Edição 72
José Horário Almendra, da PSS
O presidente da PSS, a fundação patrocinada pela Philips do Brasil, é um piauiense bem humorado. Vindo de um dos estados mais pobres do país, José Horácio Almendra costuma gozar dos interlocutores que tentam provocá-lo, por causa da sua origem, garantindo que o Piauí é um dos estados que mais cresce no cenário nacional. Cita provas, com convicção. O lugar onde à tarde funcionava um prédio, por exemplo, de manhã tinha apenas um terreno vazio. “Eu passei cedo por lá, não vi nada, à tarde tinha um edifício de 15 andares funcionando”, conta rindo. É assim esse piauiense, que desde 98 controla a PSS.
A fundação teve em 99 o melhor ano da sua história em termos de retorno de investimento, garante Almendra. Contribuiu para isso uma aplicação um pouco excêntrica que fez, em NTNs cambiais, que renderam uma pequena fortuna. Além disso, ele tomou a tarefa de reduzir a participação imobiliária da fundação, vendendo o Hospital Vita, de Curitiba, e uma parcela das debêntures do empreendimento WTC. Nessa entrevista exclusiva à Investidor Institucional, ele fala sobre esses temas.
Fala também sobre a possibilidade de aumentar a concorrência entre os cinco administradores de recursos do plano de contribuição definida da PSS, trocando o de pior desempenho a cada ano por um novo. “Nós estamos discutindo isso no Conselho Administrativo da PSS”, diz. “É uma sugestão vinda daqueles administradores que têm apresentado as melhores performances. Mas nós ainda não tomamos essa decisão, estamos matutando um pouco mais sobre ela”. Veja, a seguir, os principais trechos da sua entrevista:
Investidor Institucional – Como foi o resultado da PSS em 99?
José Horário Almendra – No total foi muito bom. No plano de contribuição definida tivemos um desempenho excelente em 99, com uma valorização de 118% no perfil conservador, 138% no perfil moderado e 158% no perfil agressivo, isso para a carteira do melhor administrador. Temos cinco administradores, mas todos eles tiveram uma boa performance, dando ao participante um resultado muito acima da inflação. No plano de benefício definido nós tivemos o melhor rendimento da nossa história, a melhor performance dos 22 anos da PSS, em função de uma aplicação de US$ 50 milhões que fizemos em 1998 em NTNs cambiais, com correção cambial mais 14,3%. Entramos nessa posição no primeiro trimestre de 98, com o dólar a R$ 1,2 e saímos no último trimestre de 99, com o dólar a R$ 1,9. Então, foi fantástico.
II – Por que vocês resolveram entrar nessa posição de NTNs cambiais?
JHA – Normalmente se diz que os fundos de pensão não têm motivos para entrar em aplicações vinculadas ao dólar. Claro, nosso passivo e todas as nossas obrigações estão em reais, mas todos os nossos assessores nos aconselharam, e nossa própria gerência financeira também indicava isso, que na pior das hipóteses um rendimento indexado ao dólar nos daria o mesmo que a renda fixa em termos de reais. Então, isso nos levou a contemplar essa possibilidade, e fomos felizes. Mas achamos que essa era uma oportunidade que não deve, ao longo do tempo e permanentemente, compor uma carteira da fundação. Tanto é que, no momento que nós consideramos adequado, nós saímos dessa posição de NTNs cambiais e passamos para as NTN pós-fixada, que o governo lançou recentemente.
II – O cenário que vocês traçavam quando compraram essas NTNs cambiais era que o dólar subiria mais que a inflação?
JHA – Nós considerávamos na época, e o próprio governo dava indicação disso, que na pior das hipóteses a variação cambial seria um pouco superior à inflação. Como nós íamos ter juros de 14% além da variação do câmbio, isso significava que teríamos juros reais de mais de 14%, porque a variação cambial ia ser superior à inflação. Então, isso não nos pareceu ser um investimento de risco, nem um investimento especulativo.
II – A PSS está pretendendo aumentar sua exposição à renda variável neste ano?
