Sem sustos no ano eleitoral | Mudança na presidência não deve aba...

Edição 211

As eleições presidenciais de vem ter impacto na economia e no mercado de capitais brasileiro em 2010, mas a volatilidade esperada para este ano não poderá ser comparada à “loucura” que tomou conta de 2002 nem à total tranquilidade de 2006, quando a reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva era dada como certa. Na opinião de Marcelo Mello, vice-presidente da SulAmérica Investimentos, em 2002 havia um cenário de ruptura. “Dessa vez, toda a conquista que vimos com o governo Lula, de estabilidade macroeconômica, já foi dada. O mercado não consegue enxergar, nas opções que temos para as eleições, um cenário de mudanças abruptas”, diz.
Para o executivo, é improvável que haja volatilidade causada exclusivamente pelo pleito. No entanto, o mercado terá incertezas, já que “por mais que haja estabilidade em termos de política, um novo governante sempre virá com novas ideias e filosofias de trabalho”. “Mas acredito que não haverá impacto significativo.” Ele lembra que as atenções este ano estarão voltadas especialmente para o Banco Central, cujo presidente, Henrique Meirelles, deverá ser substituído.
Segundo Alexandre Póvoa, sócio-diretor da Modal Asset Management, “estamos em uma situação de país que certamente evitará um cenário como o de 2002”, quando houve a transição de Fernando Henrique Cardoso para Lula e havia o temor de um calote na dívida. No entanto, Póvoa afirma que, atualmente, os dois candidatos colocados como favoritos – Dilma Roussef e José Serra – não são exatamente representantes da continuidade. “Dilma está um pouco mais à esquerda de Lula e Serra também à esquerda de um governo típico do PSDB”, opina.
Póvoa lembra que o mercado dá mais atenção aos projetos relativos à política monetária e cambial. “Vai haver muito debate em torno desses temas”, salienta.

Inflação – Adalto Lima, economista-chefe da Western Asset, concorda.
Para ele, não faz sentido haver um nível de volatilidade equivalente ao de 2002, porque hoje as reservas internacionais são bem maiores e o sistema de metas de inflação está mais consolidado. “Há uma percepção de que a inflação baixa é uma demanda da sociedade. Qualquer candidato que fale o contrário sabe que o custo político será grande”, diz. Para o economista, nenhum dos dois candidatos favoritos representa ruptura em termos de políticas macroeconômicas. “Eu diria que este ano está mais perto de um cenário de 2006 do que de 2002”, completa. Para Lima, a incerteza maior é em relação aos rumos da economia global e como os candidatos propõem atuar frente a isso. “O fato de as eleições ocorrerem em meio a uma economia ainda incerta pode trazer alguma volatilidade.” Para Paulo Veiga, sócio-diretor da Mercatto Gestão de Recursos, as eleições terão leve impacto na economia. Segundo ele, deverá haver certa deterioração na qualidade dos gastos públicos em 2010, por se tratar de um ano eleitoral. “Em todos os governos, e particularmente no atual, o histórico é de grande facilidade de gastos na área de pessoal”, diz, completando que esse tipo de gasto é estrutural, mas não é estruturante do ponto de vista de alavancagem. “Você pode aumentar e diminuir impostos, mas não tem como tirar de volta o salário. É um gasto de muito má qualidade, não é pontual e tem um custo permanente.” Eduardo Yuki, economista-chefe da BNP Paribas Asset Management, analisa que nenhum dos dois candidatos mais fortes alteraria o tripé econômico do Brasil: câmbio flutuante, meta de inflação e controle das contas fiscais. “Principalmente porque no Brasil a popularidade do presidente está ligada ao controle inflacionário”, salienta.
Em relação aos juros básicos da economia, a maior parte dos especialistas afirma que a alta deve ocorrer em abril, mas há chances de ser adiantada para março. Mello, da SulAmérica Investimentos, aposta em aumento de 2,5 pontos percentuais na atual taxa de 8,75% ao ano. “Acho que ainda existe espaço para o BC continuar com essa política de manutenção de taxa de juros e, no momento que a atividade pegar mais forte e a ociosidade se mostrar neutra, será o início do aperto monetário. Será gradual e já está precificado pelo mercado.” Póvoa, da Modal Asset Management, também projeta taxa em 11,25% até o final do ano.