América do Sul abriga CDP | Programa que conta com grande partici...

Edição 222

 

O crescimento das adesões ao Carbon Disclosure Project (CDP) na América do Sul está levando à implementação de um escritório específico do projeto para a região – e que deverá ter competência também sobre o México.
Para concluir o objetivo de formar esta representação ainda neste ano, o CDP, que trabalha para fazer da governança climática um eixo determinante na sustentabilidade dos negócios, está montando seu conselho honorário e consultivo técnico para a região. “Em breve, representantes dos fundos de pensão parceiros serão convidados para a formação dos conselhos”, adianta o presidente executivo da iniciativa para a América do Sul, Giovanni Barontini.
Ele acrescenta que alguns dos convites já foram aceitos. O conselho consultivo técnico terá entre os membros o representante da Previ Rafael Castro, gerente de núcleo da fundação, e também a diretora de sustentabilidade da BM&FBovespa, Sônia Favaretto. No conselho honorário, o presidente da Petros, Wagner Pinheiro, confirmou informalmente sua participação.
Atualmente, o Brasil reúne mais de 10% dos 534 investidores signatários do projeto, que gerenciam no total aproximadamente US$ 64 trilhões em recursos, o equivalente a entre 50% e 60% dos ativos listados nas bolsas mundiais. Dos 55 brasileiros que assinam a iniciativa, 41 são fundos de pensão. Segundo Barontini, a alta adesão no País já traz repercussão no continente. “Entre o ano passado e este, tivemos a adesão de mais três investidores latino-americanos”, informa. O Banco de Crédito do Peru, o Banco de Galícia de Buenos Aires e o Banco Fira, do México, completam a lista de 58 aderentes na América Latina. Para Barontini, com um escritório específico trabalhando na região a expectativa é de crescimento nas adesões. Só no Brasil, espera-se que chegue a 50 o número de fundos de pensão signatários em três anos. “Já temos mais dois interessados que podem ingressar o CDP ainda neste ano”, comemora.
O executivo considera que o grande desafio não é obter crescimento no número de signatários, mas sim fazer com que a gestão climática das companhias se torne parte efetiva do processo de avaliação dos investimentos. “Não há uma receita pronta. Hoje, entendo que muitos veem a sustentabilidade e a questão climática como perspectiva de longo prazo, e isso é um equívoco. Precisamos transmitir a ideia de que a sustentabilidade é um problema para hoje, e não amanhã”, alerta.
Barontini acredita que essas questões deverão fazer cada vez mais parte da decisão de investimento dos aplicadores. Segundo ele, “um grupo minoritário importante” dos signatários globais declarou que irá rever as carteiras de investimento e basear sua composição na capacidade de adequação das empresas a uma economia de baixo carbono em um período de três a cinco anos. “Imagino que em cinco anos já haverá um maior amadurecimento do processo, com um número mais representativo de investidores utilizando a sustentabilidade como critério de definição de investimentos”, estima.
Para o diretor de inovação do CDP Global, Nigel Topping, esse é um processo que tende a se intensificar com o tempo. “Hoje, já é mais desenvolvido do que em 2008, por exemplo”, compara. Topping acredita que os investidores estão elevando suas expectativas em relação às empresas investidas aos poucos, e que logo chegará o ponto em que a sustentabilidade será crucial. Ele afirma que, globalmente, as companhias já começam a ver de forma significativa as oportunidades de uma economia de baixo carbono, e não apenas os riscos. Como exemplo, ele cita prédios cada vez mais eficientes.

Novidades – Os novos projetos do CDP incluem levar seu questionário também para as empresas fechadas. Atualmente, o projeto envia as perguntas apenas para empresas de capital aberto. O CDP pretende envolver seus parceiros nesta nova empreitada. “Queremos que as grandes empresas parceiras envolvam seus fornecedores na iniciativa”, afirma Barontini. Dentro desse contexto, o banco Bradesco e a empresa de papel e celulose Fibria já repassam o questionário para seus fornecedores, para mapear a cadeia.
O projeto deverá também mapear como as empresas estão gerindo seus recursos hídricos, em um modelo parecido com o CDP, batizado de Water Disclosure Project. O questionário será enviado às 300 maiores empresas globais. “Pretendemos determinar como o uso da água pode estabelecer riscos e oportunidades. Este ano, trabalhamos apenas de forma global, mas AmBev, CSN [Companhia Siderúrgica Nacional], OGX, Petrobras e Vale entram no corte e receberam a solicitação de disclosure. A Natura respondeu de forma voluntária”, conta Barontini. Ele completa ainda que a primeira edição brasileira do Water Disclosure Project deverá ser realizada em 2012.