JHA – No plano de contribuição definida o perfil do investimento, mais conservador, moderado ou agressivo, depende da decisão individual do participante. Nós não induzimos o participante a aplicar mais em renda fixa ou variável, o que fazemos é o seguinte: a cada ano a nossa gerência financeira convoca os cinco administradores para conversar com os participantes. Então, cada administrador conta sua história, como é que foi o ano, como ele acha que vai ser o ano seguinte e dá a sua perspectiva, tudo isso assistido pela PSS. Baseado naquilo, o funcionário toma a decisão de investimento.
II – Quem são esses cinco administradores?
JHA – São todos grandes players do mercado, o ABN Amro, Bradesco Templeton, Citibank, Itaú e Unibanco.
II – Como a PSS mantém os participantes desse plano informados dos resultados dos investimentos?
JHA – Distribuímos trimestralmente todos os elementos que permitem a ele acompanhar a evolução e a performance dos administradores. Então, colocamos no quadro de avisos um material que chamamos PSS Informa e que também está disponível na nossa Intranet, mostrando a performance dos cinco administradores, tanto a acumulada no ano quanto a acumulada desde o momento zero do plano, que é 1/1/97. Além disso, autorizamos o melhor administrador de cada trimestre a se dirigir a todos os participantes do plano, através de uma carta, dando o seu recado. Quanto mais melhores trimestres ele tiver, mais cartas ele ganha. E na hora de escolher o gestor da sua carteira para o ano seguinte, o participante vai se lembrar daquele que teve os melhores resultados.
II – O participante escolhe o gestor de quanto em quanto tempo?
JHA – Ele pode mudar de gestor uma vez por ano. Todo mês de novembro ele é solicitado a fazer a sua opção de continuidade ou de alteração de gestor, para vigorar a partir de 1º de janeiro do ano seguinte. Em novembro, ele também renova sua escolha do tipo de portfólio, entre conservador, moderado ou agressivo, e define o novo percentual da sua contribuição para o período.
II – O participante pode mudar o percentual de contribuição todo ano?
JHA – Pode, e a escolha vale por um ano, assim como a escolha do gestor e do perfil do plano. Ele escolhe a porcentagem da sua contribuição, entre o mínimo de 3% e o máximo de 12%, e a Philips acompanha com até 8%. Isso permite ao participante, mesmo aquele que entra no sistema aos 40, 45 anos de idade, pegar uma parcela significativa do seu salário, vamos supor 12%, juntar com os 8% que a Philips coloca, e ter todo mês 20% do seu salário bruto destinado a formar uma poupança previdenciária. Esse é um grande trunfo do plano de contribuição definida, que dá esta possibilidade.
II – Quantos participantes da fundação estão nesse plano de contribuição definida?
JHA – Hoje, quase 80% dos participantes da PSS são do plano de contribuição definida. Eles escolhem suas aplicações, uns querem mais renda variável, outros querem mais renda fixa, e nós investimos de acordo com o perfil escolhido por eles, entre conservador, moderado ou agressivo. Nós simplesmente fazemos as aplicações que eles escolhem.
II – E no plano benefício definido, qual a perspectiva de investimento para este ano?
JHA – No que diz respeito a esse plano, claramente nós não vamos privilegiar a renda variável. Por quê? Porque o número de participantes desse plano é muito pequeno, em sua grande maioria são pessoas que já estão relativamente próximas da suplementação, e achamos que a melhor conduta para esse plano é aplicar em renda fixa. Então, aí nós vamos ser extremamente conservadores.
II – Como está aplicado o patrimônio desse plano?
JHA – No plano de benefício definido chegamos, no final do ano, a um patrimônio de aproximadamente R$ 500 milhões, sendo que 40% disso é líquido. Por líquido eu quero dizer empréstimos a participantes, investimento em renda fixa ou valores que a qualquer momento eu posso realizar. Outros 20% estão em imóveis ou ativos com características imobiliárias, como debêntures suportadas por empreendimentos imobiliários.
II – A PSS tinha um problema de desenquadramento em relação a imóveis. Já resolveu?
