Fundos de pensão já rivalizam com bancos

Edição 13

Os fundos de pensão estão se tornando, a mais importante fonte de
financiamento dos mercados norte-americano e inglês

Os fundos de pensão estão se tornando, a mais importante fonte de
financiamento dos mercados norte-americano e inglês, superando
inclusive os bancos comerciais como agentes financeiros. “Nós estamos
vivendo uma grande mudança no sistema de financiamentos, passando
de um sistema de créditos bancários para um sistema de financiamentos
através de títulos securitizados”, afirmou o professor norte-americano
Robert Guttman, da Hofstra University, durante o seminário “Fundos de
pensão: novo fator de desenvolvimento para a América Latina”.
O seminário, realizado conjuntamente pela Unicamp e Abrapp, reuniu em
São Paulo nos dias 24 e 25 de abril cerca de 200 pessoas, entre
convidados estrangeiros e dirigentes de fundos de pensão do Brasil. A
palestra do professor Guttman foi uma das mais comentadas do evento,
pelas abordagens inusitadas que apresentou.
Ele falou sobre os sistemas de fundos de pensão nos Estados Unidos e
Europa. Segundo ele, o que está acontecendo hoje nos Estados Unidos
tende a se repetir nos países emergentes da América Latina e Sudeste
Asiático. Com a crise do sistema de previdência social da América Latina,
os fundos de pensão dessas regiões vão crescer e passar a desempenhar
papel decisivo na implementação de reformas estruturais, a começar pelas
privatizações, afirmou.
“Os fundos de pensão já são hoje a maior força das economias européias
e norte-americana”, disse Guttman. Nos Estados Unidos, os fundos de
pensão públicos e privados somam patrimônio de mais de US$ 4,5
bilhões, representando em 1995 nada menos de 38% do mercado de
títulos e 33% do mercado de ações, o que já superava na época, em
importância, qualquer outro agente do sistema financeiro norte-americano.

Volatilidade – Para Guttman, o tamanho alcançado pelos fundos de
pensão nos Estados Unidos acabou gerando alguma instabilidade e
aumentando a volatilidade dos mercados. De acordo com ele, a média de
anos que uma ação permanecia nas mãos do mesmo dono nos anos 60,
quando eram propriedade principalmente de indivíduos, era de sete anos,
mas com a entrada dos fundos de pensão no mercado acionário essa
média caiu e hoje está em dois anos. Isso acontece, explicou, porque os
fundos de pensão terceirizaram grandemente suas administrações de
recursos e as companhias administradoras buscam ao máximo elevar os
lucros da carteira. “As administradoras não pensam nos investimentos
como o seu investimento, eles trocam rápido de posições, eles estão
sempre tentando vencer os índices de desempenhos, os seus
benchmarks, então vendem e compram e usam pesadamente os
derivativos como os swaps e os índices futuros”, explicou o professor da
Hofstra University. “E isso faz o mercado muito volátil”.
Mas isso tende a mudar, segundo ele. Os fundos de pensão chegaram a
um tamanho que não podem continuar a girar investimentos nessa
velocidade sem ameaçar o próprio capital. Hoje, os fundos norte-
americanos detêm, sozinhos, cerca de 40% do mercado de ações do país.
Junto com fundos mútuos e as seguradoras, esse percentual sobe para
60%. Se precisassem vender essas participações, não poderiam fazer isso
sem derrubar enormemente os preços, o que está levando-os a olhar os
investimentos nas empresas como os “seus investimentos”.
Cada vez mais os fundos de pensão estão buscando parceria com as
empresas nas quais mantém participação, fiscalizando seu desempenho,
forçando sua profissionalização e controlando os absurdos salários e
bônus pagos a seus altos executivos. A prática dos administradores de
carteiras, que buscam maximizar lucros girando rapidamente portfólios,
está sendo questionada por muitos fundos nos Estados Unidos.

Planos – Uma das razões para essa prática dos administradores, de
buscarem os mais altos desempenhos e rapidamente, está no fato de que
a maioria dos fundos de pensão patrocinados pela área privada nos
Estados Unidos, ainda ser do tipo benefícios definido. Com isso, o
patrocinador tende a buscar sempre os mais altos rendimentos das
aplicações, para poder contribuir com menos para as reservas de
benefícios.
Segundo Guttman, os planos de benefício definido estão em declínio e os
novos patrocinadores estão dando preferência, hoje, aos planos de
contribuição definida, como já acontece com os planos patrocinados pelo
setor público norte-americano, que em sua maioria seguem essa linha.