desistindo da idéia, a auditoria não percebeu
que não era o valor daquele serviço específico que importava, mas sim
que ela poderia abrir um novo segmento de mercado”, explica.

Jornal compilou as conclusões
O livro “Padrões de Apresentação de Performance” baseou-se em um
trabalho de compilação feito pela publicação norte-americana Financial
Analysts Journal, na sua edição de setembro/outubro de 1987, reportando
as conclusões das reuniões de trabalho da Financial Analysts Federation. A
partir do texto básico compilado pelo jornal, o tema ganhou vários canais
de discussão, foi aperfeiçoado e chegou em 1993 ao livro que hoje
normatiza a administração de fundos de investimento nos Estados Unidos.
No sumário de apresentação do livro, explica-se que “os Padrões de
Apresentação de Performance são uma série de princípios éticos, de
orientação, com objetivo de promover uma abertura de informações
completa e uma representação justa dos administradores de
investimentos, ao reportar seus resultados de performance”. Continuando,
o sumário diz que “um objetivo secundário é o de assegurar uniformidade
para que resultados sejam diretamente comparáveis, entre os
administradores de investimentos.
Alguns princípios são obrigatórias ( devem ser seguidos), outros são
recomendados (são opcionais).