A nova cara da Prevcom | Novo superintendente da fundação cria di...
Edição 370
Com apenas dois meses na presidência da Prevcom-SP, Sylvio Medeiros planeja promover mudanças profundas na estrutura da entidade. Em conversa com a Investidor Institucional, o ex-assessor da presidência do Iprem de São Paulo, indicado à direção da Prevcom pelo governo paulista, apontou a necessidade de mudanças nos produtos oferecidos pela entidade ao participante, na metodologia de gestão de ativos e no orçamento da entidade, entre outros pontos. Ele também fala sobre a necessidade de uma mudança defendida pelo sistema, que é a marcação na curva dos títulos públicos nas carteiras dos planos de Contribuição Definida (CD). Veja abaixo os principais trechos da entrevista:
Investidor Institucional – Como você analisa a Prevcom-SP após estes dois meses no comando?
Sylvio Medeiros – A Prevcom-SP, ao longo destes 13 anos de existência, se tornou uma entidade consolidada no setor, com 51 mil vidas, R$ 3,6 bilhões de patrimônio. Graças a esse histórico, podemos fazer frente aos desafios que pretendemos encarar. Entendemos que a Prevcom precisa de diversas mudanças estruturais que estão em curso. Pela primeira vez, por exemplo, temos um diretor de tecnologia, o que permite melhor integração de sistemas, mais gestão de risco, mais capacidade de respostas. Com uma estratégia muito simples, o que não significa que seja simplória, envolvendo novos produtos, novos serviços para novos clientes, queremos crescer significativamente no número de participantes e, consequentemente, também na nossa base de entes públicos.
Quais seriam esses novos produtos?
Temos observado lacunas dentro do mercado de entidades fechadas de patrocínio público. Por exemplo, a área de segurança está mal assistida, pretendemos desenvolver alguma coisa neste sentido. Também está no nosso radar instituir um plano família para ampliar a base de atendimento aos nossos segurados. Esses são dois elementos que eu já posso te adiantar, que estão em fase de formatação.
O que seria esse produto na área de segurança?
São produtos voltados para as áreas de segurança dos entes públicos, incluindo bombeiros, Polícia Militar, Guarda Civil. Existem aspectos da vida desses segurados que não estão plenamente atendidos, tanto em benefício de riscos quanto em benefício previdenciário. Vamos ampliar a atuação junto a esses públicos, junto às famílias.
Você diz que quer aumentar o número de participantes. Qual a meta?
A meta é dobrar a base de participantes durante a gestão da nova diretoria (até 2028). Buscamos chegar a 100 mil participantes e, por conseguinte, ter um aumento significativo no patrimônio sob gestão. Mas não quero cravar um valor, vai depender do tíquete médio dos produtos novos e dos entes públicos que a gente trouxer. Por isso precisamos de melhor integração de sistemas, e de políticas de gestão de risco melhoradas. Todos esses elementos estão sendo revisitados, estamos fazendo mudanças importantes em nosso processo operacional, para podermos garantir que o crescimento seja sólido.
As entidades tiveram um início de ano complicado em termos de rentabilidade. Como a Prevcom vai fechar 2024?
Até agosto, tivemos resultado de 6,82% no ano, para uma meta de 5,59%. A gente vem tendo sucesso nas estratégias. Claro, estamos em um cenário desafiador, com volatilidade de Bolsa, de nível de juros. Então, nos posicionamos de forma a preservar um pouco a rentabilidade. Estamos com cerca de 83% em renda fixa, meio a meio entre indexação de CDI e indexação de inflação. Temos também 5,5% em renda variável, 2,81% no exterior, 2,30% no mercado imobiliário, 5,8% em FIP e um pouco mais na parte de empréstimos a participantes.
Podemos dizer que houve uma virada para o conservadorismo?
Falamos de algo com baixo risco, bem posicionado, adquirido no momento certo. Parte significativa da nossa carteira está em NTN-B marcada na curva. Esse, aliás, é um ponto ao qual a Prevcom vai se dedicar, inclusive estamos elaborando material técnico para o processo de convencimento de que os planos de Contribuição Definida (CD) merecem o retorno da possibilidade de marcação de títulos na curva. E vamos defender as condições pelas quais entendemos que isso é plausível.
Quais seriam essas condições?
