Edição 185
Queda da rentabilidade vai ampliar a adoção de perfis de investimento
pelas fundações, que ainda resistiam a transferir a escolha do risco para
os participantes
O cenário de juros decrescentes e a heterogeneidade dos participantes
dos fundos de pensão tendem a acelerar a implantação de planos CD
multiportfólios, com diferenciação das carteiras de acordo com o perfil de
risco dos participantes. Essa mudança está presente na pauta de
discussões do setor e diversas fundações, como Valia (Vale do Rio Doce),
Metrus (Metro de São Paulo) e Fasc (da Souza Cruz), já decidiram pela
implantação em 2008. “Há um interesse muito grande nesse tipo de
mudança, principalmente por causa da perspectiva de retornos menores
dos investimentos. Além disso, o amadurecimento da população vinculada
às entidades e a renovação dos quadros das patrocinadoras resultam em
diferenças relevantes entre os objetivos dos participantes, que precisam
ser contemplados nos investimentos”, afirma o consultor Lauro Araujo, da
Mercer.
Diante da nova conjuntura econômica as entidades têm introduzido
algumas inovações, como a possibilidade de livre escolha inclusive pelos
participantes que já estão perto da aposentadoria ou a adoção de
diferentes perfis entre ativos e assistidos.
A Fasc já marcou para 1º. de janeiro o início da implementação dos perfis
de investimento e estabeleceu o prazo de 30 de novembro para os
participantes fazerem suas opções, informa o diretor Paulo Ayres Filho. Os
dois primeiros perfis, agressivo e moderado, estabelecem os percentuais
de 30% e 15% para aplicação em renda variável, com variação de até 5
pontos percentuais para cima ou para baixo, enquanto o perfil
conservador aplica 100% em renda fixa. A fundação não restringe a
escolha dos participantes que estão perto de se aposentar. “Todos os
participantes podem optar por qualquer uma das categorias, sem
restrição”, destaca Paulo Ayres. Esse modelo segue a indicação de estudos
realizados pela Mercer para a implementação do multiportfólio.
Embora a prática do mercado até agora tenha sido mais cautelosa em
relação à escolha daqueles que estão prestes a se aposentar, com
imposição de perfil mais conservador, a Mercer reúne uma série de
argumentos favoráveis à livre escolha dos perfis por todos os
participantes. “O fundo de pensão é uma forma mais eficiente e barata do
participante acessar investimentos mais agressivos no Brasil. Além disso,
os investimentos feitos por meio das fundações são mais monitorados até
do que aplicações individuais, o que dá uma garantia a mais para aqueles
que, sem a opção pelos perfis mais agressivos, busca alternativas mais
custosas no mercado financeiro”, afirma o consultor Lauro Araujo. As
fundações, entretanto, têm receio de que os participantes não estejam
bem preparados para tomar a decisão, mesmo quando colocam as ações
de comunicação no centro da estratégia de mudança.
Na Valia, a definição dos perfis ainda está em estudo, de acordo com o
diretor-superintendente, Eustáquio Lott. Mas, a fundação já começou a
planejar as ações de comunicação aos participantes e as modificações
necessárias de sistema. “Faremos força para implantar os perfis de
investimento em 2008”, diz o executivo, destacando que a comunicação
com os participantes é muito importante não só no início desse
processo. “Na medida em que o participante vai tendo informações
permanentes sobre a evolução dos rendimentos em cada perfil, passa a
ter uma visão melhor do mercado e pode ter escolhas cada vez mais
consistentes”, comenta o dirigente da Valia.
Na Metrus, a adoção dos perfis iria ocorrer a partir de janeiro do ano que
vem, mas acabou prorrogada para junho em razão de problemas na
adaptação dos sistemas utilizados pela fundação, conta o diretor-
presidente, Fábio Mazzeo. As opções já definidas prevêem modalidades
de investimento diferenciadas entre os participantes ativos e assistidos.
Os perfis arrojado, moderado e conservador terão participação de 35%,
25% e 15% de renda variável, respectivamente. Mas, os participantes
ativos com mais de 55 anos têm que optar necessariamente pelos 15%
de renda variável ou então se enquadrar nos perfis dos assistidos. Neste
último segmento, todos os três perfis são chamados de conservador e as
aplicações em renda variável são de 15%, 10% e zero. “Quem não fizer
sua escolha, vai ser incluído na faixa conservadora de 15%, que é a
média dos últimos anos”, informa Mazzeo.
Multi-opções – Enquanto no Brasil ainda prevalece a linha clássica dos
perfis agressivo, moderado e conservador, em países como Estados
Unidos e Canadá as opções chegam a superar uma dezena, informa Lauro
Araújo, que trabalhou por dois anos no escritório da Mercer no Canadá.
Nesses países, assim como na Inglaterra e Alemanha, os participantes
também podem optar pelos chamados target date funds, que vão se
ajustando automaticamente ao longo dos anos de acordo com a
aproximação do participante ao momento da aposentadoria. “Quanto
mais o participante se aproxima da aposentadoria, menor deve ser o risco
da sua carteira de investimentos”, explica Araújo.
