Gestão do risco é prioridade

Carlos Eduardo Rocha, da Brasil PluralEdição 242

O dirigente da asset Brasil Plural, Carlos Eduardo Rocha, fala nesta entrevista sobre os planos e estratégias da casa e sobre sua obsessão pelo controle de risco.

No final de agosto o Banco Central deu a permissão para o Brasil Plural operar como banco, o que colocou no mercado de bancos de investimentos mais um player de peso. Criado por ex-sócios do Pactual, o Brasil Plural veio para disputar com outros pesos-pesados do setor operações do mercado de capitais, além de fusões e aquisições e gestão de recursos de terceiros. Antes dele, da mesma origem também vieram o banco BTG Pactual, comandado por André Esteves, e a Vinci, gestora de recursos também criada por ex-sócios do Pactual.
Conversamos com o principal executivo da área de gestão do Brasil Plural, Carlos Eduardo Rocha, sobre o foco de atuação da gestora, suas estratégias e prioridades. “Gestão de recursos de terceiros é gestão de risco, primeiro olhamos para o risco e depois para a rentabilidade”, disse ele. Rocha passou 17 anos no Pactual, dos quais mais de 10 como sócio e mais de 5 na tesouraria de renda variável. Obcecado por controle de risco, diz que as pessoas em geral querem saber quanto vão ganhar, mas não pensam quanto podem perder. “Em momentos de estress a liquidez seca e a porta de saída fica muito pequena”, diz. Veja, abaixo, os principais trechos da sua entrevista:

Investidor InstitucionalO Brasil vive hoje um momento de juros reais muito baixos, com perspectiva, inclusive, de se tornar negativos ou muito próximo disso nos próximos meses. Queria saber como vocês, vindos do Pactual que se projetou no passado como uma casa de ótimos resultados na renda fixa, vai se posicionar nesse momento em que os institucionais estão demandando mais ativos alternativos, mais risco, para cumprir meta atuarial?
Carlos Eduardo Rocha – É verdade, a casa que você citou teve uma referência maior como câmbio e renda fixa, mas as pessoas que vieram para cá, eu inclusive, têm uma formação na renda variável. Fui chefe da tesouraria de renda variável de lá e depois cuidei do dinheiro dos sócios, e embora não tivesse uma exposição para os clientes eu ajudei, por duas vezes, a reestruturar a asset do banco que era o dinheiro dos clientes. Aqui na Plural temos um projeto ambicioso, que combina uma plataforma completa de produtos e a proposta de fazermos co-investimento com os nossos clientes.

II Vocês sempre investem o dinheiro de vocês junto?
CER – Sim, normalmente a gente testa os produtos de maior risco com o nosso dinheiro ou de pessoas que confiam mais nas nossas técnicas para depois oferecermos a outros clientes. Foi assim com os nossos fundos, nós não temos uma tesouraria focada, o nosso dinheiro é investido nos produtos da própria asset e pagando taxas absolutamente cheias.

IIVocês começam agora, algumas assets de renome, inclusive internacionais, estão abandonando esse mercado após anos de tentativa porque não alcançaram volumes mínimos (ver reportagem à página 36). Qual a estratégia de vocês?
CER – Embora sejamos um banco de investimento completo, aqui quando você vai falar do asset você vai falar diretamente comigo que sou o chefe do asset, se você vai falar de uma abertura de capital você vai falar diretamente com os sócios-fundadores daqui, os dois maiores sócios da Brasil Plural. Então, você tem uma proximidade com quem toca o banco, toca os negócios, e nossa estratégia é estar próximo do cliente, ajudá-lo a conquistar oportunidades.

IIFalar com o chefe é suficiente?
CER – Veja, a nosso maior ativo é a reputação, a minha e da minha equipe, as pessoas sabem o que a gente fez lá e estão acompanhando o que fazemos aqui, não só o quantitativo como o qualitativo. Damos importância enorme para o risco, para todas as hipóteses do risco, assim como para a liquidez. Esse é o nosso diferencial. Em função disso, hoje nossas parcerias já são muito fortes, nosso maior fundo, que é um fundo de multimercado, já tem cerca de R$ 750 milhões em dois anos e meio. Começou com R$ 150 milhões e rendeu mais do que 15% todos os anos, a meta dele é render mais que 150% do CDI.

