Edição 379

Nos próximos doze meses, o mercado financeiro enfrentará um ambiente que combina desafios e oportunidades. O Brasil entra em um ciclo marcado por juros ainda em patamares bastante restritivos, inflação em processo de acomodação e uma agenda fiscal que permanece no centro do debate, em que pese discussões como o tema de dominância fiscal terem sido deixadas de lado. Some-se a isso a proximidade de um novo período eleitoral que promete intensificar a sensibilidade dos mercados a notícias políticas. No exterior, os Estados Unidos devem iniciar um ciclo de cortes graduais de juros, com implicações relevantes para os fluxos de capital e para a precificação global de risco. A combinação desses fatores define o pano de fundo das tendências de investimento mais relevantes para o próximo ano.
O quadro inflacionário brasileiro dá sinais de alívio. O IPCA-15 de agosto último registrou queda mensal e acumulou 4,95% em doze meses, reforçando a percepção de que o processo de desinflação avança, embora núcleos de serviços ainda preocupem o Banco Central. Essa dinâmica abre espaço para cortes na Selic, mas a condução da política fiscal será determinante para o ritmo e a profundidade desse movimento. Com a dívida bruta estabilizada em torno de 76% do PIB e o déficit primário pressionado, a condução da política fiscal torna-se variável crítica, qualquer frustração de arrecadação ou aumento imprevisto de despesas pode mudar o cenário.
Os Estados Unidos concentram a atenção do mercado internacional, o FED já observa sinais de arrefecimento do mercado de trabalho e inflação convergindo com suas metas de médio prazo, o que sustenta a expectativa de cortes nas próximas reuniões. Caso confirmada, essa trajetória pode aliviar os yields longos, reduzir a força do dólar e favorecer ativos de países emergentes. Entretanto, a volatilidade deve persistir: a política externa norte-americana, riscos geopolíticos – particularmente relacionados a China, podem interromper esse ciclo a qualquer momento.
Nesse ambiente, algumas classes de ativos se destacam como mais atrativas. A renda fixa, Tesouro IPCA+ e títulos prefixados, oferecem remuneração elevada, boa proteção contra inflação e risco controlado. O crédito privado de alta qualidade ainda possui taxas atrativas e boas oportunidades para surfar o movimento de fechamento de taxas. No mercado internacional, a renda variável voltada para saúde/biotecnologia e infraestrutura de TI tende a ter vantagens competitivas, assim como os ETFs internacionais trazem diversificação. Na montagem do portfólio o investimento no exterior tende a ser descorrelacionado do mercado doméstico reduzindo o risco do portfólio.
A renda variável local é bastante suscetível aos efeitos das eleições, neste segmento a atenção deve ser constante e com gatilhos de stop-loss claros, mas há oportunidades de ganhos em setores defensivos como o de utilities (serviços essenciais) ou os ligados ao ciclo de juros, como bancos e consumo, que podem capturar os benefícios da redução gradual da Selic e da recuperação do crédito. Também exige cautela a alocação em fundos multimercado muito alavancados, cujas estratégias dependem de cenários estáveis, pois podem enfrentar perdas expressivas em um contexto de volatilidade ampliada.
Esse é, aliás, o ponto central para o investidor institucional: a volatilidade não será episódica, mas uma presença constante. Entre a política monetária global, as incertezas fiscais internas e o calendário eleitoral brasileiro, o cenário mais provável é de movimentos abruptos nos preços de ativos, intercalados por períodos curtos de estabilidade. Essa realidade exige estratégias mais robustas de gestão de risco, com maior ênfase em liquidez, hedge cambial parcial e rebalanceamentos disciplinados de portfólio. Como por exemplo, adoção de gatilhos de revisão estratégica da alocação, em caso de mudança material na comunicação (forward guidance) ou decisão que contradiga a trajetória prevista do Copom.
O próximo ano não deve ser visto apenas como um período de cautela, mas também como uma janela de oportunidades seletivas. Títulos públicos, ativos de crédito de qualidade, a exposição internacional em setores inovadores e mesmo ações domésticas ligadas ao ciclo de juros configuram alternativas promissoras. O sucesso, porém, dependerá menos da escolha isolada de ativos e mais da capacidade de gerir riscos de forma a potencializar retornos de médio e longo prazo.
Sérgio Clark é diretor de investimentos da Capef