Fundos de pensão andam de lado, assim como bolsa

Edição 191

Volatilidade no primeiro trimestre faz com que as fundações apurem
prejuízo nas carteiras de renda variável

O aivém da bolsa de valores pegou os gestores de ações pelo contrapé
nesse primeiro trimestre. Boa parte dos fundos de pensão registrou
prejuízos no período (virtuais, é bom que se frise, já que, na prática, as
perdas não foram realizadas). Em alguns casos, os retornos negativos
chegaram a abocanhar uma fatia significativa dos superávits acumulados
pelas fundações. Na Derminas, fundo de pensão dos funcionários do
Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais, por exemplo, a
desvalorização de 8% (superior à do Ibovespa, que caiu 4,57%)
apresentada pelo segmento de renda variável nos três primeiros meses
do ano comprometeu o superávit de R$ 13,4 milhões, apurado no fim de
2007, ajudando a encolher o patrimônio da entidade de R$ 232 milhões
para R$ 224 milhões.
A volatilidade é tanta que a Derminas resolveu dar um tempo em seu
programa de redução das aplicações em ações. “O mercado está ruim
demais, por isso não vamos sair agora”, avisa Adilson Andrade Soares,
gerente de investimentos da entidade. A decisão de diminuir os
investimentos em bolsa foi motivada pela forte valorização do segmento
nos últimos cinco anos. A carteira de renda variável representa, hoje, 40%
do patrimônio total do fundo, incluindo os fundos multimercados. A meta
era chegar ao fim de 2008 com uma exposição entre 25% e 30%.
Do total de recursos da Derminas alocado na renda variável, 2,5% (cerca
de R$ 5,5 milhões) são geridos dentro de casa. O restante (R$ 85
milhões) é terceirizado em outras duas carteiras administradas – uma sob
responsabilidade da Bram e outra da ARX Capital – além de dois fundos
de ações, um da Schroders e outro do Opportunity. A cada trimestre, a
entidade de previdência verifica quais aplicações renderam menos e passa
10% dos recursos para os outros concorrentes com melhor colocação no
período. Nesse último trimestre, o procedimento foi um pouco diferente.
Ambos os fundos de ações perderam uma fatia de 10% dos recursos,
sendo que parte dela foi direcionada para fundos de recebíveis, parte para
a carteira de empréstimos a participantes. No caso das carteiras
administradas, valeu o sistema de rodízio: a parcela sob gestão própria e
a da ARX perderam 10% dos recursos para a Bram.
Janeiro foi, disparado, o mês mais turbulento. A carteira de ações da
Derminas ficou negativa em 11,4%. Em fevereiro, os pregões mostraram
fôlego e o fundo de pensão quase recuperou as perdas do primeiro mês
do ano, registrando alta de 10,41%. As análises técnica e gráfica previam
uma melhora ainda maior em março, mas as expectativas de que a bolsa
deslanchasse não se confirmaram. O resultado de março ficou negativo
em 5,97%. “Esperamos que a crise de crédito nos Estados Unidos se
dissipe no segundo semestre para voltarmos a tocar o processo de venda
dos papéis em carteira”, afirma Soares.
Quem também suspendeu, momentaneamente, a venda de ações foi o
Centrus, fundo de pensão do Banco Central. A renda variável responde por
47% do patrimônio total da fundação, de R$ 8,9 bilhões. O objetivo inicial
era chegar até o fim deste ano com uma participação de 38% e, ao fim de
cinco anos, com uma parcela inferior a 30%. Mas Daso Maranhão Coimbra,
diretor de investimentos da entidade, não tem pressa para executar o
plano. “Trata-se de um investimento de longo prazo e esses primeiros
três meses não representam grande preocupação para o Centrus”,
assinala Coimbra. “Apesar de termos planos maduros, mais de 100% da
reserva matemática está garantida até o saldamento do plano. Não
dependemos, portanto, de ter de vender bolsa”, enfatiza.

Estratégias – De fato, o momento pede cautela. “Ainda que fosse
permitido, não acho recomendável girar a carteira no dia-a-dia em
períodos de turbulência, porque o risco de perder o rumo é grande”, avalia
Paulo de Sá Pereira, gerente de renda variável da Fundação Cesp, maior
fundo de pensão privado do País. Mesmo com um horizonte de
investimento de longo prazo, no entanto, é possível traçar estratégias que
ajudem a contornar o sobe e desce da bolsa. “Vamos aumentar a carteira
de dividendos e procurar nos posicionar em empresas que possam ser
menos prejudicadas pelo cenário externo, como aquelas ligadas ao setor
de commodities”, adianta. A carteira que teve a melhor performance no
ano, até março, foi justamente aquela focada em ações de empresas que
distribuem bons dividendos, gerida internamente. “Esses papéis formam
uma espécie de colchão, já que tendem a subir menos em períodos de
alta, porém não sofrem tanto em momentos de baixa do mercado”,
explica.
Se a idéia é reforçar a aposta em papéis que rendam bons dividendos, a
exposição a fundos de ações referenciados pelo IBX, em compensação,
será reduzida. A Funcesp conta, atualmente, com três fundos de ações de
benchmark IBX, geridos fora de casa. Outro fundo terceirizado, focado em
small caps, também têm andado de lado, embora algumas ações, como
Fosfértil e Ferbasa, venham contribuindo, de acordo com Pereira, para
uma valorização superior à média do mercado. A Funcesp registrou perdas
nas carteiras de ações em janeiro e março, mas no acumulado do primeiro
trimestre conseguiu ficar positiva em 3,17%. “Já prevíamos, a partir do
segundo semestre de 2007, que a volatilidade no mercado acionário seria
alta por conta da crise do subprime”, conta Pereira. “Não acreditamos na
tese de descolamento da economia americana e estamos atentos aos
sinais de contaminação a outros blocos econômicos, como a Europa”,
acrescenta ele. É hora, portanto, de preservar o patrimônio, em primeiro
lugar. Os bons resultados virão como conseqüência.