Edição 53
A nova empresa de asset vai deixar o tradicional prédio de vidros azuis do Citibank, na avenida Paulista
O Citicorp é um dos maiores administradores de recursos de terceiros do planeta, exatamente o 10º no mundo, uma posição confortável mas que deve crescer com a criação da estrutura do SSB Citi Asset Management, que incorpora as experiências do Salomon Smith Barney e do Citibank. No Brasil, a SSB Citi nasce como a 7ª do ranking dos administradores de ativos e promete saltar para as primeiras posições nos próximos anos.
Para isso, a empresa está contratando 70 profissionais até o final deste ano, mudando de sede e investindo “alguns milhões de reais” no negócio, como explica o novo diretor de distribuição e vendas, Glen Johnston. Além disso, a SSB Citi está lançando, em maio, uma família de índices para os mercados de ações e renda fixa, conta Johnston.
Ele é norte-americano, advogado de formação, e trabalha na área de asset management há 15 anos. No Citibank, onde está há um ano e meio, ele cuidava antes da área de consumer banking, na parte de fundos mútuos. Mas já trabalhou em outras importantes empresas da área nos Estados Unidos, como a Massatchussets Financial Services e o grupo Fidelity. A seguir, os principais tópicos de sua entrevista para Investidor Institucional.
Investidor Institucional – O que muda com a fusão do Citi com o Travelers?
Glen Johnston – O Citigroup, depois da fusão do Travelers e Citibank, passou a ter três linhas de trabalho: uma é de pessoa jurídica, voltada para o corporate; outra de pessoa física, voltada para o varejo e o private bank; e a terceira é a de asset management, voltada para administração de recursos de terceiros.
II – Como vai funcionar a área de asset management?
GJ – A parte de asset management é separada e tem uma estrutura única a nível mundial. Ela é responsável por toda a parte da administração de recursos de terceiros. Tem dois chefes, que chamamos co-heads, um que vem do Citibank, Peter Carman, chefe da parte de investimentos, e outro que veio da Salomon Smith Barney, Tom Jones, responsável pela tecnologia do processo, do negócio mesmo. Tom e Peter se reportam diretamente ao Chairman.
II – E no Brasil, como será?
GJ – No Brasil terá a mesma estrutura, o Roberto Apelfeld é o Chief Investment Officer, diretor responsável por toda a parte da instituição, e eu pela parte de distribuição e vendas. A unidade do Brasil se reporta diretamente à estrutura do SSB Citi dos Estados Unidos.
II – Isso não poderia limitar a autonomia de decisão da unidade brasileira?
GJ – De forma nenhuma, aqui no Brasil somos uma empresa brasileira, as decisões, a administração de recursos, toda a estratégia, todo o portfolio manager, todas as pesquisas são locais, mas podemos alavancar recursos de Nova York, Londres ou qualquer centro. Não se transferiu a decisão para fora do Brasil.
II – Qual vai ser o foco da área de asset, aqui no Brasil?
GJ – Temos dois focos principais. O primeiro são os fundos mútuos, para os quais vamos usar o varejo do Citibank inicialmente e depois a distribuição através de outros bancos. Já estamos fazendo acordos com outros bancos para distribuir fundos, para administrar recursos de outros bancos, seja em nome deles, em nosso nome ou ainda pode ser um co- bradie. Existem as três possibilidades, tudo depende da situação. E o segundo foco da área de asset são os institucionais, os fundos de pensão, com os quais já temos uma relação forte hoje. Acho que mais de 60% das fundações das empresas multinacionais tem uma relação conosco.
II – Qual o volume de recursos administrados pelo SSB Citi no mundo todo?
GJ – Administramos US$ 327 bilhões no total, depois da fusão. Hoje, somos o décimo maior administrador de recursos de terceiros do mundo e queremos chegar ao 5º lugar em cinco anos. No Brasil, somos o 7º pelo ranking de vocês (III Top Asset, onde o Citi aparece com R$ 7,82 bilhões em recursos administrados), e queremos ser o terceiro, o segundo ou até o primeiro no mesmo prazo.
II –Vocês estão buscando novos negócios para crescer, incorporando ou comprando outras assets?
GJ – Isso não está descartado, mas não é uma parte importante da nossa estratégia. Se surgir uma oportunidade, é possível, mas já temos market share. A mania de comprar asset é para as empresas que não têm market share. Nós podemos crescer organicamente, mas se surgir uma oportunidade a um preço interessante, com certeza vamos estudar, mas não vamos pagar absurdos para uma empresa que não precisamos.
Outros bancos estão fazendo isso porque têm que entrar no mercado e estão pagando duas, três, quatro vezes mais do que valem as empresas.
II – Qual será o diferencial de vocês, em relação à concorrência?
GJ – Estamos adaptando e vamos introduzir no mercado brasileiro modelos que estamos utilizando com um êxito tremendo em outros países. Isso envolve conceitos mais sofisticados para administrar a parte de ações e a parte do asset alocation. Poderíamos sintetizar o método da seguinte maneira: consistência de performance e uma excelência de serviços, além da transparência no orçamento que é o plano de fundos.
