Edição 122
No fechamento desta edição, conversamos com algumas pessoas que tiveram acesso às informações trocadas entre os representantes da Anbid e o diretor de Política Monetária do Banco Central, Luiz Fernando Figueiredo, numa reunião ocorrida em meados de agosto. Ao que consta, a conversa entre eles foi franca e positiva, sem rodeios, com os representantes do mercado dizendo claramente que o BC deveria assumir um papel de maior responsabilidade na crise de liquidez dos títulos governamentais, originada pelo processo de marcação a mercado dos mesmos. Um dos interlocutores tirou da pasta um número que assustou o representante do BC, que até então vinha batendo na tecla de que os resgates dos fundos de investimentos não denotavam uma crise, visto que estava havendo uma migração desses para outros tipos de ativos, como a poupança e os CDBs. Porém, quando foi mostrado que em pouco mais de sete meses o sistema de fundos de investimento já tinha perdido R$ 52,6 bilhões, e que os institucionais que até então tinham se mostrando tranquilos já começavam a ficar impacientes, Figueiredo viu que a questão era muito séria.
A reunião terminou sem promessas. Mas os representantes da Andid saíram convencidos de que o representante do BC entendeu a gravidade na hora, até porque mostraram a ele que o próprio BC devia ser um dos maiores interessados em manter a imagem dos títulos públicos, porque ele sempre teria que vendê-los ao mercado. As perdas constantes que esses títulos vêm sofrendo, que afetam imediatamente quem os carrega, afeta também o seu emissor no médio e longo prazo.
Entre as saídas pedidas pelos representantes da Anbid, a principal era que desse mais liquidez a esses títulos, comprando-os quando as assets tivessem que vendê-los para honrar os pedidos de resgate. Fiqueiredo não prometeu nada, até para não colocar o BC na incômoda situação de estar ajudando bancos privados a descascar um abacaxi. Bem, se foi por isso, foi uma grande bobagem. Em situações como essa ninguém ganha se a indústria de fundos, contruída ao longo de tantos anos, desmilinguir-se. Não ganha o governo, não ganham os clientes e não ganha o mercado. A recuperação da confiança do investidor médio, uma vez perdida, poderá levar anos para ser recuperada.
É por isso que acreditamos não haver nada de antiético no fato de a Anbid ter ido ao BC pedir ajuda, porque trata-se de preservar a indústria de fundos mais forte da América Latina, uma indústria sofisticada, vigorosa e competitiva. Se chegou ao ponto em que chegou, de ter perdido R$ 52,6 bilhões em sete meses, parte da culpa é do governo por ter antecipado as regras de marcação a mercado. Mas, mais importante que isso, trata-se de preservar um sistema de formação de poupança que é fundamental para o País.