Blumenau: volta por cima | Com uma gestão mais ativa em 2009, ins...

Edição 210

Osusto do ano passado com a instabilidade do mercado financeiro mundial foi grande, mas não deixou os gestores do Instituto de Seguridade Social de Blumeau paralisados. Muito pelo contrário. Os dirigentes do fundo de previdência dos servidores da cidade catarinense redobraram a atenção para aproveitar as oportunidades de ganho tanto nos fundos de ações quanto no giro de títulos públicos e demais operações com fundos de investimentos. As iniciativas foram variadas, desde a aplicação em fundos de novos gestores com quem ainda não trabalhavam até a retomada de posições em renda variável, passando por uma rentável operação de venda de títulos púbicos.
O resultado do regime próprio de Blumenau de janeiro a outubro de 2009 já demonstrava o bom desempenho das aplicações do instituto. A rentabilidade acumulada no período foi de 15,72%, bem acima dos 9,54 % da meta atuarial (IPCA+6%). Com a carteira de investimentos batendo 165% da meta, foi possível recuperar o resultado do ano passado, que ficou quase quatro pontos percentuais abaixo do mínimo atuarial.
“Recuperamos integralmente as perdas contábeis do ano anterior com uma gestão bastante ativa, que inclui operações com títulos públicos e diversificação de fundos e gestores”, revela Ricardo Bof, diretor administrativo e financeiro do Instituto de Blumenau (ISSBLU).
Uma das ações implementadas durante o ano foi o aumento do número de gestores de fundos de 12 para 18. Mesmo com os gestores com quem o ISSBLU já mantinha aplicações anteriormente foram realizadas alocações em fundos com melhor desempenho de acordo com a política de investimentos do instituto. “Quando o fundo apresentava baixa performance, pedíamos para o gestor oferecer outra opção com melhor desempenho. Caso não tivesse uma alternativa de fundo que nos interessasse, migrávamos para produtos de outros bancos”, revela o diretor do Instituto de Blumenau.
Outra mudança foi a migração de recursos dos fundos DI para produtos com maior exposição a papéis de crédito privado. “Auxiliamos na migração de recursos para fundos com de 30% a 40% de crédito privado, desde que observado o critério de rating no mínimo com a nota A”, explica Ideraldo Gonçalves, consultor da Somma Investimentos, que assessora o fundo de previdência de Blumenau desde 2006. A exposição em papéis de crédito privado do instituto saltou de 4% do segundo semestre de 2008, quando a Selic começou a cair de forma mais consistente, para pouco mais de 30% atuais.

Ganho com títulos públicos – Uma das operações que foi responsável pela alavancagem da rentabilidade da carteira foi o giro de títulos públicos do tipo NTN-B. Os papéis foram adquiridos com prêmio de 7,76% e prazo de vencimento em 2015. A taxa de juros começou a cair e fechou no patamar mais baixo de 6,35%. Quando a taxa voltou a abrir novamente, o instituto se desfez da posição da carteira – cerca de R$ 12 milhões – e realizou ganhos com a operação. Atualmente o prêmio deste tipo de título está em 6,70%, o que permitiu o travamento da posição.
Na renda variável a estratégia foi oposta. Todas as posições em fundos de ações foram carregadas e até aumentadas com a tendência de voltar ao saldo médio dos volumes anteriores à crise do final do ano passado. Hoje, o ISSBLU conta com cerca de 8,5% de sua carteira de R$ 126 milhões concentrada em ativos de renda variável. “Compramos quando estava na baixa para aumentar a carteira de renda variável, por meio de novos aportes em fundos de ações e multimercados”, explica Ricardo Bof. Criado em 2001 na forma de regime próprio, o ISSBLU passou a aplicar parte de seus recursos em renda variável a partir de 2006. Desde então, tem acumulado experiência com este tipo de aplicação e a tendência é aumentar o tamanho da carteira para os próximos anos.
“Pretendemos aumentar gradualmente, mas vamos observar comportamento do mercado”, revela o diretor do ISSBLU. Outra tendência prevista para o ano que vem é a entrada em FIDCs fechados (até 5% do patrimônio), uma nova categoria aberta para os institutos de previdência dos estados e municípios pela recém-publicada Resolução nº 3.790 do Conselho Monetário Nacional (CMN). Atualmente, a carteira de FIDCs abertos concentra cerca de 8% do patrimônio do fundo. Segundo a nova legislação, entre os fundos abertos e fechados, o limite pode alcançar até 15%.
Entre os planos para 2010, destaca-se ainda a proposta de contratação de plataforma eletrônica para movimentar diretamente os títulos públicos.
“Queremos contratar a plataforma da Cetip, pois acreditamos que, desta forma, as operações ganham mais transparência e ainda será possível economizar em taxas de administração de fundos”, diz o diretor administrativo e financeiro.
Quanto aos fundos referenciados no IMA (indexador produzido pela Anbima), os gestores de Blumenau demonstram cautela e revelam que ainda pretendem estudar as opções oferecidas pelo mercado e aproveitar os prazos para enquadramento de acordo com a cobrança da Secretaria de Políticas de Previdência Social (leia mais na página 13). O acompanhamento deste tipo de fundo, bem como de outros disponíveis no mercado, é realizado com o auxílio da consultoria da Somma, que fornece dados e análises sobre os fundos e seus gestores.

Capacitação do conselho – Os avanços na gestão dos investimentos do Instituto de Blumenau contam com outro fator favorável além da agilidade de sua equipe financeira. “Um dos diferenciais do instituto, além da capacidade do comitê de investimentos, é a maturidade e o alto nível de compreensão de seu conselho deliberativo”, afirma Ideraldo Gonçalves, consultor da Somma Investimentos.
O conselho do ISSBLU tem a preocupação de promover a capacitação de seus membros para que eles possam compreender e acompanhar de perto a política de investimentos e demais ações da diretoria executiva. Para isso, o instituto investe na capacitação dos conselheiros, garantindo o custeio de até três deles em eventos e cursos da área de previdência dos estados e municípios. Geralmente os conselheiros participam dos congressos e seminários das entidades representativas do segmento, principalmente da Abipem e da Aneprem.
“Aprovamos resolução do conselho para custear três conselheiros em eventos fora do Estado de Santa Catarina. Realizamos rodízio para que todos possam participar das atividades e seminários da área”, diz Clóvis Back, membro do conselho do ISSBLU desde 2005. Além da participação nos eventos, este conselheiro decidiu ir mais longe para se capacitar nos temas do mercado financeiro. Ele fez o curso da Anbid para obter a CPA- 10, que atualmente é exigida apenas para os gestores dos institutos estaduais e municipais.
“Hoje tenho mais condições de discutir e acompanhar as ações do comitê de investimentos”, afirma Back. Ele acredita que os órgãos reguladores deveriam cobrar este tipo de certificação ou equivalente também para os conselheiros dos institutos. “Deveria existir algum tipo de exigência para a capacitação dos conselheiros, pois no caso de Blumenau é visível o avanço do diálogo e coordenação entre o conselho e a direção”, explica o conselheiro.
“Se não contássemos com uma boa capacitação de nosso conselho, acredito que teríamos muito mais desgastes para aprovar as políticas de investimentos e explicar nossas movimentações no mercado”, revela Ricardo Bof. Como problemas, poderiam surgir atrasos na aprovação da política anual e na prestação de contas do instituto.