Alternativas para o crescimento | Gigante mundial aposta em parce...

Armando Senra, da BlackRockEdição 259

Maior asset mundial com US$ 4,4 trilhões de ativos sob gestão (Aum), a BlackRock ainda possui uma participação modesta no mercado brasileiro. Com cerca de US$ 2,6 bilhões sob gestão no Brasil, a asset ainda apresenta volume reduzido de recursos sob gestão se comparado a outros mercados da América Latina como México e Chile. No México, por exemplo, são mais de US$ 26 bilhões de ativos geridos pela BlackRock. Mas nem por isso, a empresa deixa de investir para ampliar sua participação na indústria brasileira. A mais recente novidade foi o lançamento do primeiro ETF de índice estrangeiro, o iShares S&P 500 (IVVB11), no Brasil.
Em entrevista exclusiva para Investidor Institucional, o diretor da BlackRock para América Latina e Ibéria, Armando Senra, revela algumas das estratégias da asset global para crescer no país. O executivo fala das iniciativas de crescimento orgânico, algumas delas em parceria com grandes instituições, como no caso do fundo no exterior voltado para os fundos de pensão, que começou a captar no início de 2014. Senra destaca a parceria com a BB DTVM e a presença dos primeiros investidores, em especial, da Previ.
Além do crescimento com as “próprias pernas”, o executivo não descarta as oportunidades de aquisições, não apenas de assets, mas também de plataformas e produtos da concorrência. “O crescimento de BlackRock em diversos países inclui transações inorgânicas”, diz Senra. Ele lembra que a própria entrada da asset na América Latina foi iniciada a partir da aquisição do Barclays Global Investors, que tinha a plataforma iShares de ETFs em alguns mercados da região. Ocorrida em 2009 e avaliada em US$ 13,5 bilhões, a aquisição até hoje é a maior da história das assets. Antes disso e depois, a BlackRock vem mantendo um ativo histórico de aquisições. Leia os principais trechos da entrevista:

Investidor Institucional Por que o Brasil é um mercado importante para a BlackRock?Armando Senra – Queremos crescer na América Latina e o Brasil representa 70% do mercado da região. É um mercado muito atrativo. A indústria de asset management no Brasil é muito grande e diversificada. Há um crescimento de riquezas que fará com que surja maior quantidade de investidores. Então, desde o ponto de vista tanto do investidor institucional quanto do investidor privado este é um mercado muito atrativo. Se queremos ser relevantes na América Latina, precisamos ser relevantes no Brasil.
II O projeto de crescimento no Brasil será exclusivamente orgânico ou pode incluir aquisições?AS – O crescimento de BlackRock em diversos países inclui transações inorgânicas. Então sempre estamos abertos a diferentes possibilidades de crescimento, tanto orgânicas quanto inorgânicas.
II Pode dar exemplos de recentes aquisições?AS – Faz pouco tempo compramos uma companhia com o foco em real state que se chama MGPA, que tem presença na Ásia e na Europa. Essa foi uma das últimas. Ao longo de nossa história, tivemos várias aquisições, a maior foi em 2009, quando adquirimos o Barclays Global Investors. Antes disso, havíamos comprado Merrill Linch e também State Street. Houve várias pequenas aquisições, que poucos ficaram sabendo, por exemplo de pequenas assets de gestão de hedge funds. Não fizemos aquisições apenas de outros gestores, mas também estamos abertos para adquirir por exemplo, uma plataforma ou diferentes sistemas. No México compramos Naftrac, que é o equivalente ao Bova11 (índice do Ibovespa). É o ETF do principal índice do mercado mexicano.
IIQue tipo de aquisição pode fazer sentido para ampliar a atuação da BlackRock no Brasil?AS – Sempre estamos abertos a diferentes possibilidades. Pode ser uma asset com expertise de investimentos que não tenhamos e que seja interessante para nós. Sempre estamos abertos a possibilidades. Não posso dar mais detalhes, mas estamos abertos a novas alternativas.
