Multimercados em alta

Edição 178

Categoria é a que mais cresce na pesquisa mensal feita pela Anbid, superando os fundos de renda fixa e incluvive os DI, que fecharam o mês de fevereiro com captação negativa

A progressiva queda das taxas de juros no Brasil e a perspectiva de continuidade desse cenário estão levando os investidores, incluindo os institucionais, a procurar alternativas mais rentáveis para suas carteiras.
Com isso, têm crescido as aplicações em fundos multimercado. Segundo dados da Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid), no ano passado, a captação líquida dessa modalidade atingiu R$ 53,8 bilhões, o melhor resultado em comparação aos demais fundos. No mês de fevereiro, os multimercados repetiram resultados já observados em outros meses e foram os que mais se destacaram, com captação de R$ 3,7 bilhões, superando a categoria de renda fixa (com R$ 3,2 bilhões) e deixando bem para trás os referenciados em DI (com captação negativa de R$ 2,7 bilhões).
“As alocações em fundos multimercados estão crescendo de forma mais acentuada desde o final de 2005. Em dezembro de 2005, eles representavam pouco menos de 18% da indústria de fundos. Em fevereiro de 2007 os multimercados já representavam 23% da indústria, de acordo com os dados divulgados pela Anbid. Essa evolução é conseqüência das sucessivas quedas na taxa Selic, fazendo com que o investidor busque retornos maiores migrando para produtos com maior exposição a risco”, afirma Marcelo Mello, vice-presidente da SulAmérica Investimentos.
De acordo com Mello, no início de 2006 a categoria de renda fixa representava 40,55%, a categoria referenciado DI estava com 21% e a categoria multimercado representava 18%. Em fevereiro deste ano, a categoria renda fixa já havia caído para 35%, enquanto os referenciados DI recuaram para 18% e os multimercados subiram para 23% da indústria. “Essa maior alocação em fundos multimercados acontece pela melhoria dos fundamentos econômicos locais, permitindo novas quedas da taxa Selic. A ausência de crises estruturais na economia mundial também é um fator de influência”, afirma Mello.
O executivo ressalta que o investidor institucional também está aumentando sua alocação em fundos multimercados para que esses produtos possam auxiliá-lo na superação de suas metas atuariais. “Só para exemplificar, mais de 35% dos nossos clientes institucionais já migraram parte de seus recursos de fundos de renda fixa para fundos multimercados exclusivos ou mútuos. Há um ano, esse número era de apenas 10%”, comenta ele, acrescentando que os tipos de fundos multimercados que mais crescem são aqueles que seguem a Regulamentação 3.121, que estabelece normas de alocação de recursos das entidades. “São fundos multimercados com renda variável e sem alavancagem (menos agressivos), que podem aplicar no mercado de ações, de juros, de inflação, de câmbio”, explica ele.
Para atender à demanda, a SulAmérica Investimentos tem lançado vários produtos no segmento multimercado, entre eles o Fundo Sul América Multimercado Institucional FI. O produto é especialmente destinado aos fundos de pensão, ou seja, sua política segue as premissas da Resolução 3121. “O fundo pode investir em ações, juros, câmbio, dólar e inflação.
Seu objetivo de rentabilidade é de 108% do CDI”, explica o executivo.
Para este ano, Mello prevê um cenário semelhante ao do ano passado: “A economia deve crescer em torno de 3,5%, a inflação pode ficar ao redor de 4% e taxa de juros, chegar a 11,75% no final de 2007. No âmbito internacional, vemos a economia mundial crescendo de forma mais moderada e homogênea, privilegiando a alocação de recursos em países que apresentam bons fundamentos macroeconômicos como o Brasil”, afirma.
Outra instituição que tem observado o aumento das alocações em fundos multimercado é a Unibanco Asset Management (UAM). Segundo Marcus Alexandre Moraes, superintendente de distribuição institucional e corporate do banco, a demanda dos clientes institucionais por esse tipo de produto vem crescendo há cerca de dois anos. “Iniciou de forma tímida, mas tem se tornado mais consistente com o passar do tempo e conforme a taxa de juros cai”, explica ele. “Nosso fundo condominial multimercado com renda variável destinado ao segmento institucional tem cerca de R$ 100 milhões de patrimônio. Também temos fundos exclusivos que somam mais R$ 120 milhões de patrimônio. Observe que estou falando de multimercado com renda variável, cuja demanda vem crescendo recentemente. Além desses produtos, temos também multimercado sem renda variável, cujo patrimônio supera R$ 1 bilhão (também voltado para institucionais)”, afirma Moraes.
Ele acrescenta que, por ser um produto relativamente novo, os fundos de pensão preferem modalidades menos agressivas. “Os fundos que buscam entre 110% e 120% do CDI são os preferidos. Acho que isto faz todo sentido: é melhor começar por produtos menos agressivos e, com o tempo e o maior conhecimento deste tipo de produto, partir para alternativas ainda mais arrojadas. Não devemos esquecer que buscar 110% a 120% do CDI já é bastante arrojado. Para buscar este retorno em fundos que seguem a Resolução 3121 é necessário ter alocação, ainda que não tão alta, em renda variável”, explica o superintendente da UAM.
Segundo Moraes, a instituição oferece já há dois anos um fundo multimercado com renda variável destinado ao segmento institucional e que, portanto, segue a Resolução 3121. “Já há alguns anos que estamos preparando nossa estrutura – pessoas, análise e gestão de risco, processos – para atuar num ambiente de taxa de juros mais baixas.
Quando notamos o inicio da demanda dos fundos de pensão por este tipo de produto, lançamos imediatamente uma opção nesse segmento.
Quanto a lançar novas modalidades, estamos no aguardo das prováveis alterações na Resolução 3121, que devem permitir que os fundos multimercados realizem operações que atualmente não são permitidas como, por exemplo, operações de arbitragem”, diz Moraes.
De acordo com o executivo, além dos fundos multimercados, outras opções de investimento que têm ganhado espaço são os fundos de renda variável, especialmente fundos diferenciados como os de Small Caps. “O raciocínio feito para os multimercados também vale aqui. Em busca de maior retorno e com as boas perspectivas da economia brasileira, os fundos de pensão estão abrindo mais espaço para alocação em renda variável. No entanto, parte dos novos recursos está indo para fundos que não os tradicionais IBX e Ibovespa. E os melhores gestores têm de responder a esta nova realidade à altura, lançando produtos diferenciados – como de Small Caps, setoriais, de dividendos – que agreguem capacidade de análise setorial e de empresas, especialmente de IPOs (cada vez mais importantes no mercado acionário brasileiro) e que, naturalmente, ofereçam retorno também diferenciado”, diz Moraes.
Segundo ele, o fundo de Small Caps da UAM para o segmento institucional está com patrimônio superior a R$ 50 milhões e rendeu no ano passado 52%, contra 36% do IBX.

