Edição 381

O ano de 2026 apresenta desafios e oportunidades para as Entidades Fechadas de Previdência Complementar (EFPCs) no Brasil. Fatores macroeconômicos domésticos e internacionais, o contexto político-eleitoral, mudanças regulatórias e a incorporação crescente de critérios ambientais, sociais e de governança (ESG) moldam as estratégias de investimento. O equilíbrio entre rentabilidade e segurança, aliado à diversificação e governança robusta, será fundamental para a sustentabilidade dos fundos e o cumprimento dos objetivos previdenciários.
Cenário Macroeconômico e Político: No Brasil, o ano eleitoral traz incertezas fiscais e políticas. A taxa Selic, em 15% em novembro de 2025, deve começar a ser reduzida no início do ano, convergindo para cerca de 12% ao final de 2026, ainda em território restritivo, em parte por causa da inflação, que, mesmo mais comportada (projetada em torno de 4,2%), permanecerá acima de meta medida pelo IPCA.
Do lado fiscal, segundo o próprio Tesouro Nacional, a dívida pública deverá alcançar 82,5% do PIB ao final de 2026, com o orçamento praticamente todo comprometido com as despesas obrigatórias, exigindo governança fiscal rigorosa e reformas a partir de 2027 (independente do resultado eleitoral do próximo ano).
No cenário internacional, o BC norte-americano continuará flexibilizando a política monetária, levando a taxa de juros para cerca de 3,0%, embora ainda seus próximos passos dependam da evolução dos dados econômicos. Em relação ao dólar, a divisa deverá manter-se em terreno mais desvalorizado se comparado com o histórico dos últimos anos devido às políticas do governo.
Perfil de Investimento e Alocação de Ativos: As EFPCs devem buscam equilibrar segurança e rentabilidade com diversificação de seus investimentos entre as classes de ativos.
A renda fixa, especialmente títulos públicos pós-fixados, continuarão apresentando bons rendimentos, inclusive com relevantes ganhos frente à inflação (taxa de juros real por volta de 8%). Mesmo com elevados prêmios, as NTN-B (IMA-B) ainda não serão capazes de “bater” o CDI médio do ano sem que haja queda das taxas, as quais são incertas devido à questão fiscal e calendário eleitoral (além do que uma deterioração adicional não pode ser descartada, mesmo que as taxas já estejam em níveis muito altos).
Na renda variável, espera-se que o Ibovespa apresente bom retorno, dado seu nível ainda descontado, o cenário macroeconômico local de cortes graduais nos juros e sustentado pela entrada de capital estrangeiro e volta do investidor local para a bolsa.
O investimento no exterior continuará como classe essencial para os portfólios, ampliando a diversificação geográfica e setorial, reduzindo a concentração em ativos domésticos, mitigando riscos locais e permitindo acesso a oportunidades em mercados desenvolvidos e emergentes.
Importante sempre considerar que o investimento no exterior sempre deve ser avaliado sob dois vetores: performance e proteção (risco/diversificação).
Por fim, em relação aos fundos multimercados do segmento Estruturado, continuamos avaliando que a classe é importante na composição do portfólio, dado seu “poder” de diversificação em vários segmentos e geografias e por possibilitar retornos excedentes até em mercados adversos.
O estudo Mercer CFA 2025 destaca globalmente a importância da diversificação e gestão ativa de riscos para investidores institucionais, recomendando uma abordagem equilibrada e alinhada ao perfil de risco e objetivos de longo prazo, sem sugerir alocações específicas.
Considerações Finais: Em 2026, as EFPCs devem navegar por cenário complexo, com desafios domésticos e internacionais. A estratégia deve priorizar diversificação, gestão ativa de riscos, incorporação estruturada de ESG e governança sólida.
O equilíbrio entre segurança e rentabilidade, com flexibilidade para ajustes, garantirá sustentabilidade e cumprimento dos compromissos previdenciários. A atenção às mudanças regulatórias e boas práticas fortalecerão a confiança e eficiência na gestão.
Acreditamos que as Entidades não promoverão alterações relevantes em seus portfólios, dado o calendário eleitoral (com cenário binário), a situação das contas públicas e as altas taxas de juros. No entanto, mesmo que não seja para o exercício de 2026, será muito importante rediscutir os segmentos alocados e orçamentos de risco assumidos, posto que em um cenário de menores taxas de juros reais que provavelmente observaremos ao longo do tempo, portfólios muito conservadores podem comprometer a acumulação e, por conseguinte, o benefício percebido pelo participante. Nesse sentido, é extremamente relevante a utilização de estudos técnicos para a definição dos limites de alocação nos segmentos, além de discussões baseadas em cenários econômicos e modelos robustos que forneçam o embasamento necessário para a definição dos portfólios.
Tiago Calçada é diretor da área de Investimentos da Mercer Brasil e Mauricio Martinelli é líder da área de Investimentos da Mercer Brasil.