Por exemplo, ter uma política sólida de ALM, definindo efetivamente os gaps de ativos e passivos que permitam equacionar adequadamente os montantes que você pode marcar na curva. Também é preciso ter uma política muito consistente de gestão de risco e de liquidez. E é nisso que estamos investindo. Tudo isso para assegurar que a entidade terá títulos marcados a mercado em quantidade e montante suficientes para enfrentar essas variações patrimoniais sofridas em função de saques e transferências. Porque um dos argumentos que pautou esse impedimento das EFPCs marcarem títulos de renda fixa na curva, nos planos CDs, foi justamente uma suposta equalização com as entidades abertas de previdência. Ora, as entidades abertas têm índice de maturidade de 0,6%, o que significa que só 0,6% do total de segurados dessas entidades recebe algum tipo de pensão, enquanto nas entidades fechadas, principalmente as de patrocínio público, o índice de maturidade é próximo de 38%.
Esses planos abertos seriam feitos mais para fins tributários?
Claro, não se trata de uma estratégia de aposentadoria mas sim de investimentos feitos dentro de estratégias tributárias. No caso dos fundos de pensão é uma relação muito mais longeva, de longo prazo, são 38% dos segurados recebendo algum tipo de benefício de pensão ou aposentadoria, no caso das entidades de patrocínio público.
Acha que essa regulamentação pode mudar?
Os números do relatório das entidades, feito pela Previc, mostram que a nossa relação é de longo prazo. Portanto, a marcação na curva dos títulos públicos federais, principalmente, traz menos volatilidade ao participante. Isso desde que estabelecidas todas as condições necessárias. Mas existe um ponto importante no cenário econômico atual, que é a situação fiscal do país hoje, que enseja cuidados. Em função disso, estamos fazendo pequenos ajustes na nossa política de investimentos do ano que vem para permitir um melhor posicionamento.
Tem conversado com o segmento sobre essa questão?
Temos falado com Abrapp, Abipem, entidades de mercado. Nossa ideia é compor uma nota técnica, referendando toda metodologia que a gente acredita e todos os argumentos que a gente entende plausíveis para o retorno dessa prática, e levá-la até o Ministério da Previdência Social para entregar para o secretário Paulo Pinto e o subsecretário Narlon (Gutierre Nogueira).
Qual a linha de argumentação?
Veja, no período de acumulação de reservas quem tem plano de benefício definido pode marcar na curva, assim como quem tem plano de contribuição variável, mas quem tem plano de contribuição definida não pode. Veja, na fase de acumulação os planos CV e CD são similares, a única diferença é que lá na frente o CV se torna solidário no risco dos benefícios já concedidos. Então, porque os CVs podem marcar na curva e os CDs não? É o que vamos questionar. E mais, os regimes próprios também podem marcar na curva. Então, nós estamos dissociados. O participante vai olhar para o RPPS dele e pensar: ‘Está gerindo muito melhor do que meu sistema de previdência complementar, vou tirar dessa entidade e vou para o mercado pegar CDI’.
A marcação na curva é importante política de investimentos da fundação no ano que vem?
Estamos fazendo um planejamento de gestão muito diferenciada, que pretendemos implementar ao longo de 2025, alongando os nossos ativos para corresponder aos passivos que a gente tem alongados. Então, nesse cenário, com uma duration muito elevada e o cenário de volatilidade que temos, fica difícil levar confiabilidade aos participantes se a gente não tiver uma espécie de ‘freio’ nessa volatilidade. E a marcação na curva é esse freio.
O que mais muda na política de investimentos de 2025?
Nesse momento vai ser o mesmo feijão com arroz, com poucas variações. A gente está planejando incorporar um pouco mais de FIDCs e aumentar nossa exposição ao cenário externo. Mas não tem um desenho final, estamos no processo. Acabamos de finalizar as premissas do ALM, aprovamos no Conselho Deliberativo e vamos rodar outros modelos para depois levar aos ritos normais de aprovação.
Esses modelos vão ser baseados em ciclos de vida, ou algo similar?
Estamos desenvolvendo uma metodologia que busca equalizar melhor a gestão de ativos em relação ao nosso passivo. Se tenho dentro de todos os planos recortes transversais de grupos de pessoas que tem tempos similares de aposentadoria, eu posso criar cinco carteiras, com estratégias de prazo para aposentadoria de 40, 30, 20, 10 e 5 anos. Quem tem 40 anos pela frente até se aposentar vai estar na primeira destas carteiras, com mais risco. Então, posso gerir isso adequadamente. O tempo vai passando e quando esta pessoa estiver com 35 anos para se aposentar as reservas dela vão ser divididas em 50% de cotas dessa carteira da estratégia de 40 anos e 50% de cotas dessa estratégia de 30 anos. Você vai navegando, vai comprando a estratégia seguinte e vendendo a anterior a cada década.
Isso será feito automaticamente?
