Balanços e projeções às EFPCs _ Fernando Lovisotto

Edição 358

O primeiro semestre de 2023 já se encerrou (na verdade, já encerramos julho também) e os primeiros números publicados mostram um certo alívio: as metas de rentabilidade estão sendo cumpridas. Não é necessário explicar o quanto isso é importante, uma vez que processos de equacionamento de déficits são custosos em vários sentidos: credibilidade do plano fica em risco, necessidade de aportes maiores por parte dos participantes e patrocinadores, que são eventos problemáticos e normalmente vêm nos piores momentos, entre outros.
Quando analisamos os fatores que levaram à obtenção desse ótimo resultado, achamos alguns fatores internos e externos aos planos que o explicam. Importante tentar entendê-los pois, em algum momento futuro, podemos ter consequências importantes dessas mudanças.
Entre os fatores externos, temos: 1- Maior nível de taxa de juros dos últimos anos: tanto a taxa Selic quanto as taxas reais dos títulos públicos indexados ao IPCA iniciaram o ano em patamares muito altos (Selic em 13,75% aa e taxa das NTN-B 2050 ao redor de 6,5% aa). Até o momento, as taxas destas NTN-Bs já caíram bem na iminência de que entraremos num novo ciclo de corte de juros e estão perto de 5,50%, gerando grande valorização destes títulos; 2 – A bolsa brasileira iniciou o ano sendo negociada nos menores múltiplos da história (razão Preço/Lucro de 7 e Prêmio sobre taxa de juros de 5% aa) com baixa exposição nas carteiras dos investidores (alocação próxima a 7% segundo dados da ANBIMA). Ao longo do ano, com maior clareza em relação a parte fiscal, continuidade das reformas e boa performance das commodities, a bolsa vem se valorizando bem, subindo perto de 10%; 3- Por fim, e não menos importante, temos uma inflação que tem tido um bom comportamento e surpresas “baixistas” ao longo do ano (principalmente devido à grande valorização do real e à safra recorde).
Já entre os fatores internos, podemos citar: 1 – Mudanças na Políticas de Investimento (PI): as PIs foram revistas e em geral ficaram mais conservadoras, pois os estudos de ALM que norteiam as mesmas indicaram aumento na alocação de títulos públicos (já que as taxas estavam altas); 2 – Flexibilização nas normas por parte da PREVIC: algumas mudanças deram o conforto necessário para que as EFPCs se aproveitassem do mercado estressado, como a revogação da IN 42 no mercado de crédito.
A combinação dos itens mencionados acima garantiu o sucesso até este momento do ano, e tem grandes chances de garantir a meta, mesmo olhando o ano de 2023 completo. Novamente, importante ressaltar o quanto isso é importante depois de alguns anos muito difíceis.
Agora, olhando para os próximos anos (2024 e 2025), cabe entendermos se essa mesma estratégia repetirá o sucesso em bater as metas.
Quando analisamos os fatores externos, acreditamos que teremos um cenário diferente sobre alguns aspectos: a inflação parece que estará bem-comportada e dentro das bandas estabelecidas pelo CMN, ou seja, não deveria ser um grande empecilho como foi em 2021 e 2022. Mas, por outro lado, os ativos iniciarão este novo período partindo de preços mais altos: provavelmente as taxas das NTN-Bs estarão em níveis menores (e se levarmos em conta a possiblidade de o Brasil atingir o nível de Investment Grade serão mais baixas ainda) com menor capacidade de valorização. O mesmo deverá acontecer com a bolsa brasileira (e outros ativos de risco) que estão se valorizando este ano. Por fim, a taxa Selic também deve largar de um patamar menor, já que devemos entrar num ciclo de corte de juros. Dentre os fatores internos, provavelmente a PI será alterada, pois os novos estudos de ALM indicarão um aumento no nível de risco do portfólio (já que os prêmios serão menores).
Ou seja, a mesma carteira de baixo risco que está funcionando muito bem no ano de 2023 parece que não funcionará tão bem olhando para frente.
Assim, algumas perguntas aparecem e suas respostas precisam ser obtidas por cada EFPC: 1 – Quando fazer a revisão do ALM e PI? Melhor esperar ou fazer o quanto antes? 2 – Será que todo esse esforço de mudança na alocação de ativos valeu a pena? Será que a manutenção da alocação anterior não teria gerado resultados suficientes para cumprirmos as metas? 3 – O que é necessário para termos uma alocação que consiga “atravessar” ciclos econômicos mais longos?
Acredito que uma discussão ampla em relação à pergunta 3 é necessária, pois deveria se refletir em melhores retornos para o participante e menor volatilidade para o mercado, maximizando a chance de sucesso das EFPCs.

Fernando Lovisotto é CIO e responsável por estratégias de curto prazo da Vinci Partners