Crescimento dos alternativos | Private equities, real state e hed...

Saimir Pandiri, do BNY MellonEdição 257

Antes de ocupar o posto de vice- presidente e chefe global da área de serviços financeiros do BNY Mellon, o indiano Samir Pandiri atuou na área de investimentos alternativos da mesma instituição. Por isso, acumulou experiência e presenciou a evolução do mercado de private equity, real state (imobiliário), hedge funds e infraestrutura. Em visita ao Brasil no final de fevereiro passado, Pandiri concedeu entrevista exclusiva para Investidor Institucional e contou como foi o desenvolvimento e as principais tendências dessa indústria que já acumula recursos da ordem de US$ 3 trilhões. Como um dos principais executivos de uma das maiores instituições financeiras globais – US$ 27,4 trilhões em recursos sob custódia e administração –, o indiano acumula experiência na relação com os fundos de pensão e gestores do mercado americano.
Sua visita ao Brasil serviu para acompanhar de perto a adaptação do novo comando do BNY Mellon no país, após a contratação de Adriano Koelle e Carlos Alberto Salamonde no final do ano passado. Apesar de não querer comentar sobre os motivos que levaram ao afastamento da antiga direção, comandada por Zeca Oliveira, o vice presidente do BNY Mellon falou sobre os planos de expansão da operação do escritório brasileiro. Ele ressalta que todos os projetos anteriores estão mantidos, principalmente, em relação ao novo serviço de custódia centralizada, iniciado no primeiro semestre de 2013. Confira a entrevista na íntegra:

Investidor Institucional Qual a sua avaliação sobre a evolução do setor de investimentos alternativos nos EUA depois da crise de 2008?Samir Pandiri – Se você olhar para 15 anos atrás, praticamente não existia a indústria de investimentos alternativos. Daqui dois a três anos, ela movimentará quase US$ 5 trilhões. Hoje ela já atinge quase US$ 3 trilhões, a maioria proveniente de private equity e imobiliários, mas também incluindo hedge funds, infraestrutura e recebíveis. Então houve um grande crescimento em investimentos alternativos, principalmente após a crise.
IIQual o principal motivo para o forte crescimento dos alternativos?SP – Há uma razão muito simples para isso. Primeiro, as pessoas querem maior rendimento, mais alpha. Então eles procuram os alternativos como um meio de fazer isso. Em segundo lugar, é a diversificação. Se você investe tudo em ações muito longas ou renda fixa, você não terá a diversificação que precisa. E em terceiro, as pessoas ganham muito mais flexibilidade em relação à gestão do portfólio de investimentos quando têm um investimento em private equity ou em um hedge fund.
IIComo tem sido o crescimento dos investimentos alternativos entre os fundos de pensão dos EUA?SP – Estatisticamente, se você olhar para os fundos de pensão dos Estados Unidos, há 10 anos eles tinham pouca exposição aos alternativos. Atualmente, 24% dos ativos desses fundos de pensão são investidos em alternativos. Em alguns casos chega a ter até 60% de seus investimentos em alternativos.
II Por que os fundos de pensão ampliaram a demanda por private equity? De que forma os riscos e a rentabilidade são compatíveis com as necessidades desses investidores?SP – Para os fundos de pensão ou para as seguradoras, eles têm compromissos de longo prazo. É preciso ter uma porcentagem de seu portfólio que pode ser ilíquida, o dinheiro não precisa ser usado amanhã, mas sim em 3 anos, 5 anos ou 10 anos. Então, na hora de combinar os ativos e seus compromissos, para muitos deles a responsabilidade é de longo prazo, então está tudo bem assumir um risco de longo prazo. Pois eles precisam combinar os prazos e a rentabilidade.
II Essa tendência de crescimento inclui os investidores de varejo?SP – Acredito que a próxima grande tendência disso será investidores de varejo. Os produtos do varejo alternativo estão estourando nos Estados Unidos e na Europa e será o próximo fenômeno. Antes você precisava de US$ 5 milhões ou US$ 1 milhão para um investimento alternativo, mas agora você consegue investir com US$ 5 mil ou US$ 10 mil, como um indivíduo.

