Mercado vive otimismo cauteloso

Edição 281

O mercado financeiro reagiu com otimismo ao resultado da votação do impedimento da presidente Dilma Rousseff pelo Senado Federal, no dia 11 de maio último. Há meses que o Ibovespa e o dólar já mantinham uma correlação perfeita com a força política da presidente Dilma, subindo o primeiro e caindo o segundo quando Dilma mostrava sinais de fraqueza e, inversamente, caindo um e subindo o outro quando esta mostrava sinais de fortalecer-se.
Por trás dessa desconfiança do mercado estavam os números da economia, que indicavam PIB em queda por 2 anos consecutivos, desemprego na casa dos 2 dígitos e descontrole das contas governamentais. Aliado à isso, o mercado convenceu-se das dificuldades do governo em coordenar as forças políticas do Congresso e do Senado para aprovar qualquer medida de interesse do país. Por isso, pode-se dizer que Dilma caiu menos pelas alegadas “pedaladas fiscais”, que aliás todos os governos anteriores tinham feito, que pelos problemas que o seu estilo de governar criou e alimentou.
Mas se o mercado aplaudiu de pé a sua queda, isso não quer dizer que esteja totalmente convencido das chances de sucesso de Michel Temer, hoje presidente em exercício. Os desafios ao novo governo não são pequenos, principalmente em relação ao equacionamento do déficit fiscal, medida apontada por 9 entre 10 economistas como fundamental para a retomada do processo de crescimento no médio prazo. Se medidas duras são necessárias para atingir esse objetivo, e não houve por parte da presidente afastada a firmeza necessária para propô-las e implantá-las, o presidente em exercício ainda precisa provar a que veio e se está disposto a assumir o ônus de medidas impopulares.
A nomeação da equipe econômica foi bem recebida pelo mercado, assim como as primeiras declarações de Henrique Meirelles, que assumiu o ministério da Fazenda, em relação à reforma da previdência. Meirelles tocou na questão da idade mínima, dizendo claramente que ela é fundamental e que não pode ser feita de forma a que seus efeitos sejam sentidos apenas daqui a 30 anos, como querem alguns. A reforma é urgente e seus efeitos precisam ser rápidos, salvaguardados apenas os direitos adquiridos. Mas se Meirelles terá apoio do presidente em exercício para prosseguir com essa proposta é algo a conferir.
O mercado sabe que uma coisa é tirar de um lugar alguém que não estava dando certo e outra, bem diferente, é que o que o substituto dê certo. Por isso a expressão “otimismo cauteloso” foi muito ouvida nos dias seguintes ao impedimento de Dilma.