Edição 355
Com a emergência da agenda ESG (sigla em inglês para Ambiental, Social e Governança), um maior número de investidores estão interessados em financiar empresas que apresentem altos padrões de governança corporativa, transparência e responsabilidade socioambiental. Eles estão mais conscientes de que esses fatores são críticos para garantir a sustentabilidade a longo prazo dos negócios, de forma que demandam boas práticas empresariais. Para implementar tais medidas, empresas de economia real têm como alternativa o uso do financiamento sustentável. A agenda de finanças sustentáveis tem potencial para atrair novos investidores, melhorar a reputação e contribuir para a fidelização de consumidores.
No Brasil, tanto no mercado de capitais como no mercado de crédito as finanças sustentáveis têm ampliado sua participação. Com recursos financeiros direcionados para gerar adicionalidade socioambiental, as empresas de economia real têm à disposição opções de mecanismos financeiros para alavancar suas estratégias ESG.
As linhas de crédito sustentáveis, oferecidas por distintas instituições financeiras, e operações de dívida sustentáveis (também referidas como operações rotuladas ou temáticas) tem ganhado destaque entre as companhias. É observado um crescimento significativo no mercado de empréstimos. Essas linhas são financiamentos “de prateleira” oferecidos por instituições financeiras – públicas e privadas, comerciais e de desenvolvimento -, dedicadas a algum perfil específico de cliente ou a um tipo de aplicação de recursos bem delimitada (verde e/ou social). Setores como energia e agricultura possuem um número bastante significativo de linhas de financiamento disponíveis. Na maioria das vezes, tais linhas de créditos são diferenciadas por possuírem vantagens financeiras em relação a linhas de crédito tradicionais, desde maiores prazos até juros menores.
O BNDES, por exemplo, oferece a linha Finame Baixo Carbono com taxa de juros reduzida em comparação às linhas pares e de longo prazo (10 anos). Esta é direcionada para aquisição de máquinas e equipamentos com maiores índices de eficiência energética ou que contribuam para redução da emissão de gases de efeito estufa.
Globalmente há também um aumento de emissão de operações de dívida rotuladas, tendência que se percebe também no Brasil. Neste caso, tratam-se títulos de dívida cujo recursos são direcionados para ativos verdes, sociais ou sustentáveis (verdes e sociais em conjunto), assim como para desempenho, cumprimento de metas alinhados com a agenda ESG. Em 2022, a participação da dívida rotulada em relação à dívida global total foi de 5%. No Brasil, desde 2015, ano em que o mercado doméstico é “inaugurado”, já foram emitidas mais de 290 operações rotuladas.
Em 2022, as emissões diminuíram globalmente, por conta do contexto macroeconômico. No Brasil, as emissões no mercado internacional diminuíram, enquanto aquelas feitas em moeda local dispararam, com alta de 40%, isto pode indicar o surgimento de um ecossistema de dívida rotulada próprio no Brasil1. Uma potencial vantagem financeira estudada sobre os títulos de dívida rotulada em relação a um título convencional é o prêmio verde (ou greenium), que é o diferencial de juros pago pela empresa que emite dívida ESG em comparação a uma captação tradicional.
É crescente o número de companhias que se utilizam desse mercado para levantar capital. Ao considerar alternativas de financiamento para a agenda ESG, é importante que as empresas avaliem as opções disponíveis e escolham aquela que melhor se adapta às suas necessidades, como empréstimos e dívida.
A Suzano é uma das empresas que tem aproveitado essa agenda. Em 2016, a empresa de celulose realizou a segunda emissão rotulada do Brasil com um Green Bond de U$700 milhões. Entre 2020 e 2021, a Suzano captou um total de US$ 2,25 bilhões em títulos atrelados a metas de sustentabilidade. Com as novas operações de 2021, a empresa possui 39% de sua dívida atrelada a compromissos de sustentabilidade. Em 2020, a companhia emitiu um título baseado no Sustainability-Linked Bond Principles, tornando-se a segunda empresa do mundo e a primeira das Américas a realizar uma emissão desse tipo. A Suzano alcançou com essa emissão a menor taxa da sua história em captações externas: 3,95% ao ano.
Além de permitir que as empresas acessem capitais mais diversos, o uso das finanças sustentáveis tem trazido benefícios para a reputação das empresas e financiado iniciativas que geram impactos positivos para as pessoas e o planeta. Os atores que se engajarem nesta agenda com um olhar de oportunidade irão consolidar seu posicionamento ESG e contribuir para o avanço desse mercado e torná-lo ainda mais competitivo.
1Fonte: https://www.capitalreset.com/ressaca-da-divida-esg-volume-cai-38-no-brasil/
Omar Avila é gerente de Finanças Sustentáveis da NINT e Virginia Suby é analista de Consultoria ESG para empresas da NINT.