IIA tendência é que o uso do CDI como referência de rentabilidade diminua, não acha?
CER – Nós ainda utilizamos o CDI porque é uma referência do mercado, mas é uma intenção do governo utilizar cada vez menos. Mas eu dou sempre o benefício ao meu cliente, se ele quiser um valor absoluto eu uso valor absoluto, por exemplo, quando eu falo que um fundo tem que render no mínimo 150% de CDI, eu digo também que ele tem que ter 15% ao ano. Eu uso as duas métricas.

IIQuantos vocês trouxeram da equipe antiga do Pactual?
CER – Nossos sócios-fundadores foram quatro, hoje nosso comitê executivo tem mais quatro, mas além disso nós pegamos pessoas oriundas das melhores casas com bancos de investimento. Do Pactual, trouxemos muito aprendizado, vi no mercado e naquela casa erros que foram cometidos no passado. Esse é um aprendizado de muito tempo.

IIErros no antigo Pactual, você está se referindo?
CER – É, acho que o Pactual foi uma casa de referência, tive minha formação lá, tenho amigos lá e acho que é uma boa casa, mas acho que o mercado erra muito nas crises e em posições ilíquidas. Nós temos uma série de restrições para ter posições ilíquidas aqui, a gente deixa muito claro no mandato para ajustar as posições por período de estresse do mercado. Trouxemos dos Estados Unidos um sistema para controle de risco em ambientes de estresse, quando a volatilidade aumenta, quando as distorções aumentam, é quando a gente diminui os riscos. A maioria das pessoas não faz isso. A gente é obcecado por controle de riscos. Além disso, como todos os gestores aqui são sócios e co-investidores dos fundos, temos um alinhamento maior com o investidor. Em geral, o mercado é incentivado a tomar risco porque se a aposta der certo o gestor ganha, mas se perder, quem perde é o cliente.

IIOs investidores brasileiros começam a olhar para oportunidades fora do Brasil. Vocês vão operar também com produtos voltados para o investidor que quiser colocar dinheiro fora do país?
CER – Não à toa, nosso nome é Brasil Plural. Embora a gente tenha um escritório em Nova York e contamos com opiniões sobre México, América Latina, estamos mais focados em Brasil. Tudo está nos detalhes, onde é seu foco e sua proximidade, onde é seu acesso, sua transparência, sua mensuração de risco e quanto você tem a capacidade de tratar diretamente com a pessoa para compreender o seu cliente.

IIQuantos analistas vocês têm?
CER – Diretamente ligado ao nosso fundo de multimercado temos um time de 16 pessoas. A gente está trazendo a equipe da geração futuro, que são mais 10 pessoas. Agora, analistas diretamente ligados à minha mesa de ações são cinco da Plural e quatro da Geração.

IIVocês estão preparando o lançamento de um Fip no segmento imobiliário. Poderia falar sobre isso?
CER – A gente está abrindo um FIP de shopping com cerca de R$ 400 milhões de patrimônio. A gente também tem um FIDC de imóveis, temos mais alguns analistas para isso.

IIQual o prazo para fazer o investimento desse FIP?
CER – Tanto no caso do FIP quanto do FDIC, o maior problema é você ter a geração de ativos suficientes. Quando nós montamos o FDIC, que hoje está com mais de R$ 300 milhões, foi de uma maneira escalonada, e vamos fazer a mesma coisa com o FIP. Hoje a demanda de ativos de shopping é superior ao que o mercado está ofertando. Há fundos estrangeiros associados com a gente, fundos de pensão, pessoas físicas e a gente tá segurando um pouco isso para ter certeza de que a gente vai ter ativo suficiente para rentabilizar e fazer aportes quando tivermos ativos para isso. Nossa maior referência será a nossa performance, ou seja, não interessa para a gente ficar com o dinheiro parado porque somos co-investidores.