II – Quais as modalidades de private equity que mais cresceram? Por que?

SP – Hoje há uma variedade muito grande de fundos. O private equity tem se tornado um investimento muito customizado. Pode ser de uma fábrica, pode ser de uma empresa, de qualquer coisa. O que diferencia é como esse mix é estruturado. Antes costumava ser estruturado de acordo com que era requisitado por uma determinada empresa. Agora está sendo consolidado em estruturas que têm recebíveis, renda fixa, ações, ou seja, é uma estrutura muito complexa, então talvez para uma transação de private equity, a administração propriamente dita dessa estrutura terá que lidar com diferentes ferramentas. Há muito mais derivativos, muito mais ativos colaterais sendo aplicados junto com recebíveis, renda fixa e ações. Você deve ter habilidade de servir diferentes tipos de estruturas para uma transação de private equity. O que é muito diferente de 5 anos atrás.
IIO que mudou na indústria de investimentos alternativos após o anúncio do início do tapering (retirada dos estímulos pelo Fed)? Quais as principais tendências com o novo cenário?SP – Ainda teremos muito mais crescimento nesse setor. Mas o tipo de crescimento será diferente. O que acredito que veremos é uma maior customização especificamente para clientes individuais. Por exemplo, com o surgimento de plataformas de conta gerenciadas, pois o fundo de pensão tem muito mais experiência, entende desses investimentos, então eles querem ter uma gestão dedicada de conta exclusiva para seu investimento e não em um grupo. Essa será a primeira tendência, eles não investirão em grandes grupos, e sim terão contas gerenciadas, o que é muito customizado.
IIPode explicar melhor a tendência de customização?SP – Com o tempo, as pessoas considerarão muitos tipos de investimentos não-tradicionais, não só em private equities, mas também hedge funds e até imobiliários. Teremos ideias muito mais estruturadas sobre como o negócio é estruturado, pois diferentes investidores podem querer vantagens tributárias, outros rendimentos, outros querem retorno de longo prazo ou valorização do capital. Eles podem querer proteção cambial; as estruturas serão muitas mais customizadas dependendo das necessidades do investidor.
IIQuais são as principais mudanças na regulação do private equity e investimentos alternativos no mercado dos EUA?SP – Especialmente após a crise financeira, os órgãos reguladores querem mais divulgação e mais informação. Eles querem muito mais transparência acerca dos investimentos, eles querem ter certeza que o investidor está protegido no fim do dia. Em segundo lugar acredito que terão estrutura muito mais complexa, veremos estruturas inteiras sendo adaptadas para investidores individuais de acordo com suas necessidades. A terceira tendência, já falamos, serão plataformas de contas gerenciadas, veremos esse crescimento ao longo do tempo.
II Como o mercado está se adaptando a essas novas regulamentações?SP – Historicamente, com o crescimento de private equities, muitos dos gestores faziam eles mesmos toda a administração. Acredito que outra grande mudança, provavelmente muito similar ao Brasil, será a terceirização da administração. Se pegarmos os hedge funds como exemplo, quase 70% do back office e middle office são terceirizados para administradores de recursos. Mas se olharmos para private equity, o número é apenas 20%, ou seja, 80% do trabalho ainda é feito internamente. Acredito que daqui alguns anos aumentará a terceirização profissional da administração.
IIOs fundos de pensão brasileiros estão começando a investir no exterior. Poderia dar algumas recomendações para esses investidores?SP – A primeira é ter bons parceiros estratégicos, com forte reputação financeira e capacidades globais. É importante selecionar um parceiro bem conceituado para trabalhar. A segunda recomendação é definir quais os mercados que o investidor pretende acessar. Pode ser um problema querer acessar muitos mercados de maneira muito rápida. Acredito que é melhor acessar alguns poucos mercados que a sua área de pesquisa apontar. A terceira recomendação é que tenha uma boa área de gestão de risco, com informações transparentes para os investimentos selecionados.
