ETFs: alternativa tática e estratégica em 2023 |_ Paula Salamonde

Edição 352

O valor do mercado global de ETFs (Exchange Traded Funds) superou a marca de 8,6 trilhões de dólares em outubro de 2022, quadriplicando nos últimos 10 anos, com mais de 9 mil produtos que cobrem quase todas as classes de ativos.
Nos Estados Unidos, onde o mercado de ETF é mais maduro, já representa 26% da indústria de fundos mútuos. No Brasil, o potencial de crescimento é imenso. Este mercado representa atualmente menos de 1% da indústria, porém o crescimento é expressivo, tanto em termos de volume negociado, quanto em ofertas de novos produtos. A média diária de negociação que era de apenas R$ 351 milhões há 5 anos alcançou R$ 2 bilhões em novembro de 2022. Hoje já são mais de 80 ETFs locais com exposição a diferentes classes de ativos e estratégias e 175 BDRs de ETFs, que permitem acesso aos mercados internacionais.
Os BDRs de ETFs são valores mobiliários emitidos no Brasil, que possuem como lastro cotas de ETFs emitidos no exterior. É um investimento feito através da bolsa local, mas com exposição internacional e, portanto, é um importante instrumento de diversificação dando ao investidor acesso a diversos setores e estratégias não representados na indústria brasileira. Como são valores mobiliários negociados na B3, não é preciso fazer remessa de recursos ao exterior sendo a liquidação em reais, uma característica importante de acesso para os Fundos de Pensão devido as vigentes restrições regulatórias para investir diretamente no mercado internacional.
O que motivou este crescimento no mundo e no Brasil? Os ETFs são fundos de investimentos com características específicas: estão atrelados a um índice de referência, mesmo aqueles geridos de forma ativa (ETFs ativos não são autorizados no mercado brasileiro) e suas cotas são negociadas na Bolsa de Valores. O crescimento de ETFs nas carteiras dos investidores, de fundos de pensão e pessoas físicas, ocorreu historicamente por serem produtos de baixo custo, transparentes e normalmente líquidos. Recentemente a utilização de ETFs como blocos de construção em estratégias ativas por gestores e alocadores, impulsionou o crescimento pacificando a discussão de gestão ativa versus passiva, uma vez que ETFs são agora amplamente utilizados como parte de estratégias ativas.
Acreditamos que ETFs locais e BDRs de ETF vão continuar desempenhando um papel estratégico na carteira dos investidores em 2023, apesar das altas taxas de juros brasileiras. No contexto de volatilidade, ETFs são veículos flexíveis e ágeis. A navegação nos mercados exigirá mudanças frequentes de portfólio e visões mais granulares, em setores, regiões e classes de subativos, ao invés de exposições mais amplas e os ETFs são os veículos ideais para alocações táticas e oportunistas.
Neste contexto de um regime de maior volatilidade macro e de mercado será necessária uma maior precisão para identificar quais oportunidades de crescimento podem resistir e até mesmo se beneficiar do ambiente esperado de 2023. Os setores de saúde, energia e finanças são oportunidades interessantes e acessíveis via BDRs de ETFs. Na renda fixa global, vemos yields interessantes com baixo risco em bônus corporativos de Investment Grade e High Yield de empresas sólidas.
Para além de 2023, acreditamos em tendências estruturais, ou seja, as megatendências, que apontam para modificações permanentes em setores relevantes, como indústria, saúde e mercado de consumo. São transformações que geram oportunidades em vários ciclos econômicos. Teremos catalisadores relevantes por meio de gastos fiscais de países desenvolvidos impulsionando as megatendências ligadas a energia limpa e veículos elétricos. Empresas de segurança cibernética e robótica serão beneficiadas pela escassez global de mão de obra, tendências demográficas e mudanças da cadeia de suprimentos.
Por último, estudos da própria BlackRock mostram que estar investido estrategicamente, mesmo em períodos de alta volatilidade, pode ser o melhor planejamento. Foi feita a análise do desempenho de um investimento hipotético de US$ 100 mil no índice S&P 500 ao longo de 10 anos (de janeiro de 2001 a dezembro de 2022). O investidor que em janeiro de 2001 colocou US$ 100 mil em um ETF atrelado ao S&P 500 e não mexeu na sua posição, viu seu investimento alcançar US$ 461 mil ao final dos 10 anos. Por outro lado, um investidor que em janeiro de 2001 colocou os mesmos US$ 100 mil no mesmo ETF de S&P 500, mas não ficou investido em todo o período e deixou de capturar os 10 melhores dias do retorno da bolsa ao longo dos 10 anos, viu seu investimento valorizar para apenas US$ 211 mil. Resultados semelhantes são observados em todos os mercados.
2023 será um ano desafiador, mas vemos oportunidades em setores específicos, megatendências e renda fixa global que podem ser capturadas eficientemente por meio dos ETFs e BDRs de ETFs. Portanto, 2023 não precisa necessariamente ser um ano só das NTN-Bs.

Paula Salamonde é diretora do segmento institucional e iShares ETF da BlackRock Brasil