Edição 68
Uma rodada de telefonemas para várias instituições é suficiente para constatar-se que a expectativa que existe entre os investidores, de uma decrescente taxa de juros no ano que vem, já começa a ter reflexos no perfil das carteiras. Dizer que parcela significativa dos ativos irá migrar da renda fixa para a renda variável pode ser uma realidade, mas é pouco. Na verdade, mais do que simplesmente migrar para ações, os investidores terão que sofisticar seus investimentos.
Entre outras coisas, eles vão começar a demandar em maior escala títulos mais rentáveis que aqueles que o governo irá oferecer, aceitando compor suas carteiras com papéis de empresas privadas que, embora pagando mais, não oferecem a mesma segurança nem a mesma uniformidade dos títulos do governo. Porém, para aceitar esses papéis, os investidores vão ter que começar a se preocupar com a qualidade deles, que não é única mas varia de tomador para tomador.
Haverá aqueles papéis que serão caros com uma taxa “X” e aqueles que serão interessantes mesmo com uma taxa equivalente à metade da primeira. Os investidores terão que ponderar na hora de comprar os papéis, selecionando o risco que querem correr com a rentabilidade oferecida.
Uma dificuldade que existe para os tomadores abalizarem se as rentabilidades oferecidas são ou não interessantes, está em conhecer as taxas de médio prazo do governo, que hoje praticamente não existem. Não há uma curva de juros de médio prazo que sirva como referência aos investidores na hora de comprar papéis.
Essa dificuldade está, em parte, para ser superada com a proposta do governo de colocar em leilão papéis de 3 e 7 anos para vencimento, como explica o secretário adjunto do Tesouro Nacional, Isac Zagury, em entrevista na página 10. A idéia é que os grandes investidores, incluindo tesourarias de bancos, fundos de investimento e fundos de pensão, possam ser os tomadores desses papéis indexados com IGP-M.
Além dessa novidade, a queda da taxa de juros deve provocar outras mudanças no perfil das carteiras dos investidores, mas isso será verificado no dia dos acontecimentos. De certeza, podemos dizer que a exigência dos aplicadores, assim como a sofisticação das carteiras, aumentará.