Edição 142
Luiz Carlos Aguiar, da Previ
Para o diretor de investimentos da Previ, Luiz Carlos Aguiar, o maior fundo de pensão brasileiro está se preparando para diversificar um pouco as suas aplicações. Entre outras coisas, deve aplicar cerca de R$ 300 milhões em debêntures de empresas privadas e fundos de direitos creditórios, que popularmente são chamados de fundos de recebíveis. Economista, com passagem pela área internacional do Banco do Brasil, Aguiar desconversa quando o tema é o valor do superávit da Previ em 2003, que fontes do mercado estimam ser de cerca de R$ 11 bilhões. “É prematuro publicar esse número. É evidente que vai ter superávit, mas não diria que é esse o montante”, disse Aguiar em entrevista exclusiva à Investidor Institucional.
Investidor institucional – Especula-se que a Previ teria fechado o ano de 2003 com um superávit de R$ 11 bilhões. Esse número é real?
Luiz Carlos Aguiar – Essa parte das contas patrimoniais da Previ ainda não estão fechadas, então ficarei devendo essa informação. Mas não vai ser isso não, é prematuro publicar esse número. É evidente que vai ter superávit, mas não diria que é esse o montante.
II – Quais os investimentos que mais renderam no ano passado?
LCA – Os dados ainda são provisórios, mas a nossa carteira de renda fixa teve uma rentabilidade de 28%, enquanto a taxa média do mercado foi 23,35%. Então, superamos o benchmark do mercado com folga.
II – Quanto representa, do total de ativos, a carteira de renda fixa?
LCA – Representa 30%. Basicamente, a nossa estratégia foi ter comprado títulos públicos federais no início de 2003 os quais, com a queda de juros no decorrer do ano, fizeram com que a nossa rentabilidade chegasse a esse patamar que te falei. No início de 2003 o spread ainda estava em 12%, depois caiu para 11% e 10% e isso trouxe um impacto positivo no nosso portfólio.
II – E na renda variável, como foi a rentabilidade da carteira?
LCA – Nós tivemos uma rentabilidade de aproximadamente 45% na renda variável, mas isso não quer dizer que perdemos do Ibovespa, que deu 97% no ano. É que só metade da nossa carteira de renda variável é composta por ações de mercado, como Ambev, Petrobrás, Banco do Brasil, Itaú, Bradesco e assim por diante, que são negociadas em bolsa e que podem ter sua valorização dimensionada. A outra metade são participações estratégicas, cujos investimentos são geralmente feitos através de uma Sociedade de Propósito Específico e que não podem ter sua valorização dimensionada. É o caso Litel, por exemplo, que detém ações da Valepar e que, ao final, as da Vale do Rio Doce. Mas no nosso balanço aparece a Litel, que não tem ações em Bolsa, então tem um conjunto de ações que não sofre valorização nenhuma nos nossos livros. Isso reduz a rentabilidade da carteira como um todo.
II – Quer dizer, da carteira total de renda variável, 50% são ações de mercado e 50% são participações estratégicas?
LCA – Sim, mais ou menos isso. Se nós tivéssemos todas as nossas ações vinculadas a mercado, com certeza teríamos batido o Ibovespa ou estaríamos muito próximo disso.
II – Com essa valorização das ações de mercado, vocês aproveitaram para vender e reduzir o desenquadramento em renda variável?
LCA – Nós aproveitamos várias oportunidades de vendas em 2003 e 2004, dado que o crescimento da Bolsa foi muito relevante. Tanto que, apesar da variação patrimonial das ações, hoje nós temos apenas 58% a 59% em renda variável contra 56% a 57% no início do ano. A gente subiu, mas foi muito pouco em relação à variação patrimonial das ações, então você pode concluir que a gente fez uma política de vendas.
II – Essa política de vendas continua neste ano?