II Tem algum outro ponto a considerar na hora de selecionar os investimentos no exterior?SP – Outra recomendação que ressalto é acompanhar as mudanças na regulação. Por exemplo, nos EUA há uma série de mudanças regulatórias, como a Dodd Franck, ou a Emir, na Europa. O investidor deve estar atento para as mudanças nas regras, então novamente é importante trabalhar com um parceiro que entende a acompanhe essas mudanças e que possa ajudar no gerenciamento e adaptação dos investimentos.
IIO que o BNY Mellon tem feito para reduzir o risco e melhorar a conformidade dos seus produtos e serviços na administração de fundos?SP – Tentamos fornecer todas as informações sobre o que chamamos de nosso serviço de Soluções Globais de Risco (GRS), que fornecemos a todos os clientes. Então, se você estiver investindo em fundo hedge e quiser saber como esses fundos estão atuando, como andam os investimentos, quais os valores mobiliários subjacentes, nós fornecemos essas informações. Também temos análise de performance e risco, então, todo mês ou trimestre ou fim do ano nós calculamos esses dados. Também estamos fornecendo cada vez mais um serviço que chamamos de análise de perspectivas de risco. Então o cliente mostra o portfólio e pergunta, por exemplo, o que acontecerá se as taxas de juros crescerem 2%? O que acontece se a inflação cair 2%? Ou seja, como afeta meu portfólio e como ele se comportará no ano que vem ou próximo trimestre.
IIVocê pode comparar a regulamentação do mercado brasileiro com o mercado dos Estados Unidos?SP – Acredito que o mercado norte-americano tem muito mais regulamentações, mas o Brasil é um mercado muito estabelecido e sofisticado. Os reguladores são muito atentos a todos os problemas e é uma industria muito bem regulamentada.
IIQuais os planos do BNY Mellon para a unidade brasileira em 2014 e nos próximos anos?SP – Nos próximos anos acredito que vamos ver muita inovação no Brasil em relação a novos produtos como estruturados, custódia, etc. Entre esses novos produtos está o GRS. No Brasil apenas olhamos o risco quando ele acontece. Isso é um exemplo do que queremos desenvolver localmente. Outra área que queremos integrar o Brasil junto ao resto do mundo é a contabilidade dos fundos em algumas das nossas plataformas de tecnologia principais. Queremos ter uma plataforma global. Então, por exemplo, se um gestor estiver usando dados aqui no Brasil e quiser usar em Dublin, queremos usar a mesma plataforma. Outra coisa que faremos é ampliar setores. Possivelmente seguro, veremos muito mais desenvolvimento aqui no Brasil.
IIQual a importância da operação do BNY Mellon no Brasil dentro do conjunto da América Latina?SP – O Brasil é, de longe, o mercado mais importante da região. Representa cerca de 85% de todo o negócio da América Latina. É o maior mercado único, todos os produtos estão aqui e construímos o negócio no Brasil nos últimos 15 ou 20 anos.
IIQuais os planos para os outros países da América Latina?SP – A equipe daqui está fazendo uma avaliação para ver onde mais vamos investir. Talvez México, Peru, Chile. No Caribe já temos grandes negócios.
IIO que representa a contratação de Carlos Salamonde e Adriano Koelle para dirigir as operações no Brasil?SP – Da minha perspectiva, eles são ótimos gestores. Eles conhecem o Brasil, conhecem a América Latina e conhecem nosso produtos. Antes de contratarmos Adriano, o time sênior da América Latina estava baseado em Nova York. Agora, eles estão baseados na América Latina. Isso é um sinal de avanço para nós como companhia por termos uma equipe local maior e mais experiente.
IIComo tem sido a transição da equipe antiga para a nova?SP – Temos uma equipe madura, todos os nossos clientes estão fazendo negócios conosco, ninguém nos deixou, e continuamos crescendo no Brasil. A transição tem sido fácil e suave. Lembro que embora tenhamos mudado toda a equipe sênior, não perdemos nenhum cliente nessa transição, o que mostra a força da relação com os clientes. Temos mais de 250 gestores independentes de ativos no Brasil e 20 investidores institucionais.