Debate eleitoral define rumos do País em 2022 | Eduardo Jarra

Edição 336

Nos próximos meses a pandemia do Covid -19 infelizmente continuará sendo assunto central em nossas vidas. Ao que tudo indica, porém, é questão de tempo para que felizmente cheguemos a uma importante vitória com o avanço da vacinação e o retorno às nossas rotinas anteriores. Isso trará visíveis ganhos econômicos e de bem-estar social. Certamente é um motivo para celebrarmos, mas não podemos perder de vista os desafios relevantes do País que, se não endereçados, nos impedirão de atingirmos e sustentarmos o progresso social e econômico que todos almejam.
É nesse contexto que teremos a campanha presidencial de 2022, quando ocorrerá a fundamental discussão sobre prioridades para o período de 2023 a 2026, com as diferentes demandas da sociedade debatidas com e entre especialistas e políticos. Um debate transparente e de alto nível é chave para que a sociedade entenda e apoie os caminhos escolhidos. Sem isso, há o risco de baixo apoio social e político para a adoção das medidas muitas vezes impopulares de curto prazo, mas fundamentais para avanços concretos no médio e longo prazo. Da ótica econômica, é a oportunidade de se discutir diferentes estratégias, buscando uma economia com crescimento sustentável e inclusivo, resiliente a choques de diferentes naturezas e menos sensível a mudanças na conjuntura internacional.
É evidente que a crise do Covid-19 amplificou as nossas já conhecidas dificuldades. Primeiro, o necessário desembolso de recursos para combater os efeitos da pandemia aumentou o desafio de consolidação das contas públicas. Serão anos com escolhas difíceis de gasto público num país com enormes demandas sociais, além da necessidade de implementação de reformas que afetarão determinados segmentos. Segundo, nosso potencial de crescimento é baixo, levando-se em consideração taxa de investimento, produtividade, além de uma demografia menos favorável nos próximos anos. A isso, a pandemia trouxe outras dificuldades, como uma situação financeira mais frágil de muitas empresas, especialmente pequenas e médias. Não existem soluções de curto prazo, sendo necessário um longo percurso a ser trilhado com perseverança.
Os diversos avanços até aqui conquistados, com os exemplos recentes do Teto de Gastos e da Reforma da Previdência, foram parte de um longo percurso, não se esgotando em si. Foram peças fundamentais por trás da nossa resiliência na crise e da possibilidade de resposta anticíclica. Isso além de ampararem o cenário construtivo de consenso que, de acordo com o Boletim Focus do Banco Central, projeta juros reais baixos (por volta de 3%), inflação na meta (3,25%), crescimento potencial de 2,5% e gradual melhora das contas públicas nos próximos anos. Mas esse cenário não virá pela inércia daquelas conquistas, sendo necessária a continuidade dos avanços estruturais.
Convém lembrar que, além da necessidade de estarmos minimamente preparados para eventuais choques (como foi a pandemia), a conjuntura internacional atual, muito positiva pelo crescimento forte e juros muito baixos, não deverá perdurar a médio prazo, ainda que seja difícil antecipar o momento da inflexão. Não podemos somente torcer por condições externas ideais.
Nesse contexto, voltemos às eleições de 2022. A qualidade do debate econômico será uma das métricas antecedentes da nossa chance de sucesso nessa jornada. Será um período desafiador, que necessita de um clima político e social sereno, com a agenda de prioridades legitimada pelas urnas e com a sociedade minimamente unida em torno dela.
É com esse pano de fundo que acompanharemos o processo eleitoral. Um debate saudável nos manterá construtivos com o cenário de médio prazo, com projeções similares às de consenso. Por outro lado, debates menos profícuos, combinados ou não com propostas irrealistas, implicarão num risco maior de médio prazo, com chance de termos que rever projeções que, ainda que construtivas, estão já aquém do progresso social e econômico almejado por todos nós.
Eduardo Jarra é head de macro e estratégia da Santander Asset Management