Relatório social – Enquanto o Carbon Disclosure Project segue com metas ambiciosas, a Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp) acredita que os avanços ainda são muito escassos. Na terceira edição de seu relatório social, divulgado neste ano, a entidade considerou que os aspectos socioambientais ainda são vistos apenas como riscos, e não oportunidades. “A sustentabilidade é usada, no máximo, como critério de desempate. Na dúvida, os investidores olham se determinada empresa possui alguma questão grave dessa natureza, que possa trazer impactos negativos no futuro”, afirmou Marcelo Linguite, diretor gerente da Terra Mater Empreendimentos Sustentáveis, uma das empresas parceiras na elaboração do relatório, junto com a BDO. Ele participou do 31º Congresso Brasileiro dos Fundos de Pensão, realizado em Olinda (PE).
Esse é o terceiro ano em que a Abrapp publica um relatório social. Depois de realizar a primeira edição em 2007 e a segunda em 2008, a associação julgou por bem fazer uma pausa em 2009 para reformulação do documento, uma vez que as informações dos primeiros anos estavam muito parecidas. “Não era de nosso interesse apenas replicar os mesmo dados dos anos anteriores”, explica o coordenador da Comissão Técnica Nacional de Sustentabilidade da Abrapp, Rafael Castro. “É importante ter em mente que as informações permitem que as fundações avaliem seu impacto real, que não é apenas econômico, mas também social e ambiental”, completa Linguite.
Para o executivo da Terra Mater, se o documento não trouxer também reflexão, acaba perdendo o sentido. Segundo ele, o ideal seria que houvesse um alinhamento entre os fundos de pensão e as patrocinadoras ou instituidoras em relação a incorporar o tema de sustentabilidade no seu planejamento estratégico. Enquanto os números relativos à publicação de relatório – 53% das entidades fechadas o fazem ante 54% das patrocinadoras – e à possessão de um código de ética estão próximos – 97% para ambos –, os fundos ainda estão distantes das patrocinadoras quando o assunto é a consideração da sustentabilidade em aspectos econômicos – apenas 30% deles o fazem, ante 81% das patrocinadoras.
Apesar do alto número de fundações que possuem um código de ética, apenas 3% delas o divulgam externamente. Para Linguite, essa divulgação poderia trazer um ganho de imagem. “Ainda há uma percepção da sociedade de que os fundos não são muito confiáveis, de que se pode colocar dinheiro e perder tudo. A publicação do relatório social e a disseminação do código de ética junto à sociedade formariam uma espécie de blindagem, com ganho de imagem em relação a probidade, ética e respeito para as fundações.” Na visão do executivo, o setor passa por um momento em que pode trabalhar essa imagem para obter uma opinião a seu favor. “Em última análise, isso ajudaria também a aumentar o número de participantes nas fundações”, acredita.
Linguite ressalta, no entanto, que a adoção de critérios sociais e ambientais de investimentos pelos fundos de pensão ainda está muito lenta. Apenas 20% das associadas da Abrapp utilizam o guia publicado pela entidade em 2005, em conjunto com o Instituto Ethos, de Princípios para Investimentos Socialmente Responsáveis. “Ainda é um número muito baixo e a evolução está devagar”, constata. De acordo com o executivo, ainda falta uma percepção de como a adoção dessas práticas na decisão do investimento pode trazer resultados concretos. “Mas isso também se deve à falta de dados concretos sobre o tema”, pondera.
Ele também destaca que apenas 13% das entidades possuem um comitê de responsabilidade socioambiental dentro de sua estrutura de governança, “o que é um número pequeno”. “Ainda há uma grande dificuldade do setor em compreender como a sustentabilidade impacta os negócios.” Linguite acrescenta que, além de a sustentabilidade exercer uma influência positiva sobre os retornos, a preocupação com os recursos naturais pode gerar economias. “A tendência é que esses temas se tornem um diferencial de competitividade”, aponta o executivo.