Novos negócios.com

Edição 71

Roberto Vinhaes, da Investidor Profissional

Para o sócio-diretor da Investidor Profissional, Roberto Vinhaes, a informática vai mudar a vida das empresas. Ele acredita que a febre de dinheiro canalizado para essa nova modalidade de negócios vai acontecer no Brasil, da mesma forma como ocorreu nos Estados Unidos. Tanto que a sua empresa está lançando o primeiro fundo de Investimentos em Internet, o IP.com. Com investimento mínimo de R$ 50 mil e máximo de R$ 10 mil, o fundo pretende captar cerca de
R$ 100 milhões. Uma primeira tranche, no valor de R$ 20 milhões, será lançada já em fevereiro, mas já está totalmente vendida para investidores pessoas físicas; uma segunda, para investidores institucionais, será lançada a seguir. O fundo terá 5 anos de prazo e suas cotas serão negociadas em bolsa.
A primeira tranche do IP.com deveria ser de R$ 10 milhões, mas o número de projetos que surgiu foi tão alto que ela foi elevada para R$ 20 milhões. Cerca de 50 projetos chegam todas as semanas à mesa de Vinhaes. “Estamos num processo contínuo de refinamento do processo de seleção, para poder descartar umas 9 ou 10 propostas a cada dia, logo de cara”, diz ele. Em entrevista exclusiva, na qual ele fez questão de não ser fotografado, ele fala sobre esse tema que domina tão bem. Veja, a seguir, os pontos principais da sua entrevista:

Investidor InstitucionalPor que Internet é o assunto do momento?
Roberto Vinhaes – A convergência da revolução das telecomunicações com a revolução da informática vem causando muitas mudanças no ambiente empresarial, o que inclui a quebra de barreira de distância, redução dos custos transacionais e a possibilidade de interação e de personalização de uma série de produtos e serviços. Com essas mudanças, duas coisas estão acontecendo: primeiro, indústrias tradicionais que tinham um determinado conjunto de vantagens competitivas, por exemplo A, B, C e D, estão deixando de ter algumas delas e precisam encontrar outras para continuar competitivas; segundo, nesse momento estão surgindo novas companhias que estão dominando enormes mercados já existentes, aproveitando as oportunidades existentes.

II Pode mudar a cara do cenário econômico?
RV – Claro. E já há exemplos práticos disso. Nos EUA, no setor de livros, a centenária Barnes and Noble tinha milhares de lojas mas não percebeu a oportunidade da Internet e então a Amazon foi lá e dominou o mercado de venda de livros on-line. Hoje em dia, mesmo com todo os gastos que está fazendo, a Barnes and Noble não consegue recuperar essa fatia de mercado on-line. Ela continua indo bem na parte dela, no mercado tradicional, mas no mercado on-line ela perde tanto dinheiro quanto a Amazon ou até mais por venda e não consegue se afirmar.

IIO ataque vem sempre de empresas novas?
RV – Não, nem sempre! Veja o caso da Schwarb e da Merrill Lynch. A Schwarb era uma corretora tradicional que viu a possibilidade de usar a ferramenta da Internet para ganhar mercado, enquanto a Merrill Lynch ficou parada, achando que a força de venda dos seus brokers seria suficiente para manter seu mercado. O resultado é que a Schwarb ganhou mercado aproveitando as novas oportunidades e a Merrill Lynch perdeu, e agora está tentando recuperar o tempo perdido mas está tendo muita dificuldade.

IIQuer dizer que o perigo pode estar em qualquer lugar?
RV – Sim, existem as empresas que mudam e aproveitam as oportunidades e as empresas que surgem do zero, que não existiam antes, como o Ebuy, por exemplo, ou sites de leilões business to business. São negócios que eram impossíveis de se fazer antes, ou eram muito custosos, mas de repente tornaram-se possíveis via internet.

IIAlguns anos atrás ainda era possível entrar num negócio de Internet com pouco dinheiro. Isso está mudando?
RV – Os investidores perceberam que a oportunidade de terem grandes ganhos de capital, por serem os primeiros a chegar num determinado mercado e conquistar uma área muito grande, está cada vez mais difícil. E como eles estão dispostos a investir mais para consolidar rapidamente essas lideranças, isso está aumentando o custo inicial dos projetos de internet. É justamente porque eles querem andar mais rápido na construção da marca, e para andar mais rápido gasta-se mais dinheiro em menos tempo, que os projetos estão ficando mais caros. Se você analisar os projetos de Internet de uma maneira geral, o que aumentou foi o custo de marketing e não o custo da parte tecnológica, que cresceu também mas dentro de uma margem de grandeza muito menor.

IIA maioria das empresas de Internet ainda não dá lucro. Porque atraem investimentos?
RV – Isso envolve duas questões, uma estratégica e uma contábil. A estratégica é que, para construir uma marca muito rápida, ganhar market share, seja numa indústria estabelecida ou não, sacrifica-se o resultado de curto prazo porque está-se comprando market share para ser explorado mais tarde. Isto funciona assim em qualquer empresa, no lançamento de uma determinada linha uma empresa tradicional também opera com prejuízo para ganhar o mercado, só que a gente não vê porque a empresa tem outras áreas que dão lucro. Nas empresas de Internet também é assim, só que nelas isso é tudo, então o prejuízo é visível.

