O estímulo e o risco dos recursos do FGTS

Edição 74

A inclusão da Petrobrás entre as empresas que farão parte do programa de venda de ações aos trabalhadores com recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), até o limite de R$ 3 bilhões, representa um forte estímulo ao mercado de capitais brasileiro. Mas também um enorme risco, que deve ser considerado pelos órgãos reguladores na hora de formular a política de saída desse dinheiro das bolsas.
A imensa maioria dos trabalhadores que ingressarem nos fundos mútuos ou nos clubes de investimentos voltados especificamente para o evento da privatização terão, na verdade, encontrado nessa modalidade de investimento uma forma de resgatar uma parte dos seus recursos bloqueados no FGTS e não uma maneira de ingressar no mercado de capitais, um animal que eles pouco conhecem e muito temem. Esses neófitos do mercado de investimento estão loucos para sacar os recursos da sua conta do FGTS, mesmo que não possam transformá-los em consumo imediato. Mais da metade das 56 milhões de contas do FGTS tem um saldo inferior a 1 salário mínimo, o que quer dizer que é gente que precisa do dinheiro que hoje dorme no FGTS. Eles vão esperar passar o período de 1 ano exigido para o resgate e, muito provavelmente, irão transformar em consumo ou pagamento de dívidas os investimentos.
Esse é o momento perigoso. Assim como o ingresso dos recursos pode trazer euforia para o mercado acionário, a saída maciça pode gerar quedas violentas nas cotações. E se o dinheiro for canalizado para o mercado de consumo, pode gerar inflação. E não se trata só dos US$ 3 bilhões da compra das ações da Petrobrás, mas também dos outros bilhões que poderão vir para esse mercado com a inclusão das ações das companhias elétricas e também da Vale do Rio Doce, da qual o governo ainda detém uma parcela.
Somados, são recursos que podem chegar facilmente a uma dezena de bilhões, ou mais. O estabelecimento de regras rígidas para a saída desse dinheiro nesse momento, quando ele ainda não entrou, seria saudável. Talvez fosse o caso de se voltar a pensar na destinação dele para a previdência individual, com a constituições de carteiras de investimento previdenciário dos trabalhadores, a qual poderia ser movimentada de uma instituição para outra em busca da melhor performance ou das menores taxas de administração, mas não resgatada fora de casos previamente estabelecidos. De qualquer forma, por essa ou por outras vias, é necessário uma saída apertada para esse dinheiro novo que chega às bolsas.