Edição 74
Maria Amália Coutrim, do Banco Opportunity
Para a diretora do Banco Opportunity, Maria Amália Coutrim, a Internet é uma janela aberta para grandes lucros. Ela coordena a área de fundos de private equity do banco, e pretende lançar em breve um fundo de Internet de R$ 400 milhões para investidores locais e outro de igual valor para clientes off-shore. “Há compradores para esse tipo de produto”, garante ela.
Na liderança dos investimentos em negócios de Internet, o Opportunity já tem presença em seis negócios do tipo que se convencionou chamar .com, entre eles o IG, um dos mais famosos portais horizontais de acesso grátis à Internet.
Além disso, tem o Radix, que é um site de busca com mais de 500 mil acessos por dia, e a Agênciaclick, que produz páginas web para divulgar produtos de clientes e ganha comissão pelas vendas efetuadas. Já conta entre seus clientes com empresas do porte de uma General Motors, Boticário, Telefonia Celular, H. Stern e o próprio IG. Outros investimentos do Opportunity na área são o Decidir.com, um site argentino que funciona como um Serasa eletrônico, com mais de 500 clientes corporativos, e o Dr.Invest, um site para investimentos. O Banco está finalizando os entendimentos para investir em um novo produto, chamado Unear, do qual Maria Amália não revela detalhes.
Nesta entrevista à Investidor Institucional ela fala, além dos projetos de Internet do banco, também da posição do Opportunity em relação ao assédio dos bancos estrangeiros ao mercado financeiro local. Veja, a seguir, os principais aspectos da entrevista:
Investidor Institucional – O Opportunity é um dos últimos grandes bancos com foco em investimentos que ainda não se associou ou foi comprado por estrangeiros. Isso pode acontecer?
Maria Amália Coutrim – Apesar das nossas portas nunca estarem fechadas, esse não é o nosso foco de preocupação hoje. A nossa experiência é Brasil, nós administramos recursos tanto de investidores estrangeiros quanto de investidores brasileiros, num valor que ultrapassa os R$ 4 bilhões. Então, se você me perguntar se há necessidade de termos um sócio estrangeiro, eu acho que isso talvez seja melhor para ele do que para a gente, porque ele quer entrar no Brasil e nós já estamos no Brasil.
II – Mas suponho que esteja havendo um assédio…
MAC – Tem sim, mas não estamos preocupados em buscar um parceiro estrangeiro, porque nós temos expertise Brasil. O nosso foco de negócios são as nossas empresas, as empresas nas quais já temos participação, principalmente na área de Internet.
II – Como estão os investimentos do Opportunity na Internet?
MAC – Nós temos investimento em seis empresas da área de Internet. Estamos na IG; no Radix, que é um site de busca; na Agênciaclick, que é a primeira agência de propaganda em Internet no Brasil; temos uma participação num site argentino chamado Decidir.com, que faz avaliação de crédito como se fosse uma espécie de Serasa brasileiro, é um sucesso na Argentina que queremos repetir no Brasil; no MercadoEletrônico, que é um site de comércio eletrônico; e estamos lançando o Dr.Invest, que é portal vertical na área financeira. E estamos finalizando o investimento em mais um negócio, o Unear.
II – Quanto o Opportunity está direcionando para esses investimentos?
MAC – Não costumamos divulgar esse valor, porque por enquanto estamos fazendo os investimentos com os nossos recursos. Mas estamos criando um fundo para investir em tecnologia de Internet e telecomunicações, e pretendemos levantar R$ 400 milhões no mercado interno e outro tanto off-shore.
II – Será um fundo aberto?
MAC – Não, será um fundo fechado, um fundo de private equity.
II – Vocês pensam em fazer fundos abertos?
MAC – Isso eu não sei responder, porque eu sou focada em fundos fechados, eu teria que conversar com alguém da área de asset management.
II – Qual o motivo dos investimentos em Internet?
MAC – Eu sempre digo que, para nós, Internet não é uma obrigação mas uma oportunidade. Nós investimos nela porque existe uma expectativa de retorno muito grande. Nós avaliamos Internet como avaliamos qualquer outro negócio, com business plan, com expectativa de retorno e, se continuar essa circunstância de se pagar bem por empresas de Internet, nós vamos lançar IPO (lançamento primário de ações) de empresas de Internet.
II – Vocês têm algum IPO em vista?
MAC – Não, não nesse momento. A gente está avaliando todos os negócios pela expectativa de retorno, mas vamos fazer IPO de algumas companhias.
II – Vocês pretendem fazer o lançamento aqui no Brasil ou fora do Brasil?
MAC – Essa é uma questão que estamos avaliando. Certamente vai ter um braço lá fora. O que pode acontecer é lançarmos aqui no Brasil e fazer o ADR lá fora.
II – Qual sua análise dessa internacionalização do mercado de capitais?
MAC – Acho que é positiva.