II Qual será o foco de vocês, em relação aos clientes? Que tipo de clientes buscam?
CER – Nós entendemos que temos que ser relevantes para todos os clientes. Hoje, se você olhar hoje a parte de clientes institucionais, eles representam em um multimercado 25% mas em um FDIC mais de 80%, em um fundo de shopping serão mais de 2/3 também. Não por acaso nosso CEO (Rodolfo Riechert) passou pela área institucional do Pactual, o nosso chefe de distribuição (Bruno Carvalho) foi chefe da área de vendas institucionais, então é um setor que sem dúvida vai crescer. Outros segmentos que estão no foco são os multi family offices e distribuidores, além dos investidores estrangeiros.

IICom que cenário macroeconômico a área de gestão de vocês está trabalhando?
CER – O cenário é de juros ainda em queda, próximo de 7% até o fim do ano. Nossos economistas acreditam que o Banco Central vai manter este juro baixo por um período mais prolongado, você vai estar trabalhando com taxas de juros muito menores do que a gente viu no passado. Nesse ambiente, os clientes terão inexoravelmente que ir a mais risco.

II Os investidores brasileiros estão preparados para conviver nesse cenário de mais risco?
CER – O investidor não quer um excesso de risco por um retorno baixo. Aceita um risco um pouco maior por um retorno muito superior. É uma arte investir na bolsa em um momento mais turbulento e ingerência do governo em alguns setores. E o ambiente macro, nesse ambiente de juros mais baixos e uma inflação um pouco mais alta, mais próxima do teto da banda, você vai ter que escolher muito as empresas e o meu setor preferido é o de consumo. Acho fundamental você saber capturar este maior crescimento.

IIQue outros setores estão vendo?
CER – A gente também vê algumas oportunidades em infraestrutura, grande parte ligada a empresas abertas ligadas a concessões, que conseguem se beneficiar do setor de infraestrutura. Por exemplo, uma das minhas ações preferidas é a da WEG, que faz motores elétricos para a área de consumo e chegando inclusive ao setor de infraestrutura. A Gerdau, que inclui o pequeno consumidor e as grandes obras no Brasil que usam o vergalhão. Mas ainda acho que o grande destaque do país está no aumento da renda da classe média. Infelizmente você não tem tantas empresas focadas em infraestrutura em bolsa com maior liquidez.

IIPode haver nova onda de IPO?
CER – Acho que sim, a dinâmica da economia brasileira é brutal, eu sei de mais de 20 empresas que poderiam abrir capital, você só precisa de um mercado um pouco melhor.

IISempre se fala nisso, mas parece que o mercado não aumenta…
CER – O que hoje o mercado precisa, dado que o ambiente não é favorável globalmente, acho que é mais uma questão de qualidade. Dou um exemplo, se a Votorantim Cimentos vier a mercado, tem algum problema dela fazer o IPO? Problema algum, ela tem escala, é uma empresa com margem, é focada em infraestrutura. Você acha que se as Organizações Globo vierem a mercado, terão algum problema em fazer um IPO? De maneira nenhuma.

IIMas esse é o problema, não tem oferta de empresas como essas.
CER – Estou querendo dizer que, como a bolsa teve uma performance muito ruim nos últimos dois anos, os últimos IPOs não tiveram uma performance muito boa. Então, fica uma aversão a risco por parte do investidor, eles demandam uma taxa de desconto maior. E como a taxa é muito maior, às vezes não interessa para o empresário vender a este preço. O mercado precisa se equilibrar, para haver o casamento com o interesse do empresário.

IIDas empresas dos FIC de vocês, algumas terão esse canal de saída?
CER – É um caminho natural, a gente acredita muito nestas empresas, mas o importante é torná-las sucesso independente do canal de saída. Se elas não forem oportunidades, serão excelentes veículos de investimento.

IIComo será a incorporação da equipe da Geração Futuro?
CER – As estratégias serão feitas em conjunto, porém os produtos continuarão a ser diferenciados. A Geração Futura está dentro do Brasil Plural, a conclusão da parceria não foi finalizada, mas no futuro o Brasil Plural será responsável pelas ações no BC.