II A própria entrada da BlackRock na América Latina teve a ver com a aquisição dos Ishares não é mesmo?AS – Sim, a principal foi a aquisição de iShares. Antes disso, não estávamos presentes na região. Agora temos uma equipe de mais de 100 pessoas em vários escritórios. Temos escritórios no México, Colômbia, Miami, que também cobre investimentos na América Latina. Também temos no Chile e no Brasil.
II Por que decidiram priorizar os ETFs no Brasil?AS – Os ETFs nos permitem participar do mercado local com um produto que temos know how. Não vamos tentar competir com a gestão ativa de renda fixa local, por exemplo, contra um banco doméstico. Não teríamos uma vantagem competitiva. Ao invés disso, através dos ETFs temos um instrumento que nos permite crescer no mercado local, oferecendo um produto diferenciado. Se fôssemos criar um produto ativo local, neste caso, não haveria nenhuma vantagem competitiva. Não estamos enfocados somente nos ETFs, por exemplo, lançamos um produto global para dar acesso aos fundos de pensão para diversificar a exposição no exterior.
IIPode explicar quais são as dificuldades competitivas encontradas no Brasil em relação aos bancos domésticos?AS – Não queremos competir com as grandes instituições. Na verdade, nós temos buscado parcerias com elas. Acabamos de lançar esse fundo no exterior, que é o Global Equity Income, em parceria com o Banco do Brasil. É um trabalho em conjunto, que trazemos uma de nossas expertises internacionais, mas é um fundo que é lançado na plataforma do Banco do Brasil. Então, temos estratégias por exemplo de lançar um fundo ativo local mas em parceria com outro gestor. Neste caso, temos o benefício de acessar outra plataforma dentro do mercado brasileiro. Além da estratégia de ETFs, que nos permite participar do mercado local, ser um player relevante no mercado local, mas com uma estrutura diferenciada de transparência e de custos. Então, não estamos competindo com os grandes players diretamente. Estamos criando um outro caminho.
IIPor que é tão difícil convencer aos fundos de pensão a investir no exterior?AS – Não acredito que seja difícil, não é necessariamente diferente de outros mercados. As pessoas pensam que a dificuldade se limita aos mercados emergentes, mas se pensar nos Estados Unidos foi a mesma evolução. A princípio os investidores aplicavam inicialmente apenas em renda fixa local. Depois foram tomando posições em ações locais, depois me lembro quando comecei na BlackRock, há 20 anos, falávamos nos Estados Unidos para explicar ao investidor as vantagens de diversificar globalmente. No Brasil até agora, se é verdade que tem havido uma concentração muito forte no mercado local, nós pensamos no longo prazo. Pensamos que a diversificação global é uma parte importante.
II E o novo ciclo de abertura das taxas de juros no Brasil não reduz o apetite para investir no exterior?AS – Subiram agora para 11%, mas estava em 20% há pouco tempo. Agora não estão mais neste patamar de 20%, não é o mesmo momento que em 2008 ou 2009. É verdade que aumentaram um pouco, mas ao final, se olhar as necessidades de um sistema de fundos de pensão de mais de US$ 300 bilhões precisa estar investido globalmente, tem que diversificar. O benefício da diversificação ficou claro nestes dois últimos anos.
IIVocês utilizaram recursos próprios para impulsionar o fundo de ações no exterior? Como e por que fizeram isso?AS – Quando lançamos produtos, muitas vezes colocamos seed capital, para que o produto tenha a capacidade de crescer mais rapidamente. Neste caso, queríamos demonstrar nosso compromisso com o produto, colocando nosso próprio capital. E fazendo isso, aceleramos as possibilidades dos fundos de pensão em aplicar no fundo, por causa do limite de não exceder 25% do patrimônio do fundo. Então, o seed money abre possibilidades para a entrada de outros fundos de pensão.
IIQuais são as dificuldades que enfrentam em termos de regulação?AS – A regulação neste momento não é uma dificuldade, pois o regulador permite aos fundos de pensão investir até 10% internacionalmente, então, tem espaço para que cerca de US$ 30 bilhões sejam investidos fora do país. Até agora, tem menos de 0,1%. A regulação não é um entrave, espero que se acelere essa diversificação daqui para frente.
