Perplexidade em Brasília

Edição 277 

Se existe uma palavra para expressar o ambiente político e econômico vivido pelo País neste final de ano, quando esta edição de Investidor Institucional está sendo fechada, essa palavra é perplexidade. O País vivia num clima surreal, onde as coisas sérias se misturavam com a galhofa, como se Macunaíma estivesse dando as cartas em Brasília.
Acaso nos faltam problemas para resolver? Não, eles sobram no Brasil, como o rebaixamento da nota de crédito pela Fitch, a segunda agência de rating a colocar os títulos brasileiros na categoria de “junk” bonds, e a devastação ambiental que ocorre em extensas áreas de Minas Gerais após o rompimento da barragem da empresa Samarco. Enquanto isso, em Brasília o senador peemedebista Renan Calheiros chama o presidente do seu partido, o vice-presidente da República Michel Temer, de “mordomo de filme de terror”.
A mistura de problemas sérios com a chacota prossegue, temperada por pitadas de esperteza. O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, acolhe o pedido de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff após não ter conseguido do partido dela, o PT, apoio político para se livrar de um processo de cassação pelos seus pares. E impõe um trâmite cheio de casuísmos que é barrado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que resolve arbitrar o rito a ser seguido na votação do processo de impeachment e desautoriza as regras adotadas por Cunha.
E Temer, em carta à presidente Dilma, reclama por ter sido sempre um vice-presidente decorativo, que nunca foi ouvido. Essa carta, com a inusitada reclamação, deveria ser a senha para passar ao largo da responsabilidade pela assinatura de decretos que autorizaram crédito suplementar para programas de governo, que tanto Dilma quanto ele assinaram mas pela qual somente ela deveria pagar. Uma manobra rápida de Renam no Senado, entretanto, levou os decretos assinados por Temer para serem analisados pelo TCU, lançando uma sombra sobre o homem que deveria assumir a presidência se Dilma for impedida. Poderia ser impedido pelo mesmo motivo?
O dólar passa de R$ 4,00, os juros sobem nos Estados Unidos, e a meta fiscal de 2016 é rebaixada pelo Congresso, de 0,7% ao ano para 0,5% ao ano. Manifestações populares a favor da presidente Dilma começam a ocorrer e são, simultânea e contraditoriamente, contra sua política econômica e contra Joaquim Levy. Esse se despede dos membros do Conselho Monetário Nacional dizendo que não estaria presente na próxima reunião do órgão, em janeiro de 2016, dando ao entender que estava em seus últimos dias no cargo. Muita perplexidade e confusão em Brasília.