LCA – Continua, porque com a Bolsa em alta é um momento bom realizar seus ganhos. Além disso, faz parte do processo de enquadramento da Previ. Então, essas duas coisas estão combinadas dentro da nossa cabeça, a gente aproveita a oportunidade da Bolsa estar em alta e realiza o lucro e concomitantemente estamos nos enquadrando.
II – Que papéis deram os melhores retornos para a Previ, no ano passado?
LCA – Nós tivemos altas expressivas em alguns ativos. Toda a parte siderúrgica foi muito boa, a Usiminas foi o destaque da siderurgia, mas a Acesita também valorizou bem. Na mineração, a Caemi valorizou bastante, a própria Vale, da qual nós temos uma parte das ações de mercado, também foi bem. Houve uma valorização boa de bancos, especialmente do Banco do Brasil. A Sadia também valorizou muito bem, assim como a Petrobras e a própria Brasquem, embora nossa participação nessa empresa não tenha um peso muito relevante.
II – Algumas empresas nas quais a Previ possui participações estratégicas passaram por processos de reestruturações no ano passado.
Por quê?
LCA – O que nós fizemos foi participar de um processo de recuperação do valor desses investimentos estratégicos. Então, nós fizemos o rescalonamento do endividamento da Tupy, com alocação de novos recursos por parte dos acionistas, especialmente da Previ e BNDES, e alongamento da dívida com os bancos credores. Na CPFL também houve aportes novos dos sócios privados, que são a VBC, a Previ e os outros fundos de pensão da Bonaire, além do BNDES, que capitalizaram e mudaram totalmente a estrutura de capital da empresa, preparando-a para uma emissão pública de ações primárias e secundárias
ao final desse ano ou início do próximo.
II – A Guaraniana também passou por um processo de reestruturação.
LCA – Sim, foram feitos novos aportes e uma reestruturação da dívida da Guaraniana, com aportes dos três sócios, a Previ, o Banco do Brasil e o grupo espanhol Iberdrola.
II – E qual é a situação da Paranapanema?
LCA – Não posso entrar em detalhes sobre essa empresa, nós estamos no meio de uma negociação e assim que concluirmos poderei estar falando.
II – Fala-se em investimentos novos na empresa. Isso é verdade?
LCA – Não necessariamente. A reestruturação é entre aqueles que são credores e acionistas hoje.
II – É o caso do BNDES e Petros, não?
LCA – Sim, são credores da empresa. Na realidade todo mundo é credor da Paranapanema, todo mundo tem debêntures lá, o que constitui um passivo oneroso fortíssimo. É justamente nesse ponto que estamos trabalhando, mas não posso antecipar nada antes de concluir.
II – E tem outras reestruturações em curso?
LCA – Tem também a Brasil Ferrovias, que estamos reestruturando. São essas duas a que estamos nos dedicando nesse momento.
II – E a carteira imobiliária da Previ, que rentabilidade obteve em 2003?
LCA – Nosso portfólio imobiliário deu um retorno de 24,18% no ano passado.
II – O número de participantes inativos da Previ já está perto dos ativos. Isso preocupa?
LCA – Temos 75 mil ativos contra 57 mil, mais ou menos. E estamos preparando nossa carteira de investimentos para quando os ativos forem em menor número.
II – A fundação tem algum estudo de ALM feito?
LCA – Nós aprimoramos bastante, durante 2003, o nosso fluxo de caixa de longo prazo, além de aperfeiçoarmos muito a parte de controle de entradas, de dividendos, juros de capital próprio, o próprio retorno de outros investimentos, de aluguéis. Fizemos um novo sistema de controle, que permitiu planejar mais a longo prazo e fez com que a gente direcionasse e alocasse nossos recursos, principalmente de renda fixa, título público, para prazos mais longos. Tiramos do curto e fomos mais para o mais longo prazo. Então, o ALM que nós temos hoje é o fluxo de caixa, mas estamos terminando também a parte do ALM relacionado a risco de mercado, com toda a gestão de risco, com tracking error, com a parte de variância, análise de variância, Value at Risk etc. Isso vai estar saindo, provavelmente, no primeiro semestre desse ano.
