Edição 10
Uma mudança na legislação norte-americana dos títulos e valores
mobiliários, ocorrida no final do ano passado, deverá provocar um
crescimento explosivo dos fundos de fundos
Uma mudança na legislação norte-americana dos títulos e valores
mobiliários, ocorrida no final do ano passado, deverá provocar um
crescimento explosivo dos fundos de fundos, ou seja, dos fundos mútuos
que investem em cotas de outros fundos.
Especialistas do mercado dizem que o crescimento desse mercado é
apenas uma questão de tempo. Por trás dele estão o voraz apetite das
fundações com planos de contribuição definida e investidores individuais,
em busca de um produto administrado por um gerente profissional de
fundos ou um consultor de investimentos registrado para fazer a aplicação
de ativos, de acordo com os objetivos e a tolerância de risco de
investimento, relata reportagem do jornal Pension & Investment.
As empresas com mais probabilidade de se beneficiar com a mudança na
legislação são as grandes firmas, que poderão formar carteiras de
investimentos completas com seu próprio leque de fundos mútuos. As
patrocinadoras dos planos de contribuição definida deverão apoiar as
empresas de fundos mútuos que utilizam uma abordagem de criar fundos
de fundos, declarou Cebra Graves, analista de papéis da Morningstar.
A Lei Nacional de Melhoria dos Mercados de Títulos e Valores Mobiliários
de 1996 “terá um enorme efeito por uma série de motivos, mas
principalmente para os planos de contribuição definida”, disse Geoffrey H.
Bobroff, presidente da Bobroff Consulting Inc., de East Greenwich,
Connecticut, EUA.
“Isso tem uma aplicação fascinante na capacidade dos gerentes de
investimentos, em apresentar uma variedade de estilos de fundos, com
uma resposta bem focalizada das necessidades de um patrocinador de
planos de contribuição definida. Focalizando-se nas necessidades
específicas do risco de um cliente, o gerente poderá criar um fundo de
fundos ajustado ao nível de risco que atende exatamente às necessidades
do patrocinador. Os gerentes podem criar um produto genérico de fundo
de fundos para atrair o mercado de massa e ainda manter a capacidade
de atender às necessidades específicas de clientes individuais. É uma área
ainda a ser explorada”, disse Bobroff.
Perdedores – Os principais perdedores poderão ser os corretores e os
consultores que oferecem programas de fundos mútuos de administração
compartilhada, principalmente para investidores varejistas, avaliam vários
observadores.
Peter Starr, um consultor da Cerulli Associates Inc., de Boston,
afirmou: “os fundos de fundos certamente causarão alguma canibalização
dos programas de administração compartilhada e, pelo menos, forçarão a
concorrência a mostrar razoavelmente os custos desses programas”.
“Os grandes investidores vão querer que a carteira de investimentos
organizada para eles, por seu corretor, se ajuste às suas orientações”,
assinalou. “Mas os pequenos investidores podem ficar satisfeitos com os
modelos bastante genéricos de distribuição de ativos, possível com uma
abordagem de fundos de fundos”.
Os atuais fundos de fundos variam em estrutura de honorários. Muitas
empresas que utilizam fundos totalmente cativos só cobram as taxas de
gastos de fundos mútuos e nenhum honorário de consultoria. Algumas
também usam classes de ações de fundos básicos para reduzir os custos
para os cotistas institucionais.
Flexível – A nova legislação, assinada em 11 de outubro, também
flexibiliza a onerosa notificação de dados às autoridades e as exigências
gerenciais para os fundos de fundos. As empresas de fundos mútuos não
precisam mais pedir à Securities and Exchange Commission (SEC)
isenções oficiais – que têm demorado até dois anos para ser concedidas –
se o fundo de fundos proposto e os fundos mútuos nos quais investe são
todos da mesma empresa de administração de investimentos.
Segundo a Morningstar Inc., de Chicago, e outras fontes, apenas cerca de
60 destes fundos de fundos foram criados. A consultoria de fundos
mútuos Strategic Insight, de Nova York, estimou em um estudo de fundos
de estilo de vida que o universo de 80 carteiras
de investimento dos quais fazem parte fundos de fundos, tinham ativos
de US$ 32 bilhões em 31 de julho do ano passado.
Os fundos mais antigos, o Vanguard Star Portfolio e o T. Rowe Price
Spectrum, foram os primeiros a receber isenções da SEC para investir em
fundos mútuos afiliados, como fundos de estilo de vida.
Com o afrouxamento dos regulamentos da SEC, os gerentes de fundos
mútuos têm hoje mais opções para estruturar fundos de distribuição de
ativos, como os fundos de estilo de vida. “O resultado mais aparente do
afrouxamento pela SEC sobre os fundos é o efeito sobre a estrutura de
custos desses tipos de fundos”, afirmou Starr.
“Sob o antigo sistema, os reduzidos limites para investimentos em um
fundo mútuo simples obrigavam os gerentes a distribuir seus ativos entre
muitos fundos. É muito caro investir em um grande número de fundos,
porque o cliente precisa pagar tanto pelas taxas de despesa para cada um
desses muitos fundos, bem como a taxa de administração ao aplicador de
investimentos.
Poucos – O novo sistema permite ao gerente investir em menor número
de fundos, o que é mais eficaz em termos de custo e de relacionamento
com o cliente”, disse.
Dan Gross, sócio da Scudder, Stevens & Clark Inc., de Boston, que oferece
uma nova série de fundos de fundos, declarou que o conceito é mais
eficiente porque oferece ao gerente de fundos mútuos a capacidade de
investir uma pequena quantia de dinheiro em um “pool” maior.
“Investir em um fundo de fundos é muito mais fácil do que tentar duplicar
o estilo e o desempenho de um grande fundo mútuo. É muito dispendioso
cuidar de todas as transações necessárias para negociar todos esses
papéis separados em carteiras menores”, explicou.
Gross acrescentou que a pesquisa de mercado da Scudder revelou que
muitos investidores individuais e institucionais preferem investir em um
fundo de fundos porque cada classe de ativo usada tinha um histórico
publicado, além de ser fácil de acompanhar.
Mas o modelo que a nova legislação codifica – fundos de fundos
compostos de fundos afiliados – já pode estar um pouco desatualizado,
afirmou Ken Berman, diretor assistente da divisão de administração de
investimentos da SEC.
“A nova lei contém artigos destinados a codificar uma série de isenções
concedidas pela SEC no passado aos fundos de fundos, usando fundos
afiliados. Mas a nova lei codifica um modelo que foi popular há dois anos,
não necessariamente o modelo que o mercado quer hoje”, disse Berman.
O modelo mais recente centra-se em investimentos diretos em ações e
bônus nacionais, com investimentos em outros fundos mútuos para certas
classes de ativo – ações internacionais, imóveis e mercados emergentes.
“Creio que as pessoas examinaram a nova ordem legislativa e
perceberam que não poderiam necessariamente obter o que queriam
dela. Temos visto um fluxo firme e constante de pedidos de isenção para
esse novo tipo de modelo”, declarou Elizabeth Osterman, diretora
assistente do escritório de regulamentação de empresas de investimento
da divisão de administração de investimentos da SEC.
A SEC também vai examinar pedidos de isenção dos limites estabelecidos
sobre o nível que pode ser investido em fundos com famílias externas de
fundos, disse Berman. “A legislação frisa que a SEC está esperando
apreciar isenções bem pensadas, com vistas a uma eventual atualização
do modelo posteriormente”, observou.