Banco prepara-se para investir em venture capital

Edição 160

Órgão revela com exclusividade à Investidor Institucional que retomará apoio à indústria de fundos de empresas em ascensão

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), através do BNDES Participações (BNDESPar), lança até setembro um programa de apoio à indústria de fundos de investimentos de empresas emergentes (venture capital). Em entrevista exclusiva à Investidor Institucional, o diretor financeiro do banco de fomento, Carlos Kawall, e o superintendente de área de capital, Fábio Sotelino, anunciaram que a iniciativa – onde o banco entra como cotista minoritário do fundo – tem uma clara prioridade em retomar o apoio histórico da instituição ao segmento.
A linha de aplicação teve início há dez anos e desde 2002 não eram feitos novos investimentos porque a direção anterior da instituição teria optado por outras prioridades. “Estávamos apenas investindo na carteira que tínhamos e agora vamos retomar novos incentivos”, observa Kawall. Como conseqüência da reativação, o diretor espera alavancar investimentos privados e de outras instituições como cotistas (veja matéria à página ao lado). “Esses fundos vão fazer o trabalho de investir e gerir esse modelo nas empresas”, diz Kawall.
O diretor afirma que a expertise do banco é vista como fundamental para as instituições públicas e privadas que atuam no segmento – gestores, Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e Centro Brasileiro de Assistência Gerencial à Pequena Empresa (Cebrae) – ou mesmo organismos internacionais, como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). “Entende-se que a entrada do BNDES em determinado fundo ou empreendimento com essas características é um aval técnico muito importante para depois chamar outros investimentos”, diz Kawall.
A ausência do BNDES nos últimos três anos em apoio às empresas emergentes, acrescenta o diretor, foi muito sentida pelo mercado. No momento, o BNDESPar está reunindo os profissionais que cuidavam da área e continuaram a fazer parte de seus quadros para que cuidem do relançamento do programa – ainda sem nome definido. Por enquanto, não estão acertados os valores que serão destinados aos fundos. O total deverá ser divulgado no dia do anúncio oficial. “Certamente será algo bem expressivo”, promete Kawall.
O investimento na carteira de participações para empresas emergentes faz parte do orçamento global de investimentos do banco. Também no caso do BNDESPar, em cada projeto, principalmente os mais relevantes, é analisada a melhor equação de funding [recursos] para si e para a empresa. A orientação tem sido a de aumentar a participação nos setores de softwares, produção de medicamentos e em pequenas e médias empresas.
No caso do setor de informática, trata-se de um segmento que tem uma capacidade de endividamento limitada porque normalmente tem muito pouco patrimônio, está numa fase de expansão e precisa de suporte de capital próprio. “São muito carentes e seu desenvolvimento, embora acelerado, é mais longo e a liquidez é mais difícil de se vislumbrar na fase inicial”, justifica Sotelino. “Recebemos clara prioridade do governo para apoiar a inovação como um todo, com financiamentos e com capital de risco para facilitar e dar suporte de alavancagem”, completa.
O BNDESPar acumula hoje investimentos de R$ 20 bilhões. Em valor de mercado, o número dobra. São mais de R$ 42 bilhões na carteira de ações e debêntures conversíveis em ações. Somente a carteira de ações, em valor contábil, está perto de R$ 16 bilhões e em valor de mercado, de R$ 36 bilhões (em 31 de março) – essa carteira reúne 137 ações de empresas. No ano passado, foram aplicados em renda variável cerca de R$ 1,4 bilhão e neste ano, apenas de janeiro a março, os investimentos já bateram R$ 1 bilhão.

Mais de 30 anos de história
A idéia de criar um braço de suporte no mercado de capitais para o programa de desenvolvimento promovido do BNDES nasceu em 1974, quando foram criadas três empresas: a Investimentos Brasileiros (Ibrasa), do setor de bens de consumo, a Mecânica Brasileira (Embramec), de bens de capital, e a Insumos Básicos (Fibase), de insumos básicos.
Somente em 1982 elas foram fundidas e deram origem ao BNDESPar, que ficou com 100% do capital dessas empresas. Desde então, o órgão tornou-se subsidiária integral do BNDES, mas só em 2001 seus ativos passaram a ser administrados dentro da estrutura operacional do banco de fomento.
Em mais de 30 anos de atividades, dentro das prioridades de governo foram se alterando os focos do BNDESPar. Na década de 70, por exemplo, a meta era implantar a indústria petroquímica no Brasil. Hoje, o foco do modelo é incentivar as exportações, implantar o desenvolvimento tecnológico e fazer o mesmo em relação à industria de farmacologia.