IIE a outra questão?
RV – A outra questão é contábil. Os investimentos de marketing em Internet são tratados como despesas, não como investimentos. Numa siderúrgica, quando você gasta US$ 2 bilhões na planta, a contabilidade trata isso como investimento, e isso é amortizado ao longo de muitos anos. Porque? Porque isso fica no ativo da empresa. Mas qual é o principal ativo de uma empresa como a Ebuy, como a Amazon, como a Yahoo? É justamente a marca, mas a contabilidade convencional trata todos os investimentos de marketing como despesa. Então, se você gasta US$ 2 bilhões construindo uma marca, aquilo tudo vai no resultado do ano, mas se você gasta US$ 2 bilhões construindo um auto-forno, aquilo vai ser despesa que vai ser diluída num prazo de 10, 15, 20 anos. Logo, você tem uma distorção contábil nessa questão.

II Essas empresas vão dar lucros, em algum momento?
RV – Algumas delas sim. Quando você fala se as empresas vão conseguir transformar esses investimentos em lucros, temos que ter cautela. O que estamos vendo é que estão surgindo empresas demais, por exemplo, 10 sites de leilão no Brasil é uma maluquice, o cara que está lançando o décimo site, na minha opinião é uma anta completa. Porque? Porque tem tanta coisa que ninguém está fazendo ainda e o cara vai entrar justamente numa área com concorrência. Ele está indo contra o princípio básico de que o investimento em Internet é atraente justamente porque há um grande mercado para conquistar, com pouca concorrência.

II Quer dizer, há muitos negócios que vão micar?
RV – Sim, tem cara que quer fazer um negócio via Internet porque Internet está na moda, mas ele não está propondo um negócio que tenha vantagens competitivas sustentáveis, que gere benefícios econômicos para fornecedores ou para os consumidores finais. Então, esse cara vai gastar muito dinheiro e provavelmente não vai chegar a nada mesmo.

IIA Internet fará desaparecer vários tipos de negócios intermediários?
RV – No começo se dizia isso, mas hoje você está vendo o surgimento de intermediários cada vez mais fortes. Até onde não havia intermediário eles estão surgindo. Nos EUA, surgiu um intermediário entre os fabricantes de produtos químicos, química fina e laboratórios e os consumidores desses produtos, que são os laboratórios de pesquisa, os laboratórios das universidades. Ele surgiu porque passou a agregar um valor muito grande, evitando aos compradores pesquisar em catálogo, fazer ligações para cá e para lá. A Ebuy é outro exemplo, é um intermediário.

IIOs papéis de Internet terão compradores no Brasil?
RV – Eu acho que sim. Podem não ser ações de empresas de Internet puras, mas serão ações de empresas que estão investindo em Internet. Há 20 anos, o grosso dos investimentos da economia ia para a construção de plantas, etc. Hoje as empresas estão investindo nisso e em três anos não terá uma empresa que não tenha um investimento significativo em tecnologia de informação, porque isso vai beneficiar o seu processo de compra, o seu processo de vendas, o seu processo de administração interna, tudo. Os investidores brasileiros, quer queiram quer não, na hora que estão comprando ações de uma Saraiva, de um Pão de Açúcar, de uma Globex, estão comprando Internet.

II Os analistas de investimentos estão vendo isso?
RV – Alguns sim. O caso da Saraiva, por exemplo é típico. Ela é líder no setor de livros, mas está vendendo on-line mais que a Submarino, apesar de todo o esforço da Submarino. Os analistas já começaram a prestar atenção nisso, a avaliar os investimentos da Saraiva em Internet. Eles dizem: poxa, se uma megastore custa R$ 5 milhões para fazer, e o site custa o mesmo valor mas, uma vez feito, não precisa investir mais nada e você pode vender por 10 megastores, então é bom negócio. Isso é e-business, e é isso que está por trás da demanda por ações da Saraiva, nos últimos 2, 3 meses.

IIQual é a sua avaliação da compra da Time Warner pela AOL?
RV – Muitas pessoas questionam até que ponto a AOL vale mais do que a Time Warner. Eu acho que essa é uma questão fácil de resolver, é só ver o preço da ação dela na bolsa.

IITem gente que acha que o preço pode estar distorcido.
RV – Eu também acho. Mas tem gente disposta a pagar. Se ela conseguiu comprar a Time Warner, que é uma boa empresa de carne e osso, vamos dizer assim, usando a ação dela, então vale. Se você tem uma ação da Amazon que você consegue vender por 100 dólares, então ela vale 100 dólares. Hoje as pessoas têm expectativa de que as empresas de Internet vão crescer rápido e por isso elas pagam um preço alto pela ação.

IIVão continuar pagando?
RV – Estão pagando nesse momento, e isso garante recursos às companhias para continuar crescendo rápido. É meio que um círculo virtuoso que, obviamente, como todo círculo virtuoso, vai quebrar em algum momento, mas enquanto não quebra…

IITem oportunidades no E-business para empresas brasileiras?
RV – Temos duas vantagens. Uma é que temos uma bola de cristal que funciona, quer dizer, você olha o mercado dos Estados Unidos, vê o que está dando certo e imagina aquele negócio numa temperatura de 40 graus. Se não derreter, faz igual aqui porque vai funcionar. Uma segunda vantagem é que as empresas de Internet de lá estão mais preocupadas com o mercado deles do que com o nosso mercado ou com qualquer outro mercado. Então, a gente tem essa janela de oportunidade, que é ver o que está dando certo lá fora e copiar aqui, sem concorrência do cara lá de fora, pelo menos nesse momento.