Vamos fazer a transição ano a ano, de maneira que a estratégia seja respeitada. O que muda é a exposição a risco, de acordo com cada perfil. Hoje, ainda não trabalhamos com perfis de risco em investimentos pois entendemos que é necessária a criação de novos controles. Esse processo é inovador no mercado, possibilita dar o nível de risco que o participante está disposto a correr, que faz sentido com o perfil e que é condizente com o tempo que falta para a aposentadoria. Nossa ideia é que o participante encontre um nível elevadíssimo de personalização da sua estratégia previdenciária. Também está no nosso radar a criação de clubes de benefícios, depuração e evolução do processo de crédito.
Como a tecnologia, que você citou investimentos no início da conversa, entra nisso?
Hoje, nossos sistemas estão dispersos e com deficiências de integração. Dentro do estado de São Paulo, você tem uma das melhores empresas de desenvolvimento de softwares no país, que é a Prodesp, que foi totalmente remodelada e está à disposição das entidades do estado. Estamos fazendo nosso onboarding lá dentro. Vamos encontrar lá todas as ferramentas que precisamos para fazer a integração dos nossos sistemas, com a possibilidade rever algumas, descontinuar outras, desenvolver e aprimorar várias.
Quanto precisará ser investido em tecnologia?
Vamos economizar R$ 2,9 milhões por ano na parte de tecnologia fazendo tudo isso. A gente fez um orçamento base zero, o que significa que rompemos a lógica de prolongar vínculos de um ano para o outro, sempre com pequenos reajustes, e reconstruímos todo nosso cálculo, contrato a contrato, para entendermos exatamente quais seriam os que deveriam permanecer, até quando devem ficar e qual estratégia de transição de cada um. Não apenas contratos de tecnologia, mas também de consultoria. Nossa estratégia é melhorar nosso corpo técnico e absorver mais competência, em vez de terceirizar. Vamos contratar apoio técnico para que a gente desenvolva internamente várias das competências que a gente terceirizava.
Falando da conquista de planos de entes federativos há algum tempo, qual a estratégia de vocês em relação a isso?
Nossa estratégia atual é ter novos produtos, novos serviços, para novos clientes. Portanto, vamos ter novos clientes. A gente tem a ambição de dobrar a base de segurados e aumentar o número de patrocinadores. Eu não vou brigar com ninguém, não estamos entrando para isso. Mas o país precisa do crescimento da Prevcom, porque há inúmeros entes públicos que ainda não têm sua previdência complementar estabelecida. Vamos avançar sobre esse mercado com uma solução que valorize o patrocinador e o segurado.
Como a Prevcom está se posicionando em relação aos investimentos em ativos ESG?
O ESG é parte do nosso processo decisório, não só na parte “ES”, mas também no “G”. A gente preza pela governança. Hoje, temos em torno de R$ 300 milhões, ou 8,4% do nosso patrimônio, aplicados nesses segmentos, sendo R$ 38 milhões em FIPs de impacto. Temos R$ 20 milhões em fundos imobiliários sustentáveis.
Vocês tentaram, no passado, implantar a adesão automática mas foi negada. Agora, com a nova legislação, vão implementar essa ferramenta?
Sem dúvida. Na semana que vem vamos aprovar as minutas de todos os planos que ainda não têm esse desenho e depois aprovar junto aos patrocinadores, seguindo depois o rito para encaminhar tudo à Previc, o que demora em torno de 25 dias úteis. Então, creio que até o fim do ano todos os nossos regulamentos de planos já estarão com adesão automática implementada. Nosso trabalho está sendo muito pautado para que o primeiro contato do participante com a Prevcom não seja o desconto no contracheque, mas sim um onboarding, uma conversa, uma explicação sobre os benefícios que oferecemos.
E nesse tema da comunicação com participantes, o que você acredita que pode ser melhorado?
Tudo. A gente pode fazer muito melhor, inclusive nossos aplicativos. A assertividade na comunicação é fundamental. Estamos trabalhando no desenvolvimento de melhores mensagens, melhores canais, acessos diferenciados aos públicos dentro dessa estratégia de personalização que a gente pretende trazer.
Vocês também iniciaram em agosto uma operação de empréstimos a participantes. Como está indo isso?
Até o momento, estamos fazendo empréstimos aos participantes dos nossos maiores planos, para que eles tenham como garantia as reservas previdenciárias. Estamos usando os maiores planos, por enquanto, porque é onde temos o maior acúmulo de pessoas com uma reserva significativa para gerar tíquete médio para o participante. Nosso tíquete médio, hoje, está em torno de pouco mais de R$ 16 mil. Já temos R$ 5,7 milhões em empréstimos para 363 segurados. Nossa ideia, nesse momento, é de um empréstimo voltado para o equacionamento de dívidas, porque tem um custo abaixo de 1% ao mês. É mais barato do que o consignado. Então, o que temos vendido para os nossos segurados é que peguem esse crédito, quitem os consignados e se equacionarem financeiramente, como um processo de saúde financeira.