Do ponto de vista do investidor brasileiro, ele pode comprar a ADR de uma empresa daqui na Bolsa de Nova York, o que quer dizer que ele está investindo na Bolsa de Nova York, onde as em-
presas são mais fiscalizadas e mais transparentes. E isso dá mais segurança para o investidor. Do ponto de vista do empresário, as ações da sua empresa ganham acesso a um mercado muito maior, com muito mais liquidez.
II – Mas o investidor local não pode investir numa empresa americana.
MAC – Mas o grande potencial são as empresas brasileiras, o potencial da Internet no Brasil é fantástico.
II – O potencial da Internet no Brasil é igual ou maior que nos Estados Unidos?
MAC – É muito difícil avaliar isso, mas certamente podemos dizer que o Brasil é o maior mercado da América Latina, sendo responsável por 88% das compras on-line da região. Na lista dos maiores clientes da Amazon.com, a maior livraria virtual do mundo, o Brasil ocupa o 3º lugar. Portanto, acreditamos que o Brasil possui um potencial de crescimento muito mais interessante que o resto da América Latina.
II – Quanto deve crescer esse mercado no Brasil?
MAC – Em business to business, você tem hoje um mercado de US$ 269 milhões que deve chegar a US$ 4,3 bilhões em 2005; na área de e-commerce, o volume de US$ 109 milhões de hoje deve saltar para quase US$ 2 bilhões em 2005. A propaganda em Internet, que hoje representa 1,9% do bolo total de publicidade, ou seja US$ 100 milhões, saltará para 11% do total em 2005, ou seja, para US$ 770 milhões.
II – De onde são esses números?
MAC – São de uma pesquisa recente que fizemos. Essa pesquisa também mostra o crescimento da base instalada de PCs no Brasil, de 14 milhões de máquinas neste ano para 24 milhões em 2005. Esse crescimento da base instalada, que acontece no mundo todo, é o que alavanca o acesso à Internet. O número de usuários de Internet no Brasil deve chegar a 10,2 milhões no ano 2000 e a 24 milhões em 2005.
II – Que segmentos devem crescer mais na Internet?
MAC – Nós achamos que o maior crescimento ocorrerá nas áreas de conteúdo e de serviços.
II – Quando esse negócio vai dar lucro? Porque, por enquanto, não está dando!
MAC – Isso não é diferente das outras áreas. Por exemplo, quando nós compramos o metrô não estava previsto ele dar lucro nos três primeiros anos. A Internet é um negócio como os outros, nós não temos um método de análise específico para ela. Mas achamos que é de se esperar lucro nos próximos três anos, porque a Internet é mais positiva do que outros negócios.
II – Por que ela é mais positiva?
MAC – Porque você pode fazer IPO e se paga por IPO de Internet muito mais. Se eu
fizer um IPO do metrô não vão pagar tanto quanto se eu fizer um IPO do Radix, por exemplo. Então, eu acho que isso é um fato positivo.
II – Vocês esperam ganhar mais em IPO do que no próprio negócio?
MAC – Não, eu não disse isso. O negócio tem que apontar para uma taxa de retorno positiva e atrativa. Então, você não consegue medir o quanto o IPO vai agregar no negócio, porque o IPO é circunstancial. Hoje, você certamente faria com sucesso o IPO de qualquer empresa no Brasil. Mas você não pode basear o seu investimento só no IPO.
II – Com que postura vocês entram nesses empreendimentos, como majoritários ou minoritários?
MAC – Nós sempre gostamos de ser majoritários, para fazer com que o business plan seja perseguido, só por isso. Então, se eu tenho um business plan eu não vou deixar desviar dele, eu não vou deixar que o custo seja ultrapassado, eu vou estar sempre controlando.
II – Vocês têm recebido muitos projetos de Internet?
MAC – Sim, muitos, mais de 300 nos últimos quatro meses. Desses, fizemos negócios com seis.
II – O investidor brasileiro vai entrar nesse negócio de Internet?
MAC – Acho que a Internet é uma revolução. Ela é como a energia elétrica, depois que foi criada você não ficou mais com a luz à vela. Ou como o rádio e a televisão, que você não fica mais sem eles. Com a Internet é a mesma coisa, acho que não tem volta. O que temos que ter é seriedade na seleção do projeto, na escolha do investimento, na avaliação do seu business plan, mas isso é como qualquer outro negócio. Alguns vão ganhar muito dinheiro com ele, outros não.
II – Qual o maior foco de negócios do Opportunity, hoje?
MAC – Eu te diria que, hoje, nosso maior foco de negócios é a Internet. Nós já somos um dos maiores investidores do Brasil nessa área.
II – Muita gente vai perder dinheiro em Internet?
MAC – Acho que sim. Como em qualquer outro negócio, você tem que ter uma empresa muito bem estruturada, uma administração boa, um negócio bom. Não acho que é para qualquer um.