JHA – Nossa posição relativa nesse tipo de ativo tem decrescido ao longo do tempo, por duas razões. Primeiro, porque nós conseguimos vender parte desses ativos e o melhor exemplo disso são as debêntures que tínhamos do Hospital Vita (Curitiba-PR), que vendemos integralmente para a própria Philips em junho de 99, e das debêntures do WTC, que vendemos parcialmente para um investidor externo. O crescimento do nosso patrimônio total, junto com a venda de alguns desses ítens, fez decrescer a participação relativa dos investimentos imobiliários da PSS.
II – Isso quer dizer que a PSS está enquadrada na sua carteira de imóveis?
JHA – Praticamente. A PSS tem uma autorização especial dada por órgão competente para atingir um determinado percentual em janeiro de 2000, e através da venda das debêntures que já mencionei, da venda de ativos como a participação no Shopping Center de Petrolina, parte da nossa participação no Shopping Center de Guararapes etc, praticamente chegamos a esse percentual. Hoje, em 31/12/99, temos só dois ítens isolados de desenquadramento, que devem ser equacionados neste ano. Um é nossa participação indireta no World Trade Center e o outro é um fundo imobiliário relacionado a um shopping center de Ribeirão Preto.
II – O senhor disse que a PSS vendeu sua participação no Hospital Vita para a Philips. Esse foi um negócio interessante para a fundação?
JHA – A PSS realizou um bom ganho nessa venda. Havíamos decidido, já anteriormente, fazer uma certa desvalorização através da criação de uma provisão contábil, trazendo o valor dessas debêntures àquilo que considerávamos como realizável. Então, no momento em que a Philips decidiu comprar essas debêntures, o fez seguindo o preço unitário do papel, seguindo a curva do papel, e deu um ganho significativo para a PSS.
II – E com relação à venda das debêntures do WTC, isso significa que a PSS está saindo desse empreendimento?
JHA – Não, não é idéia da PSS sair totalmente do WTC. Nós queremos manter uma posição lá, mas uma posição menor e dentro dos limites de enquadramento da legislação. No ano passado nós vendemos uma parte das nossas debêntures naquele empreendimento para um investidor de fora do Brasil, da área imobiliária. Acreditamos que, com a maturação desse grande projeto, outros investidores também se mostrarão interessados em participar do investimento.
II – De quanto era a participação da PSS no WTC e quanto vendeu?
JHA – A PSS participa do WTC através da House Center, junto com o grupo Gilberto Bomeni. O ativo da House Center são cotas do WTC e o passivo são debêntures a favor de empresas da PSS e do grupo Gilberto Bomeni. Nossa participação na House Center, que controla 33% do WTC, era de 44% antes da venda e desceu para 29% no ano passado, após a venda.
II – Como o senhor está analisando a alta do mercado de ações? Ele continua subindo neste ano?
JHA – Eu acho que sim. O Brasil vai receber muito mais capital direto neste ano, vai receber investimentos diretos como nunca recebeu em toda a história, o que leva a crer em um comportamento muito favorável do mercado de ações. Acredito que o mercado brasileiro de ações vai continuar crescendo neste ano.
II – Qual sua avaliação sobre as perspectivas da economia para este ano?
JHA – Eu vou falar como diretor das empresas Philips na América do Sul. Nós somos uma empresa bastante diversificada, que atua na área de iluminação, de eletrônica de consumo, de componentes eletrônicos, de digital receivers e das modernas formas de recepção de sinais. Não há um desses mercados que não nos indique um crescimento positivo para o ano de 2000. Todos os nossos budgets, todos os nossos planos de produção e de venda indicam um crescimento neste ano.O ano de 1999 já foi melhor que 1998, sem atingir o grande pico de 1996, que foi um ano realmente fantástico. E estamos muito otimistas com relação a este ano de 2000.
II – Os investimentos da Philips vão ser significativos neste ano?
JHA – A Philips vai sempre acompanhar o mercado. No passado nós fizemos grandes investimentos, temos fábricas que podem produzir muito mais do que produzem hoje. O grau de ocupação dessas fábricas vai crescer no ano 2000, assim como haverá uma maior utilização de nossos canais de vendas. Em outras palavras, se eu puder fazer uma comparação através de um indicador de performance que nós usamos, que são vendas por empregado, estou seguro que ele vai subir consideravelmente no ano de 2000.