O fundo de pensão Fibra – Fundação Itaipu é um dos investidores institucionais que vem aumentando sua posição em fundos multimercados. Sílvio Renato Rangel Silveira, diretor superintendente, afirma que a instituição busca alternativas de investimentos para o cenário de queda de juros, que possam agregar mais valor à rentabilidade, dentro de níveis de risco aceitáveis. “Em sintonia com este objetivo, temos aumentado nossa posição em fundos multimercados e efetuado aportes em outras modalidades, como fundos Mezanino e Fundos de Investimentos em Participações.
Em dezembro de 2005, a Fibra mantinha 7,30% alocado em fundos multimercados, e em dezembro do ano passado este aporte subiu ligeiramente, para 8,58% da carteira de investimentos”, comenta ele, acrescentando que a Fibra tem optado por fundos multimercados com participação em ações, em linha com a Resolução nº 3121 e, conseqüentemente, não agressivos. “A seleção dos fundos se dá por meio de análises quantitativa e qualitativa, com apoio de software especializado”, afirma. Segundo Silveira, a Fibra já possui mais de R$ 100 milhões alocados em fundos multimercado e em 2006 a rentabilidade deste segmento foi superior a 115% do CDI.
Também a Sabesprev, fundo de pensão da Sabesp, elevou a aplicação em multimercados (realizada desde setembro de 2005), de 4,4% da carteira para 8,3%. “A alocação maior em multimercados se deve ao fechamento dos prêmios de risco das estratégias tradicionais , tais como em Taxas Pré, inflação (IGP-M, INPC), etc, decorrentes da maior estabilidade macroeconômica” afirma José Sylvio Xavier, diretor presidente da entidade. Segundo ele, os resultados em multimercados foram 6% superiores aos das alocações tradicionais em Renda Fixa, excluídas as aplicações em inflação. “Se considerarmos as aplicações em inflação (IPG- M, IPCA) os resultados foram maiores em cerca de 20%”, explica, ressaltando que outra modalidade de investimento em que o fundo de pensão está investindo é em fundos de créditos.
Para o consultor especialista em fundos, Everaldo França, porém, é preciso ter cuidado com os números que apontam para o crescimento das aplicações em multimercados. “Acho bom destacar um problema estatístico que está ocorrendo: muitos gestores, ao constituírem fundos exclusivos de renda fixa tradicional, seja qual for a magnitude do orçamento de risco, os têm cadastrado na Anbid como fundos Multimercados Com Renda Variável (às vezes Com Alavancagem). Eles têm benchmark CDI, e usam taxas pré, NTN-Bs (IPC-A), NTN-Cs (IGP-M), talvez alguma coisa em taxa de câmbio mas nem sempre, e nem sequer usam ações, porque não são obrigados a ter ações na carteira, apesar do nome. Já que a característica é ter liberdade de comprar o que acharem oportuno, os gestores desses fundos não são obrigados a concretizar o investimento em ações. São realmente fundos de renda fixa, mas classificados de maneira diferente”, afirma França.
Ele acrescenta que os gestores procedem dessa maneira alegando que se, no futuro, se o cliente mudar de idéia e quiser tornar o fundo mais agressivo, a classificação já é adequada para suportar o novo mandato. “Embora não haja estatísticas, sabemos que há um grande número de fundos com essas características, o que tem força para distorcer as estatísticas”, explica ele. Segundo França, os fundos realmente multimercados estão crescendo sim, mas de forma lenta. “Muitos fundos de pensão têm uma inércia grande na avaliação daquilo que, para eles, não é tradicional. Por isso, é necessário um tempo para discussão, conhecimento e absorção de novos conceitos. Imagino que esse processo em grande parte tenha começado em 2006 e comece a maturar em 2007, mais precisamente nas Políticas de Investimento para 2008”, opina França.