Em ritmo de maratona | Para o diretor de investimentos do Economu...

Edição 128

Sua esposa já está acostumada. Ao arrumar a mala do marido para uma viagem de trabalho, seja de apenas um dia ou de vários dias, nunca deixa de colocar junto com a camisa social, as meias e a gravata, também um bom par de tênis e um calção. Para fundistas como o diretor de investimentos do Economus, Paulo Leite Julião, a corrida é quase uma religião. “É um momento só meu, onde aproveito para fazer as minhas orações, pensar nas obrigações familiares, nas pendências do trabalho…”, diz.
Ele começou a correr há cerca de vinte anos, para manter a forma enquanto praticava esportes mais radicais como motocross e esqui aquático. Nessa época corria ainda de forma irregular, sem muita constância, fazendo distâncias pequenas pelas ruas do bairro onde mora, o alto de Pinheiros, em São Paulo. Mas aos poucos a moto e a lancha foram sendo deixadas de lado e a corrida foi tornando-se mais regular, com tempos mais baixos e distâncias mais longas. Em 1994 ele correu a sua primeira maratona, nas ruas de Nova York. A prova é uma das mais importantes e celebradas do mundo, com mais de 30 mil corredores participando do circuito que sai de State Island e percorre os bairros do Brooklin, Queens, Bronx e finalmente chega a Manhattan, finalizando no Central Park.
Ele fez os 42 quilômetros da maratona de Nova York em 3:41h, o que dá uma média de 1 quilômetro percorrido a cada 5,2 minutos, um bom tempo para um corredor não profissional. Para ele, a corrida tem uma grande vantagem em relação a outros esportes: não exige parceiro, nem boas condições de tempo nem horário fixo. A qualquer hora, com qualquer tempo, dá para vestir um calção, calçar um tênis e sair para uma boa corrida. Para Julião, a melhor hora é no começo da noite, depois do trabalho, quando chega em casa.
Ele corre regularmente 12 quilômetros por dia, seis dias por semana. De segunda à quinta corre à noite e nos sábados e domingos corre pela manhã. Descansa na sexta, evitando assim emendar um treino noturno com outro realizado logo na manhã seguinte. “É preciso saber dosar a atividade”, recomenda.

Determinação – Preparar-se para uma prova é como preparar-se para uma batalha. Tem que ter objetivos, estratégia e uma determinação feroz. Principalmente quando trata-se de enfrentar os 42 quilômetros de uma maratona. Aos 20 quilômetros da prova o corpo começa a sentir cansaço, aos 25 quilômetros o cansaço aumenta, aos 30 quilômetros você descobre dor em músculos que nem sabia que tinha. Ao ultrapassar a barreira dos 40 quilômetros você continua correndo movido apenas pela sua determinação de chegar ao final. “Hoje, se tivesse que selecionar alguém para trabalhar comigo na fundação, dentro das mesmas condições de conhecimento técnico eu daria preferência a alguém que praticasse algum esporte regularmente”, diz ele. “O esporte traz disciplina, meta, desenvolve a persistência”.
Hoje, às vésperas de completar 50 anos, ele prefere as provas menores. “Acho a meia-maratona uma prova muito mais civilizada”, diz. Ele já correu provas como essa, de 21 quilômetros, em vários países, inclusive em Lisboa, onde conseguiu tirar uma foto com o campeão do percurso de 2000, o queniano Paul Tergat, que também venceu a São Silvestre em vários anos. Sua coleção de medalhas de participação em provas, somando maratonas, meia-maratonas, São Silvestres e provas menores já soma mais de 60. “Guardo todas as medalhas”, diz Julião.

