Tempos de campanha | Dirigentes dos fundos de pensão já discutem ...

Edição105

Às vésperas do 22º Congresso da Abrapp, que deve discutir os rumos das entidades para os próximos anos, as discussões sobre a montagem das chapas que irão disputar a direção da entidade começam a se intensificar. Aliás, justificadamente, uma vez que o sistema de fundos de pensão fechados, embora sob fogo cerrado dos órgãos arrecadatórios do poder federal, apresenta hoje uma poupança acumulada de cerca de R$ 150 bilhões e tem um potencial de crescimento imenso nos próximos anos.
Como mostra nossa reportagem à página 13, escrita pelo nosso colaborador Valdo Ferreira, há uma tendência clara de que o desenho final das chapas, tanto a de oposição quanto a da situação, aconteça durante os três dias do Congresso de Vitória (ES).
Outra reportagem, essa escrita pela repórter Valdete de Oliveira, mostra o descompasso que começa a ocorrer entre os ativos e os passivos de longo prazo das fundações, a partir de uma norma do Banco Central que obriga a marcação a mercado de todos os papéis de investimento. A medida é absolutamente correta, pela transparência que empresta ao mercado (e ele precisa dessa transparência, diga-se de passagem), mas sua fragilidade reside em não analisar os casos específicos como tais.
Um desses casos específicos, o único a reclamar um tratamento diferenciado até agora, é o dos fundos de pensão. Por comprarem papéis de longo prazo mais como hedge para seus passivos atuariais do que como instrumentos de investimento de curto prazo, os fundos de pensão acabaram ficando numa sinuca de bico, como se diz na gíria. Se compram, e marcam a mercado diariamente, podem ser obrigados a reconhecer prejuízos contábeis que não se verificam na realidade, uma vez que carregam esses papéis até seu vencimento. Se deixam de comprar, colocam os seus compromissos de longo prazo na dependência dos resultados dos investimentos de curto prazo.
Por essa razão, obrigar as fundações a marcar a mercado esses títulos, como toda a volatilidade que isso pode trazer, significa afastá-las desses papéis. Gestores e investidores concordam que é necessário criar exceções a essa correta regra de transparência, que sejam claras e objetivas. Sem elas, o mercado de títulos de longo prazo corre o risco de micar, indo justamente contra os interesses do governo, que parece ser o de incentivá-lo.