Especialmente para o mercado de fundos de pensões, de mais longo prazo, o importante é ter a consistência de performance, não ter a variação que existe hoje em dia, ser o número 1 num mês, o último no segundo mês e voltar a ser o número 1 novamente. Isso realmente os fundos de pensão não precisam, o risco que estão tomando precisa ter uma performance e consistência.
II – Você acha que atualmente os fundos de pensão estão mais atentos ao risco?
GJ – Acho que sim. Eles estão fazendo perguntas muito mais específicas, muito mais detalhadas, muito mais sofisticadas aos seus administradores de recursos. Para nós isso é uma vantagem enorme, porque temos processos técnicos consistentes. Essa é uma tendência no mercado.
II – Qual a posição de vocês quanto ao risco, hoje?
GJ – Estamos com uma posição bastante conservadora, achamos que os derivativos têm riscos e o valor que pode agregar a uma carteira não compensa o risco que trazem. Todos os bancos, os fundos que tiveram problemas, estavam todos em derivativos. Então, nós não usamos.
Existem duas classes de ativos reais no Brasil, investimentos de renda fixa e de ações, que podem fazer parte de uma estratégia de investimentos de longo prazo. Os outros não, são para ganâncias e não são parte de uma estratégia de longo prazo.
II – E sobre o mercado de ações?
GJ – Também estamos conservadores, no momento, mas os fundos de pensão sempre vão ter uma parte dos seus investimentos em renda variável, isso é importante ao longo do tempo. Essa parte, porém, depende de cada um, do seu perfil de risco, do perfil do seu passivo, da idade dos participantes do plano. Uma empresa com empregados muito jovens tem um perfil diferente daquele com empregados mais velhos.
Vamos ter instrumentos para ajudar os clientes a definir esse perfil, de casamento entre ativos e passivos.
II – Como vocês vão utilizar o “expertise” do Salomon Brothers em renda variável?
GJ – Vamos passar a utilizar várias ferramentas deles, que são ferramentas quantitativas para avaliar o valor dos vários papéis. Temos um departamento de avaliação, análise e pesquisa que é fortíssimo. Além disso, vamos introduzir a partir de maio uma família de índices para o Brasil.
II – Que tipo de índices?
GJ – Índices de ações e de renda fixa, que sirvam como ferramenta para avaliar a performance dos administradores de recursos. A Salomon Brothers tem índices que todo mundo usa, o mercado inteiro usa, porque são sofisticados e detalhados, e então estamos criando índices agora também para o Brasil.
II – Serão índices da SSB Citi?
GJ – Isso mesmo, serão índices de ações de segunda e terceira linha. A Salomon Brothers vai fazer isto, usando sua tecnologia, e o Citi deverá introduzi-los em maio.
II – E quantos serão?
GJ – Estamos definindo isso ainda, mas serão pelo menos três no mercado de ações, de primeira linha, de middle caps e de small caps também.
II – E para renda fixa?
GJ – De renda fixa ainda estamos estudando. Na realidade, o mercado brasileiro é um mercado de renda fixa e de overnight. O índice pode sair com pouco “duration” (tempo de vida útil de um papel), estamos estudando como vamos criar estruturas para usar o “duration” de uma maneira mais adequada.
II – Outras instituições vão usar os índices de vocês?
GJ – Acho que sim, os índices da Salomon são os melhores que existem hoje em dia, são os mais usados nas instituições. O que precisamos e queremos é realmente trazer a maior transparência possível em todos os aspectos do negócio da asset management. Com mais transparência os clientes ganham e o mercado ganha.
II – Qual a avaliação de vocês sobre o câmbio? As taxas caem ou se mantém?
GJ – Esperamos que o ano termine com o dólar a R$ 1,80 e nesse nível tudo vai ser razoável. Agora, nós estamos numa posição bastante conservadora. Ainda existem riscos por parte da política econômica e portanto estamos num perfil conservador.
II – E sobre a inflação?
GJ – Esperamos que a inflação feche o ano abaixo de 20%.
II – Na prática, como será a entreda da SSB no Brasil. Muda alguma coisa em relação à antiga área de asset do Citibank?
GJ – Muita coisa. Estamos criando uma empresa totalmente separada, que não se reporta à direção do banco no Brasil, mas à direção da SSB Citi dos Estados Unidos. Estamos mudando inclusive nosso logotipo, criando um novo logotipo para a empresa de asset, que será diferente do logotipo do banco. Além disso estamos mudando de prédio, em maio devemos sair do prédio da Paulista e mudamos para um prédio na região da Berrini (Zona Sul de São Paulo), que permitirá abrigar todo nosso pessoal, tanto quem já está com a gente hoje quanto aqueles que estamos contratando.
Somos 30 pessoas hoje na área de asset, vamos chegar ao final do ano com 100 pessoas. São 70 contratações até o final do ano. E porquê? Porque o Brasil é um país importante para o futuro da SSB Citi, estamos investindo agora para desfrutar do desenvolvimento do país no futuro.
Vamos passar agora um ano difícil em 99, mas achamos que o futuro do Brasil é excelente e queremos estar posicionados e por isso é que estamos fazendo investimentos agora.