Edição 212
Após sair de uma breve recessão, causada pelos impactos negativos decorrentes de uma das maiores crises financeiras do pós-guerra, o Brasil se tornou um dos pólos de atração de recursos estrangeiros mais importantes no mundo.
O teste de resistência da economia brasileira foi firmado durante o período mais crítico da crise global. Diferente do passado, o Brasil não sofreu uma super-desvalorização permanente da moeda que, porventura, culminou em uma aceleração exacerbada da inflação. Assim, o Banco Central não se viu forçado a elevar a taxa de juros.Graças à melhora considerável dos fundamentos macroeconômicos ocorrida nos últimos anos, os efeitos desse recente choque externo se mostraram passageiros. A atividade econômica se recuperou antes da maioria dos países importantes do globo, o real apresentou uma forte apreciação em relação às principais moedas e os ativos brasileiros (títulos de renda fixa e ações) tiveram uma enorme valorização. Além da recuperação da atividade e da queda da taxa de juros real, a manutenção de um ambiente de estabilidade de preços e respeito aos contratos privados aumenta a previsibilidade dos empresários, estimulando as decisões de investimentos. Nesse cenário é natural que o interesse dos investidores estrangeiros por ativos brasileiros seja crescente, principalmente depois da considerável exposição que o país recebeu na mídia global, após ser apontado como sede da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016.As perspectivas de crescimento econômico acima da média mundial e a redução do custo de capital impulsionaram o investimento externo. Não é à toa que o investimento estrangeiro direto (IED) atingiu $45 bilhões em 2008 e $26 bilhões em 2009. Chama atenção, igualmente, a disseminação desses investimentos: não foram apenas os setores clássicos de maior competitividade da economia brasileira, como o de commodities, que atraíram capitais. Pelo contrário, setores voltados para a demanda doméstica atraíram uma grande gama desses recursos.O setor financeiro aparece como um dos candidatos mais dinâmicos nesse processo de interesse das empresas estrangeiras. Primeiro, por ser alavancado na expansão da demanda doméstica – a baixa penetração do crédito na economia (apenas 45% do PIB) representa um potencial de crescimento bastante interessante para os bancos. Segundo, parece que o processo de abertura de capital e consolidação das empresas nacionais está longe de seu ápice. Além disso, a queda da taxa de juros real naturalmente elevará o apetite de importantes clientes da indústria de fundos, como os investidores institucionais, por produtos financeiros mais diferenciados.O surgimento de uma classe consumidora decorrente de vários anos de elevado crescimento da renda e de inflação controlada torna possível uma maior penetração do crédito. A consequência direta desse amadurecimento da economia é a disseminação de concessões com prazos cada vez altos. O recuo da taxa de juros real permite que bancos emprestem hipotecas com vencimento superior a 10 anos. Além da expansão do estoque a manutenção de spreads bastante elevados, cujos motivos foram debatidos pela comunidade acadêmica, é um dos principais atrativos do setor.O desenvolvimento dos mercados de capitais é outro nicho interessante que poderá ser explorado pelas instituições financeiras estrangeiras. A tendência é que as empresas brasileiras procurem cada vez mais obter financiamento através da abertura de capital, ou por emissões de dívida corporativa. Além disso, as operações de fusões e aquisições tendem a expandir com o crescimento da economia.Por último, para as áreas de gestão de fundos, a queda da taxa de juros e o aumento da renda são vetores primordiais para a elevação da base e, principalmente, para a procura por instrumentos mais diferenciados. Essa é outra área onde há um considerável potencial de obtenção de elevadas taxas de retorno.Enfim, embora as oportunidades para os bancos estrangeiros pareçam claras, é provável que as instituições locais não sejam alvos de aquisição no curto prazo por dois motivos: muitas delas aproveitaram as janelas de abertura de capital e estão muito capitalizadas e; os principais bancos dos países desenvolvidos ainda passam por um processo de ajuste e redução de seus balanços. Pode ser que até a origem dos novos entrantes no mercado brasileiro seja alterada no médio prazo: não será uma surpresa observar um banco chinês ou de outro país emergente adquirindo um banco doméstico.
Zeca Oliveira é CEO do BNY Mellon no Brasil