Rio Bravo dança conforme a música | Gestora fez movimentos atípic...

Edição 210

Toda regra tem exceções – e, às vezes, essas exceções são muito bem- vindas. Um caso assim aconteceu na Rio Bravo Investimentos, mais especificamente no fundo Fundamental FIA, no decorrer da crise. A estratégia do fundo, assim como a dos demais veículos que fazem parte da “família” Fundamental, é de manter posições de mais longo prazo (entre três e cinco anos) e ter uma participação ativa na gestão nas companhias investidas, sem se deixar levar pelo sobe-e-desce diário do mercado de ações. Essa filosofia, no entanto, não impediu que a família capturasse ganhos saindo um pouco de sua tática tradicional.
Após a quebra do Lehman Brothers, em setembro do ano passado, houve um entendimento pela equipe da Rio Bravo de que, quando fosse retomado o fluxo de capital estrangeiro para a Bolsa brasileira, as primeiras ações a se valorizar seriam as blue chips como Petrobras e Vale.
Foi aí que, contrariando a essência que em geral impera nos veículos da estratégia Fundamental, a gestora decidiu montar uma posição de curto prazo em Vale no FIA (e em seu espelho offshore). “Normalmente isso não acontece. Mas víamos valor no papel e tomamos essa decisão”, conta Rafael Rodrigues, diretor de renda variável da Rio Bravo, que informa que essa posição já foi desfeita pelo fundo. Nem é preciso dizer que a estratégia deu certo.
Outra manobra fora do comum feita pela Rio Bravo na “família” Fundamental foi a saída de dois investimentos depois de somente cerca de um ano e meio nas posições. Isso ocorreu com as ações da Ferbasa e da Fosfertil que os fundos mantinham em carteira. “Investimos nessas companhias entre o final de 2006 e o início de 2007. Em 18 meses, o valor aplicado já havia se multiplicado por cinco. Foi um desempenho muito superior ao que se imaginava para esse período. Como o resultado já estava mais do que adequado, decidimos antecipar a saída”, explica Rodrigues.
Mais uma vez, o movimento fora do habitual se mostrou certeiro. A decisão pelo desinvestimento em Ferbasa e Fosfertil foi tomada em meados de 2008, antes do acirramento da turbulência global. “Saímos das posições com o mercado ainda em ebulição”, diz Rodrigues, ao acrescentar que a queda do dólar fez os investidores se voltarem para aplicações em papéis de empresas do setor de commodities, que é o caso de Ferbasa e Fosfértil.
Logo depois, veio o episódio com o Lehman Brothers, cujos efeitos na Bolsa também não pouparam as ações das duas companhias. “Demos sorte”, atesta o diretor.

Redirecionamento – Apesar de a quebra do Lehman ter pego o mundo inteiro de surpresa, a Rio Bravo já vinha prestando atenção na situação econômica dos Estados Unidos e, por isso, entre o final de 2007 e o início de 2008 começou a voltar a estratégia do Fundamental para papéis de empresas cujos negócios são mais ligados ao mercado interno. “Estávamos muito expostos ao mercado internacional, com posições em Usiminas e Bradespar, por exemplo, e passamos a ter em carteira ações de empresas como Pão de Açúcar, Copasa, Comgás e Cremer. Isso trouxe um caráter mais defensivo ao portfólio”, analisa. Ele reforça que esse movimento foi feito antes de o cenário começar a desandar de fato no mercado acionário brasileiro. “Quando a Bolsa começou a despencar, nós já tínhamos feito a migração.” O diretor lembra que a bolha do subprime estourou em meados de 2007, cerca de um ano antes da quebra do Lehman. Ele completa que os EUA já estavam vivendo uma fase complicada quando os impactos sobre o mercado acionário brasileiro se intensificaram. O cenário norte-americano não passou despercebido pela equipe da gestora, que se antecipou ao diminuir a alocação em ações de empresas mais dependentes da demanda externa. “Além disso, em 2007 fazia mais ou menos cinco anos que a Bolsa brasileira vivia um boom, muito por conta de companhias bastante ligadas ao mercado externo. Nós sabíamos que seria difícil isso se repetir nos cinco anos seguintes.” No ano passado, a carteira Fundamental estava zerada em empresas com características de mais dependência do mercado externo. Até que, em julho deste ano, a estratégia voltou a ter em carteira papéis da Usiminas, uma companhia “exposta ao preço internacional do aço, mas também com uma ótima posição no mercado interno de automóveis e linha branca”.
No que se refere aos próximos investimentos, Rodrigues informa que a gestora vem estudando empresas dos setores de óleo e gás, aviação, meios de pagamento e bancos. “Procuramos empresas boas a preços atraentes. E ainda estamos olhando bastante para o mercado interno”, aponta.
Hoje, o patrimônio do Fundamental (que conta com cinco veículos: FIA, offshore e três exclusivos) está em R$ 620 milhões. No período de 24 meses encerrado em outubro deste ano, o Rio Bravo Fundamental FIA obteve retorno de 27,56%, contra um resultado negativo de 5,77% do Ibovespa. Somente em 2009, a rentabilidade do fundo até outubro foi de 70,28%, diante de um Ibovespa em alta de 63,90%.