Revoada de CEOs

Edição 190

Operações brasileiras ganham importância dentro dos conglomerados
financeiros internacionais e País entra para o roteiro de viagens dos altos
executivos de bancos

Entre os dias 23 e 26 de março, esteve pela primeira vez em visita ao
Brasil o CEO mundial do The Bank of New York Mellon, Bob Kelly. Sem
muito alarde, o executivo canadense veio conhecer os escritórios da
instituição no Rio de Janeiro e em São Paulo. Na mesma semana, esteve
aqui, por ocasião do aniversário de dez anos do Standard Bank, Jacko
Maree, executivo-chefe do grupo sul-africano. Um pouco antes, no início
de março, Anuar Mudhaf, chairman do banco ABC Brasil, veio do Kuait para
uma reunião de conselho. Na segunda quinzena de abril, é a vez de Greg
Johnson, CEO da Franklin Templeton, desembarcar em terras tupiniquins.
O Brasil, pelo visto, parece ter entrado de vez no roteiro de viagens dos
comandantes de bancos internacionais. O interesse cresce ao mesmo
tempo em que o País desponta como uma economia sólida e, o que é
melhor, um porto-seguro extremamente rentável para o capital
internacional. Basta observar, por exemplo, o que está acontecendo com
os diversos países afetados pela crise do subprime para constatar que o
Brasil vem enfrentando as turbulências com certa tranqüilidade. “As
operações brasileiras passaram a ser peça importante dentro das
organizações internacionais”, atesta Ricardo Baldin, sócio da
PricewaterhouseCoopers. Para o especialista, a bancarrota detonada pelas
hipotecas americanas de alto risco acelerou, inclusive, o movimento de
migração para cá. “Além do retorno financeiro alto, conta muitos pontos a
favor do Brasil a segurança do nosso sistema”, acrescenta. “Somos, hoje,
um mercado respeitado, com um Banco Central forte e atuante.”
É interessante notar que, mesmo sem o investment grade, o Brasil
transformou-se em centro das atenções. “Os bancos precisam, de fato, se
antecipar à elevação da nota de risco para estarem prontos quando a
avalanche de recursos de investidores institucionais chegar junto com o
grau de investimento”, ressalta Baldin, que tem atendido, diariamente,
solicitações de bancos de investimentos estrangeiros, corretoras e até
instituições de varejo com apetite para se instalar no País. “Se
demorarem, esses bancos vão ganhar menos dinheiro e até correr o risco
de perder bons negócios.”
O BNY Mellon é um exemplo emblemático de como as operações
brasileiras têm ganhado importância dentro do conglomerado. Após dez
anos de Brasil, a líder mundial em serviços de administração e custódia de
ativos adquiriu, em novembro de 2007, a gestora carioca ARX Capital,
especializada em estratégias de multimercados, ações e long and short.
Com a compra, passou a ocupar o segundo lugar no ranking brasileiro de
gestão de recursos entre os bancos não varejistas. A meta é figurar na
primeira posição.
A própria visita do CEO Bob Kelly é prova de que o compromisso com o
mercado brasileiro só tende a aumentar. O executivo falou aos
funcionários e visitou os principais clientes no País. Em palestra interna,
expôs sobre a união entre BNY e Mellon (fusão ocorrida em julho do ano
passado) e sobre a aquisição da ARX Capital. Dentre os países
emergentes que formam o Bric, Kelly aposta suas fichas no Brasil,
mercado que, claramente, ganhou a preferência do grupo. “Com China e
Índia crescendo a taxas de dois dígitos, o Brasil estava meio que
adormecido entre os demais emergentes aos olhos do investidor
estrangeiro”, avalia Baldin, da PricewaterhouseCoopers. “Esses agentes
repararam, no entanto, que a expansão da nossa economia não é tão
alta como a dos asiáticos, mas é, em compensação, sustentável.”
A lista de motivos para o Brasil ter se tornado o alvo principal de players
internacionais é extensa. O boom do mercado de capitais é um
deles. “Com a fusão entre Bovespa e BM&F, teremos a terceira maior
bolsa do mundo”, lembra o consultor Alberto Borges Matias, da ABM
Consulting. O setor de commodities é também apontado como um
chamariz importante para os gringos. O indicador que mais chama a
atenção, porém, é o potencial explosivo de crédito. A relação crédito/PIB é
de 34% no Brasil, enquanto nos países desenvolvidos esse percentual é
superior a 100. “Estamos apenas começando”, afirma Matias.
Especializado na concessão de crédito corporativo, o banco ABC Brasil vale-
se do reforço de capital de R$ 600 milhões obtido com o recente IPO para
expandir ainda mais a sua carteira de financiamentos a empresas de
médio e grande porte. A instituição também aproveita para fazer sua
estréia no mercado de fusões e aquisições – iniciativa que recebeu o
devido respaldo do presidente do conselho, Anuar Mudhaf, que esteve
presente no País por quatro dias, no início de março, para a reunião
trimestral de conselho. “Existe uma forte interação com os controladores
do grupo, especialmente porque eles nos dão uma grande autonomia nas
tomadas de decisão”, afirma Anis Chacur Neto, vice-presidente do ABC
Brasil. “Essa é uma postura que nos confere agilidade e possibilita a
prática de taxas competitivas”, completa. O Banco ABC Brasil é controlado
pelo Arab Banking Corporation, com sede em Bahrain, um dos maiores
bancos do Oriente Médio e Norte da África.
A recém-criada área de M&A da instituição vai atender ao middle market
(empresas com faturamento anual superior a R$ 150 milhões),
aproveitando, assim, a sinergia existente com a carteira de clientes do
banco. “Os clientes já demandavam esse serviço”, conta Chacur Neto.
Trata-se, segundo ele, de um nicho pouco explorado no Brasil por bancos
médios. Desassistidas, essas empresas médias acabam recorrendo aos
serviços prestados por pequenos escritórios. “Trabalharemos tanto no buy-
side quanto no sell-side, com serviços de advisoring que vão desde a
identificação e estruturação do negócio até a concessão de funding”,
destaca Carlos Eduardo Lutfalla, responsável pela divisão de M&A do
banco.