II – Quanto do patrimônio da Previ tem gestão terceirizada?
LCA – É pouco, a gestão terceirizada é pequena, em torno de 15% do total.
II – A Previ pretende disputar a gestão/administração de fundos de instituidor?
LCA – Estamos atualmente estudando, levantando informações e dados, montando nosso business plan para avaliar se, em termos de benefício para a Previ, em termos de valor para a fundação, isso seria interessante. Mas nós não temos ainda uma decisão tomada, nem uma avaliação pronta, então eu não poderia adiantar se vamos ou não entrar nesse tipo de negócio. A única coisa que posso te dizer é que estamos estudando.
II – Com que cenário de investimento a Previ trabalha para esse ano de 2004?
LCA – Estamos trabalhando com um cenário de tendência declinante da taxa de juros, chegando a 15,5% ao final do ano, e um crescimento do PIB de 3,5% no ano. A Bolsa de Valores, em função desse cenário, deve chegar a 26.400 pontos no final do ano.
II – Como serão os investimentos da Previ em 2004?
LCA – Dentro do que dá para fazer, respeitando a legislação atual, pretendemos diversificar um pouquinho a nossa renda fixa, entrando em papéis privados e especialmente em debêntures e fundos de direitos creditórios. Nós estaremos alocando para esses títulos em torno de R$ 300 milhões, que além de serem uma diversificação ainda podem maximizar o ganho. Tem negócio no mercado de debêntures e fundos de direitos creditórios que remuneram acima do risco do custo de oportunidade do título público federal, com um risco que a gente considera um bom risco.
II – O fechamento do fundo de recebíveis da Parmalat não assusta?
LCA – Não, e esse é um bom exemplo. O sistema do fundos de direitos creditórios é tão interessante, tem um sistema de leis, tem todo um sistema dos recebíveis que mesmo com o fim do fundo todos os cotistas já foram pagos, todos receberam a remuneração prometida. Então, vendo o limão como a limonada, o fundo da Parmalat acaba sendo um bom exemplo, apesar de nós não termos entrado.
II – Ainda falando em investimentos alternativos, vocês pensam em outros tipos de produtos?
LCA – Pensamos nos CRIs, nos fundos imobiliários, principalmente agora, com essa decisão do CMN que dá opção de recompra por parte do emissor depois de 20% do tempo decorrido no papel, o que dá liquidez a esse papel. Então, devemos estar aplicando não só em CRIs mas também em fundos imobiliários, estamos olhando algumas opções em torno de R$ 50 milhões nesse ano.
II – Como está a participação da Previ no segmento imobiliário, está dentro do limite da SPC?
LCA – Sim, está tranqüilo, tem bastante espaço para crescer.
II – Por falar em imobiliário, como está Sauípe, em termos de rentabilidade?
LCA – Não tenho esse dado na cabeça, só sei que houve mudança de comando com o objetivo de melhorar a rentabilidade do empreendimento.
II – Que mais vocês estão planejamento, na área de investimentos, para 2004?
LCA – Cumprindo a determinação da SPC, nós mandamos no dia 10 de novembro passado o nosso plano de enquadramento na renda variável. Fizemos um esforço grande para construir um fluxo de caixa de longo prazo e fizemos o plano de enquadramento respeitando o nosso compromisso atuarial, o nosso passivo atuarial. Caso a decisão seja positiva, a gente consegue abrir espaço para fazer outros investimentos, até um pouco de investimento em renda variável e outros ativos.
II – Em quantos anos vocês propuseram esse enquadramento?
LCA – Essa informação eu preferia não revelar, ela é muito estratégica. Se você se lembra da resolução 3.121, lá diz que se você não enviasse o plano de enquadramento ficaria valendo a data de 31 de dezembro de 2005. Então, só para te dar uma dica, o que posso dizer é que é para depois disso, mas não posso dizer exatamente o prazo.