Quem é quem em fusões

Edição 159

A retomada das operações de fusões e aquisições no ano passado, que manteve o ritmo no primeiro trimestre deste ano, anima o mercado depois de anos de refluxo

Cada qual a seu modo, as instituições financeiras que trabalham com fusões e aquisições no Brasil movem estrategicamente suas peças com o objetivo de atender ao reaquecimento desse mercado, seja a fim de manter a liderança, seja para conquistar espaços ainda não ocupados. A retomada no volume das transações, iniciada no ano passado, mostra fôlego também no primeiro trimestre de 2005 e, na visão de alguns especialistas, dá sinais de que deve perdurar nos próximos anos – a menos, é claro, que o País seja novamente sacudido por intempéries de ordem macroeconômica.
Números da KPMG mostram que em 2004 o número de quase 300 transações efetuadas no Brasil reverte a retração sofrida em 2002 e 2003, embora ainda não encoste nos dois picos vividos no País nos últimos anos: um em 1997, auge das privatizações, com 372 operações fechadas, e outro em 2000, ano de forte crescimento do PIB e do boom da nova economia, com 353 transações.
O primeiro trimestre do ano confirma o ritmo de alta em 2005, com 77 operações registradas, e mantém o Goldman Sachs como o banco de investimentos líder em fusões e aquisições no Brasil, de acordo com ranking de advisors divulgado pela Thomson Financial. Em segundo lugar vem o JP Morgan e, em terceiro, o escritório de advocacia Pinheiro Neto.
A recuperação estampada nos números causa reações diversas entre os especialistas das instituições financeiras mais atuantes na área. Há quem veja os dados com euforia e outros que enxergam neles apenas uma recomposição do mercado após dois anos de fraca atividade. Estes questionam se tal recuperação, ilustrada por cifras milionárias e até bilionárias, constitui de fato uma tendência bem definida, uma vez que estaria distorcida por grandes operações pontuais realizadas no último ano, como a compra da AmBev pela Interbrew, estimada em US$ 11,5 bilhões, e a do controle acionário da Embratel pela Telmex, por US$ 360 milhões.
Independente da divergência de opiniões, esses profissionais sabem que não podem desgrudar os olhos dos movimentos de compra, vendas e associações entre empresas, especialmente quando essas transações são favorecidas por uma conjunção de fatores: a estabilidade monetária, a queda no risco-Brasil, o aquecimento econômico que passou a ser vislumbrado desde o ano passado, e a liquidez de um capital internacional ávido por alocar seus recursos nos países em crescimento.
Ainda que se tema uma retração da economia mundial causada pelos gigantescos déficits gêmeos norte-americanos, pelo dólar em baixa e pela escalada do petróleo, alguns especialistas ponderam que esse cenário de risco acaba levando os recursos transnacionais de longo prazo a buscar diversificações, e portanto a incluir os países latino-americanos em seu leque de investimentos. (leia box/matéria à página 40 sobre o pano de fundo macroeconômico das fusões e aquisições no Brasil e as principais tendências).
Além disso, começa a ser observado um movimento, até então inédito, de empresas brasileiras de grande porte comprando ou se associando a empresas de capital estrangeiro no exterior. Outros fatores capazes de influenciar positivamente o número de transações será a implementação das Parcerias Público-Privadas e um rescaldo das privatizações, principalmente na área de concessão de rodovias, e em empresas de gás e saneamento. Também são esperados rearranjos e consolidações em diversos setores, como os de telecomunicações, energia elétrica, financeiro e de bens de consumo.
Enquanto a maré ainda está para peixe, os advisors que atuam nas operações de fusões e aquisições no Brasil não perdem tempo e são facilmente identificáveis segundo pelo menos cinco perfis diferentes. Há o grupo dos grandes bancos de investimentos estrangeiros, o dos grandes bancos de capital nacional, o de bancos brasileiros com parcerias internacionais, o de pequenos bancos brasileiros com atuação local, e o de empresas de auditoria. Investidor Institucional ouviu pelo menos um representante de cada um desses grupos.

Quem é quem – O primeiro deles, formado pelas instituições estrangeiras, opera em transações de grande porte e têm uma clara vantagem comparativa no que se refere às chamadas operações cross border (transnacionais) que, segundo dados da KPMG, representaram a maioria em 2004. Nesse grupo, o maior expoente, dentro e fora do Brasil, é o Goldman Sachs. No País, a instituição aposta muitas fichas nesse mercado e assumiu claramente o objetivo de manter-se como líder absoluto. No ano passado ganhou forte projeção ao intermediar a operação AmBev/Interbrew, que sozinha respondeu por 82% do mercado.
O Goldman Sachs compete diretamente com outras casas de investimento estrangeiras com pesada atuação internacional, como Merrill Lynch, JP Morgan, Credit Suisse First Boston, Morgan Stanley, WestLB, UBS, ING, Deutsche Bank, NM Rothschild, Citigroup e BNP Paribas. Nesse grupo, a atuação em fusões e aquisições é mais volátil, pois para esses bancos é muito fácil entrar e sair do Brasil, montando e desmontando equipes conforme o ciclo de alta ou baixa dos mercados. Essas instituições competem também com grandes bancos estrangeiros no Brasil que atuam não somente na área de atacado, como também na de varejo, caso do ABN Amro Real.
O segundo perfil citado, formado pelos bancos brasileiros com forte atuação na área de investimentos, a exemplo do Unibanco e do Fator, tem como principal poder de fogo a maior proximidade com o cliente local, e portanto uma rede de relacionamento em tese mais intensa e solidificada que seus pares estrangeiros. Os dois bancos dados como exemplos contam com profissionais que acompanham de perto o setor de fusões e aquisições de maneira contínua há décadas, independentemente dos ciclos de alta e baixa.
O terceiro grupo, representado pela Rio Bravo Investimentos, alia a vantagem da presença local, e toda a rede de relacionamentos que ela traz, com a facilidade ter um canal no exterior, por meio de uma associação internacional. No caso, a Rio Bravo firmou parceria com o banco de investimentos do alemão Dresdner, o Dresdner Kleinwort Wassert, sendo que Kleinwort tem origem inglesa e o Wassert, norte-americana.
O quarto grupo, de pequenos bancos, é formado por equipes enxutas, que ganham no quesito agilidade e disputam transações de volumes menores, envolvendo empresas de médio ou pequeno porte. No caso do Stratus – Banco de Negócios, a atividade de fusões e aquisições é acompanhada pela atuação especializada em private equity e venture capital, o que leva a ganhos de sinergia, principalmente devido à crescente participação do capital de risco no mercado de fusões e aquisições brasileiro.
E finalmente o quinto grupo, formado por empresas de auditoria, como KPMG, Deloitte e PricewaterhouseCoopers, opera em larga escala, ou seja, tem como estratégia participar de um grande número de transações de pequeno e médio porte. Embora façam parte de uma rede transnacional, estejam presentes em mais de 100 países e atendam às maiores empresas do mundo, essas firmas submetem-se a legislações como a de Sarbanes-Oxley, segundo as quais não podem oferecer outros tipos de serviços a seus clientes de auditoria, a fim de evitar conflitos de interesse. Com isso, a atuação em fusões e aquisições fica restrita a não-clientes.
A seguir, nas reportagens que publicamos a seguir, os especialistas revelam suas principais estratégias de atuação.