Meta atuarial – No Economus há quatro anos, lá também ele tem colecionado algumas vitórias, só que no campo dos investimentos. Com meta atuarial de INPC+6%, o fundo de pensão da Nossa Caixa está perto de bater a meta neste ano, o que acontecerá se a bolsa de valores subir ainda um pouco em dezembro. “Se o Ibovespa chegar a 10.700 pontos nós bateremos a meta”, garante.
O fundo tem um patrimônio total de R$ 1,26 bilhão, dos quais 77% estão aplicados em renda fixa, 18% em renda variável, 3% em imóveis e 2% em empréstimos aos participantes. Da renda fixa, 15% estão aplicados em títulos e debêntures atrelados a IGP-M e o restante em fundos exclusivos de diversos gestores. Da renda variável, 40% estão em fundos ativos com gestão externa e 60% em uma carteira própria, que há anos vem batendo o Ibovespa sistematicamente.
Neste ano, até meados de novembro, enquanto o acumulado do Ibovespa perdia 26% a carteira própria da fundação ganhava 5,02%. Em 2001, enquanto o Ibovespa acumulou prejuízos de 10% a carteira do Economus lucrou 5,98%. A vantagem da carteira própria em relação ao Ibovespa já vinha desde 1999 e 2000, quando rendeu 183% e 12,34% contra 150% e –10% do Ibovespa, respectivamente.
A carteira própria de ações foi montada com base na estratégia de fugir das ações de telefônicas. “Nós tínhamos ações de telefônicas na carteira, mas aos poucos fomos limpando, porque avaliamos na época que os investimentos que elas tinham feito eram muito altos e não iriam dar os resultados que se esperava”, explica Julião. “Esse foi o nosso grande acerto”.
Hoje,a carteira de R$ 140 milhões tem apenas 4% em ações das teles. O restante dos papéis, poucos por sinal, são de Petrobras, Ambev, Vale do Rio Doce, Pão de Açúcar, Itaú/Itausa e Bradesco. “Não somos aderentes a nenhum índice”, diz o diretor de investimentos do Economus.

Cenário Novo – Segundo ele, a fundação está desenhando um novo cenário de investimentos para o ano que vem, interpretando as mudanças políticas resultantes da escolha de Luiz Inácio Lula da Silva para a presidência. O novo cenário deverá ser apresentado ao Conselho de Administração ainda em dezembro, para votação.
Também está sendo preparado, a pedido da patrocinadora, um estudo para criar um plano de contribuição definida (CD) para o Economus. Atualmente, os 15 mil participantes (10,5 mil ativos e 4,6 mil assistidos) estão em um plano do tipo BD. “Ainda não sabemos se o plano será apenas para novos participantes ou se haverá migração dos atuais”, afirma Julião.

Antídoto contra o stress
A corrida é um esporte bastante difundido entre executivos da área financeira e de investimentos, usada como uma espécie de antídoto contra o stress do dia-a-dia. Mesa de operações e tênis de corrida acabam tendo uma convivência absolutamente democrática nas instituições financeiras. “A corrida é um esporte que tem tudo a ver com o tipo de atividade que a gente tem”, diz o diretor executivo do ABN Asset, Luiz Maia.
Ele próprio é corredor há 25 anos, treinando regularmente quatro dias por semana. Já participou de várias competições, entre as quais três São Silvestres (15 quilômetros), uma meia-maratona (21 quilômetros) e se prepara atualmente para correr uma maratona, possivelmente a de Chicago, nos EUA.
A Maratona de Chicago, aliás, é patrocinada pelo LaSalle Bank, controlado pelo ABN AMRO. “No final das contas, vou acabar participando de uma prova patrocinada pelo próprio ABN”, diz Maia.
Sua paixão pela corrida é tal que ele acabou trazendo o treinador Marcos Paulo Reis, um conhecido preparador de maratonistas, para treinar os funcionários da asset, há seis meses. Dos 50 funcionários da asset, 23 estão treinando corrida regularmente. “Tinha gente que tinha uma vida absolutamente sedentária há seis meses e hoje se prepara para correr a São Silvestre”, diz. Os custos do treinamento são pagos metade pela asset e metade pelo funcionário.
“Corro por que isso representa maior qualidade de vida e também para dar um exemplo de vida aos meus três filhos, que estão entrando na adolescência”, diz o responsável pela área de regimes próprios de previdência do ABN AMRO,
José Edson Lucena. Para Lucena, que corre há 8 anos, “a corrida permite oxigenar o cérebro e é um tempo de reflexão”. Ele já participou de duas São Silvestres.
Entre outros, também costumam correr com regularidade os seguintes profissionais do mercado: Roberto Nishikawa, superintendente da corretora Itaú; João Estanislau de Castro, diretor comercial do Itaú; Walter Pye, presidente do Macquarie no Brasil; Mário Issa, atendimento de institucionais do JP Morgan; Eduardo Mafra, gestor de renda fixa do JP Morgan.