Edição 212
A Watson Wyatt tinha menos tempo de Brasil – apenas 12 anos – e era bem mais agressiva em sua estratégia comercial. A Towers Perrin acumulava um histórico maior, com 30 anos em terras brasileiras, e atuava de forma mais conservadora. A Watson contava com um quadro mais jovem e maior rotatividade de pessoal – bem diferente de sua antiga concorrente, a Towers, que mantinha uma equipe de profissionais mais experientes. As diferenças, que não paravam por aí, agora vão ficar para trás, porque já foi iniciado o processo de unificação das duas gigantes mundiais da área de consultoria em Recursos Humanos. Com a entrada, em 1º de janeiro de 2010, das ações da recém-nascida companhia nos pregões da Nasdaq e da NYSE, a fusão que resultou na criação da Towers Watson é oficial e já começa a ser posta em prática.Ainda que a reestruturação das equipes em cada país não tenha sido concluída, a definição das lideranças mundiais e regionais aponta algumas das principais diretrizes da nova empresa. Na América Latina, a direção geral regional ficou com Luiz Roberto Gouvêa, proveniente da Towers, que vai acumular também a direção da unidade brasileira. Ao seu lado, Marcos Santana, oriundo da Watson, foi designado para a direção comercial e de marketing para o mercado latino-americano. Outros três executivos – um brasileiro e dois mexicanos – completam o quadro de lideranças para a América Latina (veja quadro na pág. 52).A representatividade maior ficou com a Towers, que indicou três dos cinco executivos. A Watson, no entanto, conquistou a coordenação de dois departamentos importantes. Com Marcos Santana, a área comercial e de marketing deve incorporar a experiência e a agressividade da Watson. O nicho de benefícios também terá um ex-Watson no comando, o mexicano Segundo Tascon. Do México veio ainda Marcela Abraham, da Towers, a quem caberá a área de riscos financeiros.O quebra-cabeça que está formando a cara da nova consultoria na América Latina apresenta características interessantes. A Towers Perrin tinha presença apenas no Brasil e no México, enquanto a Watson, além de nesses dois mercados, também mantinha operações na Argentina, no Chile, na Colômbia e no Uruguai. “Alguns clientes estão reagindo positivamente diante da possibilidade de indicar a consultoria para suas filiais e parceiras em países onde não tínhamos presença”, diz Marcos Santana. O mesmo acontece com o leque de serviços e áreas que, com a fusão, estão se somando, permitindo assim a contratação de “pacotes” mais completos.Havia áreas em que apenas uma das consultorias atuava – somente a Watson oferecia serviços de backoffice para fundos de pensão, por exemplo. Já na Towers, a área de consultoria de investimentos era mais desenvolvida e consolidada, uma vez que a Watson tinha entrado recentemente no segmento. “Temos uma relação de complementariedade em diversas áreas, o que nos dá a possibilidade de oferecer um leque bem mais amplo de opções para nossos clientes”, diz Luiz Roberto Gouvêa. Ele acrescenta que a nova consultoria vai contar também com as melhores tecnologias e ferramentas de gestão de cada uma das antigas empresas.
Ônus e bônus – Claro que nem tudo são pontos a favor na fusão entre Towers e Watson. Um exemplo que poderia estar listado entre os “contra”, e não entre os “prós”, é o fato de algumas empresas terem restrições quanto à contratação de uma única consultoria para prestar diversos serviços. “Sempre é possível perder algum cliente, mas devem ser casos isolados”, prevê Gouvêa. Ele acrescenta que há áreas em que as consultorias tinham relação de plena concorrência. É o caso, por exemplo, do serviço de atuária para planos de previdência.“Há processos de contratação em andamento em que estamos com duas propostas diferentes [uma da Towers e outra da Watson]. Nesses casos, estamos marcando de nos encontrar com o cliente para unificarmos a proposta”, completa Marcos Santana. O executivo afirma que esses casos serão analisados individualmente e que a diretriz básica será o foco nos interesses do cliente. Para Luiz Gouvêa, “mesmo em áreas concorrenciais, as equipes tendem a se somar, e a diversidade de portfólios pode trazer novos negócios para a nova empresa”.Mesmo com colaboradores que são também cotistas da empresa, o executivo não acredita que haja uma grande evasão de pessoas por conta da fusão. “Estamos abertos ao processo de saída ou de venda de participação por parte de algum sócio, mas ainda não identificamos nenhum movimento mais intenso. Se alguns optarem por sair, serão decisões pontuais”, afirma. Ele explica que a venda de participações para finalidade de aposentadoria é mais comum em países onde as consultorias contam com quadros mais antigos, o que não é o caso do Brasil. “Queremos que prevaleça a somatória de especialistas mais jovens com os mais experientes”, prevê o diretor geral.A intenção é aproveitar o espírito mais arrojado proveniente da Watson, aliado à maior experiência da Towers. Alguns analistas apontavam que a Towers Perrin vinha perdendo posições e espaço em diversos países e, por isso, estava buscando formas de se reestruturar para recuperar a competitividade. Ao contrário, a Watson vinha ganhando cada vez mais espaço com uma estratégia comercial mais agressiva, com preços mais competitivos e equipes mais jovens. Parece que agora o desafio é aproveitar as melhores qualidades de ambas, o que não é uma tarefa fácil quando se trata de estruturas espalhadas em dezenas de países e de empresas com culturas diferentes.