Esperando bons ventos | Gestores e consultores traçam boas perspe...

O ano de 2019 deve trazer boas oportunidades de retorno em um amplo leque de ativos. A avaliação é dos gestores e consultores que participaram do 19º Fórum Perspectivas de Investimentos 2019, promovido pela revista Investidor Institucional, entre 27 de novembro e 6 de dezembro últimos, em Curitiba, Rio de Janeiro, São Paulo, Recife e Brasília. No primeiro bloco do encontro realizado na capital paulista, que contou com uma plateia de 80 pessoas, formada em sua grande maioria por dirigentes de entidades fechadas de previdência complementar (EFPCs) e RPPS, o head de renda variável da Santander Asset Management (SAM), Roberto Reis, traçou um cenário promissor para as aplicações em ações. Ele observou que a permanência da taxa Selic e da inflação em patamares reduzidos somada às reformas estruturais na economia planejadas pela nova administração federal geram grande otimismo no mercado.
“É um entusiasmo mais do que justificado, pois as reformas, se executadas nas proporções apropriadas, permitirão uma mudança de patamar estrutural. O Brasil tem tudo para aposentar de vez o pêndulo inercial que, há tempos, provoca elevações da Selic na esteira de altas da inflação”, comentou o executivo.
Igualmente confiante, Reis projetou para 2019 um crescimento do PIB doméstico da ordem de 3% e uma oscilação do Ibovespa, o índice dos negócios realizados na B3, na faixa de 100 mil a 115 mil pontos. O que o incomoda, por razões óbvias, é alocação ainda extremamente baixa dos investidores institucionais em renda variável. “Os fundos de pensão chegaram a aplicar 9% de seus recursos em ações, mas o percentual caiu ao longo do último ano. O comando central do Santander, na Espanha, não entende esse desprezo dos investidores institucionais locais em relação à renda variável”, cutucou.
O conservadorismo dos fundos de pensão contrasta, a seu ver, com o intenso processo de amadurecimento do mercado acionário brasileiro ao longo dos últimos anos. Como exemplo dessa evolução, ele citou a perda de espaço no Ibovespa dos grandes produtores de commodities, que respondiam por algo em torno de 60% dos negócios no pregão nacional há dez anos e, desde então, perderam espaço na bolsa de valores para segmentos mais atrelados à economia interna. “O único porém é o agronegócio, que tem grande participação na geração de riqueza no país, mas segue mal representado no índice da B3”, assinalou.
Com rentabilidade acumulada de 103,9% de 2012 a novembro do ano passado, as carteiras da SAM apresentam boa concentração nos setores de comércio, serviços e bancos. Alguns exemplos são Arezzo, Renner, Localiza, CVC e Itaú, negócios nos quais, em sua maioria, a asset mantém posições acionárias há muitos anos. O varejo, avaliou Reis, é uma opção que deve ser seriamente considerada pelos investidores, pois os custos do setor se encontram em níveis muito baixos, “na unha”, e a lucratividade está crescendo.
“Como o nível de endividamento das famílias baixou aos patamares registrados em 2007, há um espaço apreciável para o crescimento das vendas do comércio, tendência que poderá ganhar corpos se as primeiras medidas econômicas do novo governo federal gerarem confiança na população”, comentou ele.

Três forças – A sócia da TAG Investimento, Francisca Albuquerque Brasileiro se concentrou na análise do mercado internacional. Na sua leitura, as três forças que poderão alterar o panorama global são a guerra comercial entre Estados Unidos e China, o provável término do ciclo de crescimento da economia norte-americana e a tendência mundial de alta nos juros e aperto na liquidez – que sinalizaria com uma migração de recursos para títulos públicos de nações mais sólidas, Estados Unidos sobretudo, e o enxugamento de investimentos externos em países emergentes. “Não dá para prever o que vai acontecer. Mas, apesar de tudo, o cenário pode ser favorável para o Brasil no nicho dos emergentes, já que a Ásia enfrenta problemas”, disse.
No âmbito doméstico, ela ressaltou a confiança gerada nos investidores pelos critérios técnicos adotados na escolha dos integrantes da nova equipe econômica federal. Francisca destacou, em particular, a indicação de Joaquim Levy, ex-superintendente da Bradesco Asset Management e ex-ministro da Fazenda, para a chefia do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). “A elevada dívida pública preocupa, mas o mercado está otimista com o novo governo”, observou.

