Edição 379

Estamos nos aproximando, mais uma vez, do momento de definição das Políticas de Investimentos para o próximo quinquênio, conforme exige a legislação. Apesar de estarmos trabalhando com horizonte de 5 anos, vamos chamar a Política atual de PI 2026, como quase sempre fazemos quando nos referimos a esses documentos.
É consenso no mercado que teremos queda da taxa SELIC em 2026, o que é uma boa notícia para o país. No entanto, a queda atualmente projetada ainda é relativamente tímida: a depender do dia e do humor dos gestores, estima-se que a SELIC deve estar próxima a 12,5% aa no final do ano que vem. É possível afirmar, portanto, que o mercado estima que o CDI de 2026 será algo em torno de 13,5%.
Usando o Relatório FOCUS como base, temos expectativa de inflação para 2026 ligeiramente abaixo de 4,5%. Compondo ambas as informações, chegamos a um juro real esperado superior a 8% para o próximo ano, o que é mais do que suficiente para fazer frente à maioria das metas, atuariais ou gerenciais, dos planos geridos pelas EFPCs.
A expectativa de juro real elevadíssimo é, sem dúvida, inibidora de investimentos em risco. Com efeito, se é possível obter os resultados desejados usando somente investimentos conservadores, qual a necessidade de aumento de risco nas carteiras? Entendemos que a necessidade, para o curto prazo, pode não existir – mas jamais podemos deixar de considerar que o nosso horizonte é de longo prazo e não devemos supor que um juro real dessa magnitude seja suportável sequer a médio prazo.
Com isso, entendemos que a PI 2026 deve seguir o curso da composição atual das carteiras, com alocações majoritariamente em Renda Fixa e aproveitando-se da conjuntura de juro real elevado. Porém, é importante deixar espaço, através dos limites inferiores e superiores, para que seja possível fazer ajustes ao longo do ano, majoritariamente na direção de maior diversificação.
No Segmento de Renda Fixa, entendemos que as NTN-Bs, no patamar atual, seguem sendo um ativo praticamente “no-brainer” para planos BDs e CVs. Apesar da garantia de proteção à inflação e da perfeita adequação ao passivo, é importante lembrar que a chance de o CDI superar a rentabilidade na curva desses títulos em 2026, a exemplo do que vem ocorrendo em 2025, é elevada. Isso nos remete, principalmente, a uma maior preocupação com os planos CDs que se utilizaram das prerrogativas trazidas pela CNPC61: talvez seja o caso de já deixar claro, na PI 2026, a possibilidade de isso ocorrer, reforçando a visão de que, no longo prazo, tal ativo ainda compensa.
Ainda nesse segmento, acreditamos que a provável alta volatilidade de 2026 deve ser terreno fértil para operações com taxas de juros, que podem ser feitas através de fundos de Renda Fixa Ativa ou mesmo dos tradicionais índices – IRF-M, IMA-B e seus derivados.
Por fim, ressaltamos, mais uma vez, nossa preocupação com crédito – não necessariamente quanto ao risco de crédito em si, mas em função dos spreads cada vez mais baixos. Isso torna as operações de crédito assimétricas: se tudo der certo, o ganho adicional é baixo. Se houver algum problema, a abertura de spreads pode gerar perdas momentâneas que afetem os resultados de curto e médio prazos.
Quanto à Renda Variável, cabe atentar para o fato de que ciclos de cortes de juros são, normalmente, favoráveis a esse segmento. Ainda que saibamos que a alocação inicial do ano deve permanecer baixa, entendemos que a existência de limites superiores mais amplos para esse segmento é essencial. Movimentos táticos requerem fundos / ativos com maior liquidez, mas destacamos, também, que fundos de Valor e/ou Small Caps geralmente se beneficiam de ciclos prolongados de cortes de juros.
O Segmento de Estruturados comporta, principalmente, os fundos multimercados, que vêm de uma janela longa de performance no mínimo questionável, e os FIPs. Entendemos que os multimercados seguem tendo papel relevante na diversificação das carteiras, mas chamamos a atenção para o fato de que as carteiras vêm se concentrando nos mesmos gestores – não coincidentemente, exatamente naqueles que ainda são grandes após a onda de resgates. Os FIPs podem ser interessantes para o cenário econômico de recuperação, mas não temos convicção de que as EFPCs abrirão mão da liquidez nesse momento.
Para fechar as classes mais comuns, falemos de exterior: o processo de diversificação dos investidores globais para além dos EUA parece irreversível, o que também é um peso para o Dólar. Nesse sentido, a diversificação gerada por esse segmento permanece interessante, mas vale atentar para o movimento do câmbio, que pode ser, muitas vezes, até mais relevante do que o próprio ativo-base no exterior.
Guilherme Benites é sócio diretor da Aditus Consultoria