IIMas como analisa a velocidade dos investimentos no exterior de mercados como México e até do Peru, que é mais rápida que no Brasil?AS – Em mercados como por exemplo de México, eles não podiam nem sequer investir em ações locais antes de 2008. São processos na região em geral, que demoraram mais que em outros países, mas depois começa um processo rápido. Então, no México passou de um momento que não podiam investir nem em renda variável, a poder investir em ações e a poder investir no exterior. Primeiro foi permitido investir em ações locais com produtos com capital garantido, depois em ETFs. Por isso, nosso negócio é tão grande no México. Depois passou a permitir o investimento em equity local, depois para levar produtos internacionais ao mercado. Então, acredito que esse processo no Brasil também vai se acelerar.
II Pode explicar um pouco mais sobre a situação dos investimentos dos fundos de pensão mexicanos no exterior?AS – No México os fundos de pensão podem investir no exterior até 20%. E já estão próximos do limite, então agora os reguladores e os fundos de pensão, todos estão falando da possibilidade de aumentar o limite. Então em toda a região tem essa tendência de ter um regulador que pretende controlar o processo de diversificação. O regulador quer ver se os fundos de pensão têm a capacidade de investir fora do país, se tem os sistemas de risco e de gestão para investir no exterior, se existe um processo de educação e de entendimento desses mercados.
IIComo avalia o processo chileno?AS – O Chile abriu o investimento no exterior há mais de 15 anos. Então, é um caso extremo na América Latina. O Chile tem vários anos de abertura e também tem um diferença importante com o Brasil. É que o mercado de capitais no Chile não tem o tamanho do mercado brasileiro. Portanto, desde o princípio, quando os fundos de pensão chilenos foram crescendo, houve uma necessidade de investir no exterior. Senão teria um problema, não poderia investir no mercado doméstico.
II Quais os principais mercados mundiais que oferecem as melhores oportunidades de retorno neste momento? Que tipo de ações?AS – Em termos de mercados, há uma recuperação da economia global, especialmente em mercados desenvolvidos. Percebemos investimentos voltando para ações, renda variável global, e estamos otimistas com a recuperação econômica de países desenvolvidos. Isso não quer dizer que não gostamos de mercados emergentes, que têm um papel importante na carteira global dos grandes investidores. Mas percebemos que os investidores terão que ser mais seletivos nos mercados emergentes ao escolher em quais deve investir.
IIQue tipos de ações são mais atrativas, por exemplo ações de empresas que pagam dividendos?AS – Depende do investidor. No caso dos fundos de pensão, lançamos o Global Equity Income que é um fundo de dividendos de ações globais. E eles gostaram muito porque eles têm tempo para esperar um pouco mais, e com os dividendos eles têm uma perspectiva mais defensiva do mercado. E o nosso fundo de dividendos não filtra apenas pelas ações que oferecem os maiores dividendos. Mas faz também uma análise fundamentalista que faz uma projeção do dividendo no futuro.
IIVocês continuam otimistas com as perspectivas do Brasil?AS – Temos confiança no mercado brasileiro tanto no aumento de nosso negócio como investidores, temos mais de US$ 28 bilhões investidos em ações no país, como investidores, e mais outro montante semelhante investido em renda fixa de papeis do mercado brasileiro. Quando pensamos no crescimento demográfico, o Brasil continua atrativo, assim como o crescimento da classe média, do consumo interno. Tem várias companhias brasileiras que são relevantes globalmente, então, continuamos gostando da economia brasileira. Temos uma presença forte no Brasil e acreditamos que no longo prazo é um mercado com grande potencial de crescimento.
IIQuais são as metas de crescimento da BlackRock no mercado de assets?AS – Queremos ser um dos gestores mais relevantes no Brasil. Nossa intenção é atuar no longo prazo. Temos um compromisso com o país. Não somos um banco de investimentos que entra e sai. Queremos trazer para o país as diferentes especialidades de investimentos da asset.