Selic baixa – Quaisquer que sejam os contextos local e global, os investidores institucionais terão, na avaliação de Edivar Vilela de Queiroz Filho, CEO da Luz Soluções Financeiras, de encarar dois fatos: a taxa Selic permanecerá baixa e os fundos de pensão terão de se modernizar para atender os parâmetros estabelecidos pela Resolução 4.661 do Conselho Monetário Nacional (CMN), de maio de 2018. “Muitos dirigentes de fundações de previdência ainda se queixam da 4661, mas não há o que fazer. Os fundos de pensão terão de passar pelo mesmo processo vivido pelos bancos em decorrência da Resolução 4557 do CMN”, assinalou.
A regra, na visão do consultor, é oportuna. Seu maior mérito, prossegue, é estabelecer estruturas adequadas à complexidade das fundações de previdência e, também, às suas opções de ativos. “Algumas entidades fechadas de menor porte apostaram em investimentos ‘exóticos’, mas, com frequência, elas não contam com meios para, por exemplo, fiscalizar devidamente aplicações em fundos de participações em florestas”, contou.

Dívida privada – Ao abrir a segunda parte do evento, a CEO e co-fundadora da Captalys, Margot Greenman, destacou em sua apresentação as oportunidades no nicho de dívida privada, segmento ainda pouco explorado no mercado local que promove a desintermediação financeira, sem a necessidade de participação dos bancos. Diferentemente de seu par mais conhecido no país, o crédito privado, em que os ativos que compõem os fundos são decorrentes de empréstimos concedidos pelos bancos, no mercado de dívida privada são as próprias gestoras de recursos que fazem a originação e concessão do crédito, conseguindo dessa forma, segundo a especialista, oferecer melhores retornos ao investidor.
Margot apontou as pequenas e médias empresas (PMEs) como um público em potencial a ser explorado pelas assets do mercado que tem condições de oferecer crédito por conta própria. De acordo com dados apontados pela especialista, aproximadamente 53% das PMEs não têm nenhum tipo de acesso ao crédito, e das que tentaram buscar, 82% foram rejeitadas. “O Brasil ainda tem uma alta concentração bancária, e existe uma elevada demanda por crédito, o que representa uma grande oportunidade para gestoras atuarem na originação dos ativos”.
Em termos globais, cerca de 54% dos investidores institucionais fazem investimentos em ativos de dívida privada, sendo que outros 13% já sinalizaram sua intenção de iniciar a alocação no segmento. “Ou seja, 2/3 dos institucionais no mundo investem na classe de ativo, que já está consolidada no mercado global”. Além disso, esse é um mercado que gira em torno de US$ 680 bilhões, e segundo informações da gestora da Captalys, nos próximos cinco anos a expectativa é que esse montante dobre de tamanho.

A especialista avaliou ainda que o Brasil é dentro da América Latina um país com boas condições para receber a expansão do mercado de dívida privada, diante da maturidade alcançada pelo nicho em praças como Europa e Estados Unidos. “Os investidores globais estão em busca de alocação, assim como as empresas estão buscando funding fora dos bancos”. Margot ressaltou também que há alguns anos, quando a Selic estava em 14%, era difícil convencer os investidores a sair dos títulos públicos. No entanto, com as perspectivas de continuidade dos juros baixos, aumenta o incentivo para outras classes dentro da renda fixa, notou a gestora.

Alternativos – Já o gestor da BNP Paribas Asset Management responsável pela área de investimentos alternativos, Luiz Eugenio Figueiredo, falou sobre o ambiente favorável esperado para os próximos anos para a participação do mercado de capitais no setor de infraestrutura, sendo uma das principais alternativas à disposição às debêntures que contam com a isenção fiscal tanto para PF quanto PJ. O especialista ressaltou o ritmo crescente das debêntures incentivadas, que em 2013 somavam R$ 4,4 bilhões, subiram para R$ 9 bilhões em 2017, e saltaram para R$ 15 bilhões em 2018, até setembro.
Entre as vantagens do investimento em infraestrutura, Figueiredo citou a baixa correlação com outras classes, contratos de longo prazo com fluxo estável de caixa, e corrigidos pela inflação. Segundo o especialista, nos últimos anos o Brasil investiu cerca de 2% do PIB em infraestrutura, contra uma média global de 3,5%, e dos 6% que seriam necessários para o país resolver os gargalos do setor, o que denota, de acordo com o especialista, o grande potencial a ser explorado no segmento.
“Hoje temos um cenário positivo para que ocorra esse desenvolvimento, com o comprometimento do novo governo com a infraestrutura e com o Programa de Parcerias de Investimentos com a nomeação do então secretário do PPI, Tarcísio Gomes de Freitas para o Ministério da Infraestrutura”, afirmou o gestor da BNP Paribas Asset, que citou também a chegada de Joaquim Levy à presidência do BNDES como uma sinalização importante do provável aumento da atuação do mercado no financiamento à infraestrutura.
Figueiredo mostrou em sua apresentação dados que indicam que o PPI, durante o governo Temer em sua maior parte, promoveu leilões de 75 projetos que levantaram R$144 bilhões, sendo que ainda há 100 projetos na carteira com potencial para movimentar outros R$ 143 bilhões. “Vale ressaltar que os movimentos feitos pelo governo tiveram um impacto tanto quantitativo, como também qualitativo. As concessões de aeroportos recentes atraíram operadores estrangeiros com muita experiência e capacidade”.