“Desastre” de 2014 dificulta superação da meta fiscal em 2015, di...

31-03-2015  –  16:51:31

 

A meta fiscal de superávit de 1,2% do PIB em 2015 será “bastante difícil” de ser alcançada, na avaliação de Marcelo Carvalho, economista-chefe do BNP Paribas. Ele enumera alguns fatores para esse prognóstico, sendo o primeiro deles o “desastre” que foi o déficit fiscal de 0,6% do PIB em 2014. “O ponto de partida é pior do que se imaginava. Quando o ministro Joaquim Levy anunciou a meta ainda não sabia do resultado de 2014, que foi muito ruim”, fala Carvalho. Pelos dados históricos do Fundo Monetário Internacional (FMI), diz o especialista, poucos países no mundo conseguiram fazer um ajuste tão significativo em tão pouco tempo, ainda mais em um ambiente de recessão econômica – o BNP Paribas projeta uma queda de 2% do PIB brasileiro em 2015.

A queda do PIB, aliás, é o segundo ponto colocado por Carvalho para explicar sua descrença no superávit de 1,2%. “Não é um ambiente em que as receitas sobem fortemente, esse é o quadro pelos dados de hoje, com a arrecadação aquém do que se gostaria para atingir a meta”. Pelos dados divulgados nesta terça-feira (31/3), o setor público apresentou um déficit de R$ 2,3 bilhões em fevereiro. “O terceiro fator é que não é fácil aprovar o que precisa ser aprovado no Congresso, que é mais hostil do que no passado. O Levy está fazendo um esforço hercúleo de convencimento em Brasília”.

Apesar da avaliação, o economista do BNP Paribas entende que, caso o governo consiga metade do objetivo fiscal, já será um “esforço notável, e um desempenho excepcional, dado o contexto”, principalmente para a percepção das agências de classificação de risco.

Racionamento e Lava Jato

Para a projeção do PIB brasileiro, tão abaixo do consenso do mercado (o último boletim Focus aponta retração de 1% para este ano), Carvalho aponta três fatores também – um deles é o risco de racionamento de água, mais concentrado na região sudeste, e de energia elétrica em todo o país. O economista lembra que, em 2001, ano do “apagão”, as análises apontaram para um impacto de 1,5 ponto percentual no PIB. Para o risco de racionamento de água, “como não há precedentes”, as estimativas ficam menos precisas, mas como esse é um risco mais concentrado no sudeste, e em SP especificamente, o impacto tende a ser bem menor, de 0,2% a 0,3% do PIB, prevê o especialista.

Outro motivo para a projeção do BNP Paribas para o PIB brasileiro é o ajuste da política fiscal e monetária simultaneamente, “que na verdade são muito saudáveis para o médio e longo prazo, mas que traz sim uma queda da atividade no curto prazo”. Além disso, contribuem para as perspectivas negativas os efeitos da operação Lava Jato e os impactos na Petrobras e sobre a economia como um todo.