Edição 339
Mais uma vez nos aproximamos do fim do ano, dessa vez vivendo o processo de normalização das taxas de juros que trouxe a taxa Selic de 2% para 8,5% (projeção do Focus) e, diante disso, temos a seguinte pergunta para responder: qual deveria ser o asset allocation para o ano de 2022?
Esta pergunta nunca é fácil e para respondê-la sempre partimos da premissa de que os investidores institucionais são investidores de longo prazo, ou seja, têm por objetivo gerar retornos reais, superiores às suas metas, num horizonte claramente superior a um ano.
Dados os atuais níveis de preços, prêmios e incertezas, algumas classes devem ser observadas:
– Renda fixa ligada à taxa de inflação: tanto olhando títulos de créditos privados, especialmente os títulos ligados ao IPCA, quanto os títulos públicos (as NTN-Bs), nesse patamar de taxas de juros, ambos passam a ser interessantes. Num ambiente global de taxas de juros reais negativas, eles apresentam taxas positivas e relativamente altas. Talvez, dependendo do caso, não sejam suficientes para superar as metas atuariais, mas com certeza devem compor as carteiras. Um ponto que deve ser considerado na decisão de compra é a questão da IN PREVIC 33, pois os títulos apresentam volatilidade quando carregados a mercado.
– Fundos Imobiliários (FII): sem entrar no caso específico de cada segmento de imóveis, a classe como um todo também parece apresentar retornos interessantes. Como a parcela mais relevante dos investidores de FII é constituída por pessoas físicas e, desde a Covid-2019, passamos por um período de vacância elevada (devido ao home office e distanciamento social), juros em elevação e incertezas tributárias, houve redução da liquidez e queda de preços. Quando olhamos os valores negociados e comparamos com os valores patrimoniais dos ativos, também enxergamos oportunidades. Importante notar que os fundos de infraestrutura listados passam por situação semelhante.
– Renda variável local: as companhias se recuperaram bem desde a crise provocada pelas commodities em 2015/2016 e pós-covid-2019: custo de capital caiu, nível de alavancagem se reduziu, operacionalmente melhoraram e os lucros cresceram. Assim, olhando pelo lado de valuation, os preços parecem interessantes olhando as métricas de preço/lucro e equity risk premium (prêmio sobre a renda fixa). Num horizonte curto, porém, devem continuar a apresentar volatilidade, mas olhando no longo prazo parece ótimo ponto de compra.
– Estruturados: o mercado se desenvolveu bem do lado dos fundos estruturados, em especial os fundos de private equity. Vemos vários fundos especializados em mercados secundários e a liquidez das cotas aumentou. O desenvolvimento também se deu do lado dos investidores: podemos ver algumas EFPCs com programas de investimentos longos e bem-sucedidos e retornos acima de 2 dígitos em termos reais. Vimos também as pessoas físicas entrando no segmento, tanto através de plataformas, quanto de private banks. O volume de IPOs (empresas que listaram suas ações na bolsa) neste ciclo já supera o ciclo de 2003-2010. Do ponto de vista de valuation, valem os comentários anteriores acrescidos do prêmio de liquidez, ou seja, por se tratar de um investimento de longo prazo, os retornos tendem a ser maiores que o retorno da renda variável tradicional.
– Alocação no exterior: continua fazendo sentido devido à grande diversificação gerada pelo investimento nesta classe. As vantagens principais são acessar setores que não são presentes no mercado local e exposição à moeda forte. Porém, do outro lado, temos que ser cuidadosos com as classes que estamos investindo no exterior, pois várias classes de ativos têm prêmio baixo.
Depois de um período de juros reais negativos (taxa Selic rendendo menos que inflação), entraremos num ano (2022) em que a taxa Selic provavelmente embutirá um juro real de 3,5%. Se somarmos os prêmios de riscos de cada classe, como falamos acima, podemos ver que há retorno suficiente para os investidores superarem suas metas no longo prazo. Desse lado, temos uma situação bem melhor do que nos últimos 2 anos, mas, como não existe almoço grátis, há riscos no horizonte (crise hídrica, eleições. problemas fiscais, entre outros).
Assim, dado o exposto acima, cabe a cada investidor dimensionar sua alocação nas estratégias de investimento de acordo com o tipo de plano, benefício definido e contribuição definida, e seu apetite de risco sabendo que há prêmio na mesa.
Fernando Lovisotto é diretor da Vinci Investimentos