Estratégia veio para ficar | Impulsionada pelos juros baixos dos ...

Edição 343

As alocações em fundos de exterior cresceram mais de dez vezes em três anos no Itaú Asset, passando de R$ 2 bilhões em 2018 para R$ 24,6 bilhões no final de 2021, somando fundos locais dedicados a alocação internacional e fundos de retorno absoluto que incluem parte da alocação em ativos internacionais. Apesar da recente elevação da taxa Selic, a perspectiva é de que a diversificação internacional já esteja consolidada como um movimento que veio para ficar, analisa Eduardo Camara Lopes, chief investment officer do Itaú Asset.
“O período de juros muito baixos fez com que esse gênio saísse da lâmpada e trouxesse a necessidade de construir os portfolios com uma baixa correlação e defesas naturais contra o risco”, diz Lopes. O problema é que, como os ativos no Brasil têm alta correlação entre si, não se consegue montar carteiras com 40% de renda fixa e 60% de renda variável, como acontece nos EUA . Aqui, quando há um momento de forte aversão ao risco vão todos para a mesma correlação.
Neste ano, com a economia brasileira vivendo um momento desafiador, de revisão PIB para baixo, inflação e juros para cima, além de incertezas eleitorais, Lopes defende a diversificação no exterior. “Os ativos locais historicamente performam mal nesse ambiente, então o momento aqui é ruim”, observa.
A alta do real frente ao dólar nesse início de ano, por sua vez, reverte a situação de ganho cambial para os fundos internacionais até 2021. Segundo o gestor, porém, o real irá se apreciar em 2022 mas sempre acompanhado pelo valor dos ativos. “Não há um cenário em que o real se aprecie e os ativos não sigam junto. Ao longo dos últimos cinco anos, o dólar teve um papel importante na diversificação e trouxe maior oportunidade de defesa para os portfolios internacionais; agora essa proteção ficou cara mas deverá ser compensada pela apreciação dos preços dos ativos”, acredita.
Lopes pontua que a volatilidade começa a aumentar e o ciclo econômico nos EUA está em fase de transição à medida que o Fed prepara a alta dos juros. “Nosso cenário básico para os EUA ainda inclui uma apreciação entre 10% e 15% no S&P este ano; vemos um horizonte benigno para a expansão do valor das empresas listadas, porém em ambiente muito mais volátil”, afirma. A projeção da asset é de que o Fed faça quatro elevações do juro este ano mas em contrapartida o endividamento dos indivíduos e das empresas nos EUA caiu, os consumidores e companhias estão menos alavancados, o que deve suavizar o impacto.
A área internacional no Itaú é grande e crescente porque o market share local já chegou ao patamar que se queria, então a expansão da casa agora está ligada à internacionalização, diz Lopes. “O objetivo é sermos percebidos como um gestor de excelência lá fora e o principal nicho para isso é o dos mercados emergentes, no qual pretendemos competir com os melhores players globais”, afirma. Foram lançados os dois primeiros fundos dedicados a esse segmento, que serão oferecidos para estrangeiros mas também acessíveis aos investidores no Brasil por meio de feeder funds – um de renda variável, referenciado no MSCI Emerging Markets, e um de dívida em moeda forte desses mercados, que tem o EMBI Global Diversified do JP Morgam como benchmark.
A casa fechou o ano passado com um volume total de R$ 831,7 bilhões sob gestão, reforçou os seus times de profissionais em 2021, inclusive com ex-integrantes de outras casas globais, para poder estruturar novos produtos na área internacional. O investimento é feito tanto por meio de gestão passiva quanto ativa e há, por exemplo, uma família nova de fundos temáticos “transformacionais”, que investem em agro, energia limpa e urânio, além de empresas expostas ao setor de saúde.

