Edição 85
Os números preliminares do censo do IBGE mostram que a população brasileira está iniciando uma nova etapa estatística, na qual deixa de ser um país com uma população predominantemente jovem para iniciar um ciclo onde a população madura e de idosos começa a ganhar peso. Claro que ainda estamos longe da realidade de alguns países europeus, onde a taxa de natalidade não é suficiente sequer para manter estável a população, declinando lentamente em função disso. Mas também estamos deixando para trás a realidade de alguns países latino-americanos, com suas médias de três a quatro filhos por família, o que quase inviabiliza qualquer tipo de política social. Ainda crescemos, mas em percentuais compatíveis com nossa capacidade de longo prazo de gerar emprego e renda, educação e saúde.
Na outra ponta dessa equação temos uma população de mais de 60 anos, que cresce rapidamente. Ela representava 4% da população total há 50 anos, hoje representa 8% e em 20 anos deve representar 12%, segundo a reportagem escrita por Alexandre Sammogini à página 14. Note-se que esse aumento percentual é ainda mais significativo numa população que continua crescendo, como é o caso do Brasil.
A primeira leitura que se faz desses números é que, se a situação do INSS é ruim hoje, que dirá em 10 ou 20 anos. Os desembolsos do INSS para pagar os quadros de aposentados serão insuportáveis. É preciso que as decisões duras sejam tomadas agora, enquanto o quadro é controlável e, como se sabe, essas decisões só podem ser de duas ordens: ou cortam benefícios ou adiam o momento da aposentadoria. Não há milagres.
Os políticos, nesse momento majoritariamente longe de Brasília e do Congresso como mostra nossa outra reportagem à página 12, precisam entender que ao não votarem agora medidas impopulares estão deixando um ônus pesado para seus filhos e netos, o ônus de um país quebrado. A nada se fazer, daqui a 30 anos poderemos ter uma relação entre empregados ativos e aposentados de 1 para 1, uma coisa surreal e absurda. Os números do IBGE acendem a luz de perigo, mostrando a urgência de prosseguir nas reformas da previdência.