Poupança – O Brasil é também tratado como prioridade na americana
Franklin Templeton. Desde o fim da parceria com o Bradesco, em 2006, a
asset parece que vem adotando uma estratégia de mercado mais
agressiva. Com US$ 250 milhões sob gestão em carteiras administradas,
acaba de abrir para captação o fundo de ações Franklin Brasil Masterfund.
Heitor de Souza Lima, presidente da asset no Brasil, diz que está de olho
na combinação de crescimento da poupança interna com a ainda baixa
penetração dos fundos de investimento. Apesar de minimizar a
importância da vinda de Greg Johnson, CEO mundial da asset, neste mês,
alegando que se trata de uma visita anual de rotina – “somos a mais
global das gestoras americanas”–, o executivo faz questão de frisar que a
operação local ganha cada vez mais importância dentro do
grupo. “Ficamos em 11º lugar no último trimestre de 2007 entre as
instituições puramente de gestão de recursos”, comemora
Lima. “Pagamos US$ 17 milhões de dividendos aos sócios.”
Na área de banco de investimentos o apetite por Brasil é tão grande
quanto na de gestão de investimentos. A recente visita ao País do
executivo-chefe do sul-africano Standard Bank, Jacko Maree, oferece uma
boa medida desse interesse. Maree adiantou que grande parte dos US$ 2
bilhões que a instituição recebeu de aporte do Industrial and Comercial
Bank of China (ICBC) será destinado para as operações domésticas, mas
sem revelar o montante. O objetivo é impulsionar as atividades de banco
de investimento, especialmente nas áreas de derivativos e financiamento,
além de operações de securitização no setor imobiliário. Focado na renda
fixa, Standard Bank avalia, até mesmo, uma possível participação no
mercado de ações e de fusões e aquisições. Mais um sinal de que o país
do carnaval está se transformando, aos olhos dos estrangeiros, em país
das oportunidades.