Com a retirada de estímulos monetários da sua economia os EUA lideram a fila para a virada do ciclo econômico no mundo, mas ainda há muitas economias desenvolvidas que estão da metade para o fim dessa fila e que apresentam oportunidades relevantes de investimento, aponta Marcus Vinicius Sena, gestor responsável pela área de funds of funds (Fofs) internacionais da Bradesco Asset Management (Bram). “O Fed, se não surpreender, deverá fazer quatro altas do juro este ano, como parte de um ciclo total de oito altas e o vento será contrário aos ativos de risco, é verdade, mas não será uma bola de ferro para os mercados”, avalia. Ainda há excesso de liquidez, contudo, e a visão é negativa para a renda fixa global porque os spreads estão comprimidos, o que significa que à exceção dos bonds high yeld, os retornos não são mais tão atrativos.
Em equities, a visão da asset é otimista para algumas regiões e neutra para outras. Os EUA entram na categoria neutra no momento e a Europa inspira otimismo porque ficou para trás no ano passado e tem setores que devem se beneficiar com a saída da pandemia, valorizando marcas tradicionais como Danone, Unilever e empresas do setor financeiro europeu.
Se há uma certeza é a de que as oportunidades estarão fora de tudo o que garantiu retornos gigantescos nos últimos anos, porque esses papéis dificilmente terão um terceiro ano de ganhos tão altos. “A valorização dessas companhias ficou concentrada nos EUA, incluindo as ações de tecnologia, conhecidas como “mega caps”, como Apple, Facebook, Amazon e outras na casa dos trilhões”, lembra. Mas a tendência este ano é que sigam no ritmo fraco de dezembro passado. A perspectiva da asset é otimista com a classe de ações de valor, dividend yeld e setores mais tradicionais como seguradoras, bancos e outros já consolidados e que devem voltar a performar bem.
No Brasil os preços estão relativamente baratos e o ano tende a ser positivo na bolsa, independente do cenário eleitoral, porque “ao gringo importa pouco se é a esquerda ou a direita que vai vencer”, define. A China também é vista com otimismo e deve crescer a longo prazo, dentro de três a cinco anos, ainda que sem muita previsibilidade para os próximos seis a oito meses. O gestor lembra que a tese do crescimento chinês é bem sólida e o preço está ficando atrativo. “Não foi bem este ano, mas o mercado chinês tem algumas peculiaridades. Tanto é que, embora o nosso fundo de global equities já tenha feito um shift e esteja mais para a classe de valor, afastando as teses de crescimento por conta do juro em alta e pela rotação do mercado, o portfólio de China segue voltado para o crescimento porque olha para os próximos três a cinco anos”, detalha.
Com R$ 12 bilhões em Fofs internacionais (o total em Fofs sob gestão é de R$ 70 bilhões), a Bram divide sua grade internacional entre mandatos exclusivos, fundos multi gestores e produtos espelho. A grade foi alterada porque tinha uma visão mais conservadora quanto a não alocar em reais, explica Sena. “Mudamos isso porque para muitos investidores faz sentido ter risco internacional na moeda local, então agora as três classes – renda fixa, renda variável e multimercados – têm exposição global com proteção cambial e há versões com e sem hedge cambial para quase todos os fundos. A proteção, que havia apenas nos multimercados, passou a ser oferecida também na renda fixa e na bolsa.
Nos multimercados globais, a preferência da gestora recai sobre três subclasses. A de long&short porque este ano, ao contrário de 2021, há uma tendência mais clara de mercado; os fundos de eventos corporativos porque, por mais que o juro suba, as fusões e aquisições vão continuar em alta e essa classe captura bem os ganhos ao negociar spreads dessas operações, então o portfolio passou a dar peso maior a isso.
A terceira subclasse é a de multimercados alternativos, incluindo um FoF dedicado aos Reits (fundos de investimentos em ações do setor imobiliário nos EUA) “Tiramos esse fundo do papel há quatro meses porque em 2021 começou a recuperação da classe imobiliária como um todo e, embora a alta do juro possa ter um efeito ruim, não dá para enxergar só isso. Analisamos os sete ciclos de alta do juro nos EUA desde os anos 1940 e em cinco deles os Reits subiram porque há vários outros fatores econômicos envolvidos nesse mercado, então olhar apenar para o juro é uma ótica pobre”, conclui Sena.