A diversificação das opções e a adoção mais ampla do multiportfólio pelos
fundos de pensão no Brasil, na opinião do consultor da Mercer, são
processos naturais diante do rumo da economia brasileira, que se
aproxima do investment grade. Desde que fundações como a PSS e a
Forluz, entre outras, implementaram há quase dez anos os perfis de
investimento em seus planos CD, o foco de preocupação dos executivos
que tomaram essa decisão mudou completamente. Como os
regulamentos de planos antigos não previam a opção do participante,
questões relacionadas à legalidade eram as mais freqüentes. “Hoje, pelo
contrário, o multiportfólio está se tornando uma garantia de que a
patrocinadora não venha a ser responsabilizada por baixo retorno”, afirma
o consultor da Mercer.
Nos meses de maior volatilidade no mercado financeiro, entre junho e
agosto, por exemplo, os resultados mensais de muitas fundações
apresentaram quedas substanciais. Na Funsejem, fundação do grupo
Votorantim com 24 mil participantes, apesar da queda brutal no resultado
de agosto para a carteira de gestão agressiva, foi na gestão conservadora
que o resultado ficou abaixo do CDI por mais tempo. “O grande problema
foi na carteira conservadora com a queda dos papéis pré-fixados,
provocada pela inversão da curva de juros”, afirma o diretor-
superintendente, Paulo Roberto Pisauro. Entre junho e agosto, o resultado
ficou em 99%, 87% e 80% do CDI, só recuperando-se em setembro,
quando atingiu 110%. Já a carteira agressiva, que despencou para uma
rentabilidade de apenas 18% do CDI em agosto, acabou fechando
setembro em 326% do benchmark. A partir daí, a fundação já havia fixado
metas mais altas para os gestores (leia mais no box abaixo).
Pioneiras também fazem mudanças
As fundações que têm perfis de investimento há mais tempo também se
mexem para apresentar níveis de rentabilidade satisfatórios para os
diferentes segmentos de participantes. A PSS, fundo de pensão da Philips
que foi pioneiro na adoção do multiportfólio, decidiu pelo pagamento da
taxa de performance para os gestores a partir de 2008. “Com isso,
esperamos incentivar mais a busca de melhor rentabilidade. Mas, não
vamos descuidar do monitoramento e controle dos riscos, que já é
bastante rigoroso”, afirma o diretor financeiro Luiz Augusto Bastos Silva.
De janeiro a setembro deste ano, apenas o ABN Amro, entre os cinco
gestores da carteira da fundação, conseguiu atingir os benchmarks
definidos pela entidade.
Na PSS, os percentuais de renda variável adotados nos três perfis estão
fixados em 20%, 35% e 50%, mais elevados do que a média praticada no
setor. Cerca de 50% dos participantes optam pelo perfil moderado e
apenas 10% pelo mais agressivo, informa o diretor financeiro. A
ampliação dos limites para as aplicações em renda variável é outra
alternativa. A Previcoke já definiu a criação de um quarto perfil – chamado
de “agressivo plus”. Segundo o diretor financeiro, Marcos Rubin, nessa
modalidade a faixa de investimento em renda variável será de
49%. “Nesse percentual, 40% é renda variável pura e 9%, multimercados
institucionais e agressivos”, afirma.
Em setembro, os gestores da Funsejem receberam uma nova sinalização
de benchmark. Na gestão agressiva, a meta passou de 120% para 135%
do CDI, enquanto na conservadora, de 102% para 105%, conta o diretor-
superintendente, Paulo Roberto Pisauro. A mudança, contudo, não deve
parar por aí. Nova reavaliação está em curso e poderá ser implementada a
partir de janeiro. “A tendência é que se busque também alguma
exposição em renda variável dentro da gestão conservadora, algo próximo
a 5% o que poderia permitir um target maior aí, talvez de 107%”,
comenta o executivo.
A fundação, que é patrocinada pelo grupo Votorantim e tem 24 mil
participantes, observa este ano um movimento de migração do perfil
moderado para o agressivo. Entre janeiro e setembro, o número de
participantes que optou pelo perfil agressivo passou de 5% do total para
7,6%, segundo o gerente de previdência privada, José Serafim de Freitas.
Ele credita esse aumento ao maior conhecimento do histórico da
rentabilidade. Participantes que hesitaram no início, acabaram fazendo a
opção este ano, estimulados pelas diferenças constantes (veja gráfico).
Com os três perfis mais comuns de investimento (agressivo, moderado e
conservador), a Funsejem divide a gestão dos recursos em apenas duas
modalidades, uma agressiva e outra conservadora. A parcela do
patrimônio dos participantes que optam pelo perfil moderado, por sua
vez, é dividida igualmente entre essas duas carteiras de investimento,
explica Pisauro. “É mais simples e dá um resultado equilibrado na
categoria de moderado”, diz.